terça-feira, 31 de julho de 2012

Para quem ri em enterros

Você olha para os lados, respira fundo, tenta se distrair com alguma coisa, pensa em algo muito, muito triste (tipo a pessoa que acabou de morrer). E do nada, alguém te encara e você começa a gargalhar no meio dos parentes do falecido. Mas não é de sacanagem! Muito menos culpa sua! Cientistas descobriram que algumas pessoas apenas têm versões diferentes de um gene que faz com as respostas a uma situação de estresse e ansiedade sejam diferentes. O gene do riso afeta um processo químico que está ligado diretamente à ansiedade. Sinais enviados para o cérebro que controlam certas emoções, como medo e tristeza, ficam enfraquecidos. Ou seja, não é que você não tem medo, ou não está triste e emocionado. Você é um descontrolado mesmo e não adianta lutar contra. O estudo, publicado no Jornal Científico Behavioural Neuroscience, também descobriu que quem não tem esse gene consegue ficar menos estressado e tem menos problemas de pressão.

AMOR

Carlos Drummond de Andrade



Quando encontrar alguém e esse alguém fizer seu coração para de funcionar por alguns segundos, preste atenção. Pode ser a pessoa mais importante da sua vida.
Se os olhares se cruzarem e neste momento houver o mesmo brilho intenso entre eles, fique alerta: pode ser a pessoa que você está esperando desde o dia em que nasceu.
Se o toque dos lábios for intenso, se o beijo for apaixonante e os olhos encherem d'água neste momento, perceba: existe algo mágico entre vocês.
Se o primeiro e o último pensamento do dia for essa pessoa, se a vontade de ficar juntos chegar a apertar o coração, agradeça: Deus te mandou um presente divino: o amor.
Se um dia tiver que pedir perdão um ao outro por algum motivo e em troca receber um abraço, um sorriso, um afago nos cabelos e os gestos valerem mais que mil palavras, entregue-se: vocês foram feitos um pro outro. Se por algum motivo você estiver triste, se a vida te deu uma rasteira e a outra pessoa sofrer o seu sofrimento, chorar as suas lágrimas e enxugá-las com ternura, que coisa maravilhosa: você poderá contar com ela em qualquer momento de sua vida.
Se você conseguir em pensamento sentir o cheiro da pessoa como se ela estivesse ali do seu lado... se você achar a pessoa maravilhosamente linda, mesmo ela estando de pijamas velhos, chinelos de dedo e cabelos emaranhados...
Se você não consegue trabalhar direito o dia todo, ansioso pelo encontro que está marcado para a noite... se você não consegue imaginar, de maneira nenhuma, um futuro sem a pessoa ao seu lado...
Se você tiver a certeza que vai ver a pessoa envelhecendo e, mesmo assim, tiver a convicção que vai continuar sendo louco por ela... se você preferir morrer antes de ver a outra partindo: é o amor que chegou na sua vida. É uma dádiva.
Muitas pessoas apaixonam-se muitas vezes na vida, mas poucas amam ou encontram um amor verdadeiro. Ou às vezes encontram e por não prestarem atenção nesses sinais, deixam o amor passar, sem deixá-lo acontecer verdadeiramente.
É o livre-arbítrio. Por isso preste atenção nos sinais, não deixe que as loucuras do dia a dia o deixem cego para a melhor coisa da vida: o amor.

A menina que brincava com fogo

O segundo volume da trilogia Millennium tem como fio condutor a personalidade complexa e os segredos ocultos de Lisbeth Salander, a jovem e destemida hacker que agora é acusada de três assassinatos brutais.

“Não há inocentes. Apenas diferentes graus de responsabilidade”, raciocina Lisbeth Salander, protagonista de A menina que brincava com fogo, de Stieg Larsson. O autor — um jornalista sueco especializado em desmascarar organizações de extrema direita em seu país — morreu sem presenciar o sucesso de sua premiada saga policial, que já vendeu mais de 10 milhões de exemplares no mundo.Nada é o que parece ser nas histórias de Larsson. A própria Lisbeth parece uma garota frágil, mas é uma mulher determinada, ardilosa, perita tanto nas artimanhas da ciberpirataria quanto nas táticas do pugilismo, e sabe atacar com precisão quando se vê acuada. Mikael Blomkvist pode parecer apenas um jornalista em busca de um furo, mas no fundo é um investigador obstinado em desenterrar os crimes obscuros da sociedade sueca, sejam os cometidos por repórteres sensacionalistas, sejam os praticados por magistrados corruptos ou ainda aqueles perpetrados por lobos em pele de cordeiro. Um destes, o tutor de Lisbeth, foi morto a tiros. Na mesma noite, contudo, dois cordeiros também foram assassinados: um jornalista e uma criminologista que estavam prestes a denunciar uma rede de tráfico de mulheres. A arma usada nos crimes — um Colt 45 Magnum — não só foi a mesma como nela foram encontradas as impressões digitais de Lisbeth. Procurada por triplo homicídio, a moça desaparece. Mikael sabe que ela está apenas esperando o momento certo para provar que não é culpada e fazer justiça a seu modo. Mas ele também sabe que precisa encontrá-la o mais rápido possível, pois mesmo uma jovem tão talentosa pode deparar-se com inimigos muito mais formidáveis — e que, se a polícia ou os bandidos a acharem primeiro, o resultado pode ser funesto, para ambos os lados.A menina que brincava com fogo segue as regras clássicas dos melhores thrillers, aplicando-as a elementos contemporâneos, como as novas tecnologias e os ícones da cultura pop. O resultado é um romance ao mesmo tempo movimentado e sangrento, intrigante e impossível de ser deixado de lado.

Porque as mulheres são atraídas por homens 'difíceis'?

Revista Galileu


Sabe quando o homem dá aquela esnobada na mulher e mesmo assim ela fica ainda com mais vontade de ficar com ele? Isso tem uma explicação, segundo um estudo feito em conjunto na Universidade da Virgínia e em Harvard, nos Estados Unidos.
De acordo com o estudo, ser correspondido imediatamente na paquera pode causar menos atração do que não ter certeza se a paquera vai ou não dar certo. Segundo os autores da pesquisa, “quando as pessoas estão certas de que algo positivo ocorreu, eles começam a se adaptar a ela”. Essa adaptação torna tudo menos emocionante. Em contrapartida, “quando as pessoas estão inseguras sobre alguma coisa importante, elas dificilmente conseguem pensar em outra coisa”.
Os psicólogos Erin Whitchurch, Timothy Wilson e Daniel Gilber, responsáveis pela pesquisa, quiseram analisar como essa “teoria da incerteza” funciona na atração entre as pessoas. Eles recrutaram 47 alunas da Universidade da Virgínia e contaram que elas participariam de um experimento para saber se o Facebook é útil como um site de encontros amorosos. Os pesquisadores também disseram que vários alunos do sexo masculino da Universidade de Michigan tinham visto seus perfis – o que era uma mentira. Os alunos do sexo masculino eram fictícios.
As alunas foram divididas em três grupos e cada aluna iria ver o perfil de quatro rapazes fictícios. Para o primeiro grupo, os pesquisadores falaram que os 4 rapazes analisados gostaram do perfil das estudantes. No segundo grupo, as alunas foram informadas que os quatro homens deram avaliações medianas e não se sentiram atraídos pelas mulheres. No terceiro grupo, o grupo da incerteza, os psicólogos falaram que os quatro homens poderiam ser aqueles que mais gostaram das mulheres ou aqueles que não se sentiram atraídos por elas.
Todas as participantes deveriam avaliar os homens de acordo com o quanto se sentiam atraídas por eles. Os resultados mostraram que as mulheres do grupo 2 tiveram menos desejo pelos homens do que as mulheres do grupo 1, que viram o perfil dos homens que supostamente estavam atraídos por elas. Mas as mulheres do grupo 3, que não sabiam se os homens estavam ou não atraídos por elas, relataram uma atração muito maior pelos homens do que as mulheres do grupo 1. Segundo os autores, “as mulheres ficaram mais atraídas pelos homens quando havia apenas 50% de chances de eles terem gostado delas”. A pesquisa foi publicada na revista científica Psychological Science.
Resumindo, de acordo com a pesquisa, homens “difíceis” e que não entregam logo de cara que estão atraídos na paquera podem ser aqueles que mais despertam a atração feminina.

A Justiça é amiga dos gays

Não se deixe enganar por discursos homofóbicos como os do deputado Jair Bolsonaro: os gays estão revidando. E o palco de combate escolhido são os tribunais de todo o país.


Vanessa Vieira Ilustração: Aluísio Cervelle
Superinteressante

Virou mania nacional: bater no deputado carioca Jair Bolsonaro se tornou atividade favorita de 10 entre 10 defensores da igualdade e da tolerância. Pudera. Em entrevistas, Bolsonaro soltou uma avalanche de disparates: “Eu sou contra a adoção por casais homossexuais. Se um de nós for criado por um homossexual, com certeza vai ser um homossexual”. E logo depois comparou gays com ladrões: “É o fim da família, o fim do respeito. Vocês também não iam gostar de ter um filho ladrão. Fere os princípios éticos e morais”.

O preconceito contra gays não é novidade – mas parece estar piorando. Em abril, um estádio de vôlei inteiro vaiou e xingou de “bicha” e “viado” o jogador Michael dos Santos, do time Vôlei Futuro, que é gay assumido. Uma pesquisa feita pelo Grupo Gay da Bahia concluiu que o assassinato de homossexuais no Brasil subiu 31% no último ano e chegou a 260 casos. E outra, da Fundação Perseu Abramo, mostra que 64% das pessoas acreditam que casais de gays e lésbicas não deveriam andar abraçados ou se beijar em locais públicos e que apenas 24% pensam que os governos deveriam ter a obrigação de combater a discriminação de homossexuais. Para 70% “isso é um problema que as pessoas têm de resolver entre elas”.

Mas não é isso que pensam os gays – para eles, a discriminação é um problema que tem de ser resolvido na Justiça. E é lá que eles estão conquistando seu espaço. Veja o caso do bancário aposentado José Américo Grippi. Em fevereiro deste ano, aos 66 anos, ele se tornou o primeiro homossexual a conquistar na Justiça Federal o direito de receber pensão militar. Grippi viveu por 35 anos com o capitão Darci Teixeira Dutra, morto em 1999, e brigou pelo direito ao benefício, inicialmente negado pelo Exército. “Nosso amor não era banal, era sincero”, declarou Grippi - e, assim como em qualquer casal hétero, recebeu seus direitos de viúvo. No ano passado, o Superior Tribunal de Justiça concedeu a guarda de duas crianças a um casal de lésbicas de Bagé. Os filhos haviam sido adotados por Luciana Maidana e eram criados desde 1998 com a ajuda da companheira dela, Lídia Guteres. Com a decisão, se uma das duas morrer, a outra ficará com as crianças, que de outra forma seriam consideradas órfãs. E não para por aí: nos últimos anos, decisões da Justiça permitiram que gays exercessem o direito de incluir o companheiro no plano de saúde, de ganhar pensão por morte e de declarar o imposto de renda em conjunto.


Essas vitórias no Judiciário estão cumprindo o papel que as leis não cumprem: tratar homossexuais e heterossexuais da mesma maneira. Afinal, é muito mais fácil fazer um juiz decidir a favor dos gays do que a maioria do Congresso aprovar uma mudança na lei. Hoje em dia a Constituição determina que o casamento civil aconteça apenas entre homem e mulher. Mas, segundo a Comissão da Diversidade da Ordem dos Advogados do Brasil, tribunais de todo o país já reconheceram em pelo menos 1 026 processos a união entre pessoas do mesmo sexo. Em muitos desses casos, ficou entendido que houve união estável do casal e que, já que todos são iguais perante a lei, não haveria por que tratar os gays de forma diferente. Assim, pelas beiradas, homossexuais estão garantindo o direito de ser tratados igualmente. Mais importante do que isso: essas decisões favoráveis abrem jurisprudência, ou seja, acabam servindo de referência para outros juízes ao julgar casos semelhantes. E vem mais por aí. Ainda neste semestre os 11 ministros do Supremo Tribunal Federal devem decidir sobre a constitucionalidade da união homossexual no Brasil. Três deles já se manifestaram publicamente a favor da questão. Se ficar decidido que a união gay é constitucional, isso pode ter influência em decisões sobre questões de herança, de seguros e de paternidade – quase todas as áreas da vida.
Mas isso não significa que a questão ficará resolvida. Por mais importante que seja a vitória no STF, ela só serviria de referência para juízes de instâncias inferiores. Para que gays sejam realmente tratados como iguais, só mesmo com uma mudança na lei. Segundo a especialista em direito homoafetivo Maria Berenice Dias, atualmente há 108 direitos não assegurados aos homossexuais. Caso o casamento entre parceiros do mesmo sexo fosse aprovado no Congresso, todos esses direitos seriam reconhecidos automaticamente. Se isso acontecesse, pessoas como Bolsonaro se tornariam figuras do passado – coisa que, do ponto de vista da Justiça, elas já são.

Menina de oito anos dá início a campanha global de combate à falta de água no mundo

Débora Spitzcovsky
Superinteressante

Você já ouviu falar na pequena Rachel Beckwith? Em seu aniversário de nove anos, a menina surpreendeu muitos adultos ao pedir de presente doações para a ONG internacional charity: water*, ao invés de brinquedos. Rachel criou um perfil na página da organização em que contava que descobriu que milhões de pessoas não vivem até o quinto aniversário por falta de água limpa e pediu aos seus familiares e conhecidos que a ajudassem a juntar US$ 300 para lutar contra essa realidade.
Infelizmente, por conta de um acidente de trânsito, Rachel morreu antes de completar os tão esperados nove anos, mas sua causa continua viva até hoje. Ao invés de US$ 300, a campanha da menina arrecadou mais de US$ 1 milhão (também por conta da repercussão que sua morte teve em todo o mundo) e desde julho, quando Rachel faleceu, a mãe da menina, Samantha Paul, promoveu outras ações de arrecadação, nos mesmos moldes, para a charity: water.
A mais recente delas, batizada de Rachel’s Birthday Wish for Sienna (O Desejo de Aniversário de Rachel para Sienna, em português), é inspirada na irmã mais nova da menina, Sienna, que completa três anos em 22/08. De acordo com Samantha, Rachel era muito apegada a bebê e iria desejar que as pessoas de todo o mundo a ajudassem a arrecadar US$ 90 mil para contribuir com as famílias que vivem no Camboja, na Ásia, sem acesso à água potável.
Que tal ajudar a celebrar o aniversário de três anos de Sienna de forma cidadã? A campanha está aberta a doações, aqui. Por enquanto, Sienna já ganhou mais de US$ 19 mil de aniversário – que, na verdade, serão um presente e tanto para os habitantes do Camboja. Será que a menina vai conseguir juntar os US$ 90 mil que deseja?

ONG charity: water

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Banco Comunitário União Sampaio: moeda paralela fortalece comunidade de SP


Marina Franco
Superinteressante

Inspirada no conceito de microcrédito, criado pelo indiano Muhammad Yunus – que, por isso, ganhou o Nobel da Paz em 2006 -, a comunidade Jardim Maria Sampaio, no Campo Limpo, zona sul de São Paulo, criou há três anos o Banco Comunitário União Sampaio*. A ideia é simples e revolucionária: os moradores de baixa renda, que não têm acesso aos financiamentos de bancos tradicionais, podem pegar empréstimos sem juros.
O empréstimo é feito em uma moeda local – chamada Sampaio e que equivale ao Real –, aceita em diversos estabelecimentos do bairro, como mercado, açougue, cabelereiro, drogaria e floricultura. Assim, o dinheiro circula na própria comunidade, aquece a economia local, a faz crescer e acaba fomentando novos empreendedores na região.
Os serviços do Banco Comunitário União Sampaio já beneficiaram, diretamente, 1200 moradores da comunidade. E a demanda está crescendo. Tanto que, agora, o Banco espera conseguir financiamento coletivo para fortalecer suas ações e atender mais pessoas. Qualquer um pode contribuir para o projeto postado no Catarse!
Para saber mais sobre o assunto, leia as matérias Thiago Vinícius: um banqueiro no gueto e O poder do microcrédito, publicadas no site do Planeta sustentável.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Como melhorar sua vida com o sexo

Todos nós estamos sujeitos a enfrentar problemas sexuais. A boa notícia é que a maioria dos casos já pode ser tratada com eficácia.

Adaptação Maurício Oliveira
Superinteressante

Quem sente dores no estômago costuma correr para o médico, mas quem enfrenta dificuldades sexuais raramente age com a mesma urgência em busca de ajuda. Ao fazer a visita periódica ao ginecologista, boa parte das mulheres esquece de comentar que a vagina não está se lubrificando adequadamente na fase de excitação e que os orgasmos estão cada vez mais raros. Da mesma forma, homens com dificuldade de ereção ou com ejaculação precoce demoram muito para enfrentar o problema. “Grande parte deles espera entre três e cinco anos para consultar um urologista, tempo mais que suficiente para que um relacionamento acabe”, diz o terapeuta sexual Celso Marzano, de São Paulo.
Ainda que o conhecimento geral sobre sexo tenha aumentado nas últimas décadas – especialmente entre os jovens, que passaram a ter acesso a um grande volume de informações na escola, pela TV ou via internet –, o tema continua sendo tabu para muita gente, uma herança de décadas de repressão e preconceito. A dimensão real do erotismo humano foi tão menosprezada ao longo da história que o sexo passou a ser tratado como algo doentio, quando é exatamente o oposto: é uma fonte de prazer e de saúde. Estudos científicos já identificaram vários benefícios para quem pratica o sexo regularmente:


Melhora da atividade cardíaca
Acredita-se que os hormônios liberados durante o ato sexual, como a testosterona, ajudem a proteger o coração.


Aumento da resistência à dor
Durante o clímax feminino são ativados os centros analgésicos do cérebro médio, que ordenam a liberação corporal de endorfinas e corticóides, capazes de atenuar dores de cabeça e na coluna ou as provocadas por artrite.


Fortalecimento do sistema imunológico
A atividade sexual regular contribui para a produção de certos anticorpos e imunoglobinas que ajudam a combater as infecções.


Efeito antidepressivo
Pessoas satisfeitas com a vida sexual são menos vulneráveis a sofrer depressão, tanto por razões psicológicas quanto químicas.


Perda de peso
O ato sexual é um exercício anaeróbio que consome 200 calorias, a mesma quantidade que se queima em meia hora de academia.
Por mais que o sexo contribua para aumentar a expectativa de vida, a maior parte das pessoas nunca associou sua prática à manutenção da saúde, como se faz em relação aos exercícios em academia ou aos cuidados com a alimentação e o sono. Hoje já é consenso, no entanto, que sexo e qualidade de vida andam juntos, tanto que a divisão de saúde mental da Organização Mundial de Saúde (OMS) passou a considerar o exercício da sexualidade como um parâmetro para medir a qualidade de vida.
Apesar de todas as possíveis causas psicológicas para os problemas sexuais – que incluem depressão, estresse, experiências anteriores frustrantes e excesso de pressão no trabalho –, os especialistas estão cada vez mais atentos ao fato de que razões físicas também são freqüentemente responsáveis pela queda de desempenho entre as quatro paredes. As alterações percebidas podem ser indícios de problemas de saúde, como complicações cardiovasculares e disfunções no sistema nervoso, endócrino ou circulatório, além de infecções genitais, intervenções cirúrgicas e defeitos congênitos do aparelho reprodutor. Há, por exemplo, a relação comprovada entre disfunção erétil e algumas doenças: 46% dos diabéticos e 33% dos hipertensos têm dificuldade para manter a ereção.
Entre os motivos que fazem com que os males do amor não cheguem aos consultórios dos especialistas com a freqüência necessária se incluem medo, pudor, vergonha e desinformação. Uma pesquisa do Projeto Sexualidade, da Universidade de São Paulo (USP), revelou que apenas 5% das mulheres e 7% dos homens com dificuldades sexuais fazem tratamento. Ela mostrou também que o maior receio dos brasileiros em relação a sexo é não satisfazer o parceiro – alternativa apontada por 56% dos homens e 45% das mulheres, um índice superior ao medo de adquirir doenças sexualmente transmissíveis. “As pessoas ficam tão preocupadas em ter um bom desempenho sexual que acabam deixando o próprio prazer de lado”, diz a coordenadora da pesquisa, a psiquiatra Carmita Abdo.
Os homens parecem ser mais suscetíveis a essa preocupação: 37% deles têm medo da ejaculação precoce, mas só 19% das mulheres citaram o temor de que isso ocorra durante a relação; e 31% dos homens assinalaram a perda de ereção, um item apontado por apenas 4% das mulheres (leia mais na pág. 64). Nos consultórios, muitos homens dizem se sentir pressionados pela postura cada vez mais crítica das mulheres quando o assunto é sexo. “A superficialidade das relações é um fator que tem atrapalhado a performance sexual”, diz Marzano. “Está faltando o jogo da sedução que prepara para o ato sexual. É preciso sentir o desejo fluir pelo corpo, obter uma excitação que não fique restrita à área genital.”


Os mecanismos do desejo
Tanto no homem quanto na mulher, o desejo é instigado por estímulos no cérebro que podem ser acionados por diferentes gatilhos, desde os mais sutis, como pensamentos e carícias, até os mais explícitos, como um vídeo pornô. Esses estímulos agem em uma região do cérebro chamada diencéfalo, que, ao mesmo tempo em que inicia o processo de interesse e excitação por intermédio do hipotálamo, convoca o sistema límbico para inibir os impulsos sexuais quando não forem convenientes.
Esses mecanismos são, no entanto, apenas a parcela animal e instintiva da sexualidade humana. Quando os estímulos gerados no circuito neurológico arcaico passam ao córtex cerebral, são influenciados por emoções, fantasias, desejos, ritos, medos, censuras, tabus, costumes e condutas aprendidas e impostas ao longo da vida. Os sinais voluptuosos gerados no cérebro viajam então pela medula espinhal para orquestrar uma verdadeira sinfonia erótica. Os hormônios sexuais e um conjunto de neurotransmissores libidinosos acompanham os estímulos elétricos que estão na origem da atração erótica.
Não há dúvida de que o sexo muitas vezes é bloqueado diretamente na fonte – ou seja, no cérebro. Determinadas situações relacionadas a experiências do passado podem se integrar à personalidade do indivíduo e influenciar, a médio e longo prazo, a deterioração de sua vida amorosa. Muitos dos problemas do gênero decorrem da falta de educação sexual, tanto dentro de casa como nas escolas, uma situação que contribuiu e ainda contribui para a difusão de mitos perniciosos, como o de que a masturbação é prejudicial (provoca espinhas, emagrece ou até enlouquece), que o tamanho do pênis é decisivo para o grau de prazer na relação, que a mulher nunca deve tomar a iniciativa na paquera e que os homens são infiéis por natureza.


E o viagra feminino?
Durante a excitação sexual, a força com que o sangue entra nos “corpos cavernosos” do clitóris e do pênis é regulada por uma seqüência química da qual participam duas enzimas: a óxido nítrico síntase, que produz o neurotransmissor óxido nítrico, e a adenilato ciclase, que faz o mesmo com a guanosina monofostato cíclica, ou GMPc. No homem, cabe ao neurotransmissor óxido nítrico, ajudado pelo GMPc, incitar e manter o mecanismo vascular responsável pela rigidez do pênis. Essa molécula é degradada por uma enzima chamada fosfodiesterase do tipo V (conhecida pela sigla PDE 5), responsável pela perda da ereção. O conhecimento desse processo permitiu o desenvolvimento da última geração de medicamentos contra a disfunção erétil masculina, como o sildenafil (Viagra), o tadalafil (Cialis) e o vardenafil (Levitra). Todos inibem a ação da PDE5. Os experimentos, contudo, têm demonstrado que esses medicamentos não funcionam nas mulheres. Há quem já tenha lançado a suspeita de que atacar primeiramente o problema masculino foi uma decisão premeditada da indústria farmacêutica, à qual não interessaria resolver o problema dos dois gêneros ao mesmo tempo. Dessa forma teria a oportunidade de repetir, com as mulheres, os resultados obtidos com a comercialização dos medicamentos contra a impotência masculina.
Ao mesmo tempo que se fala de um cenário em que metade das mulheres enfrentaria disfunções sexuais, uma linha de pesquisadores afirma que os altos e baixos do apetite sexual feminino são normais. “A inibição do desejo sexual em muitas situações é uma resposta funcional de mulheres que sofrem de estresse ou de cansaço”, diz John Bancroff, diretor do Instituto Kinsey, da Universidade de Indiana, EUA. “Seria preciso combater em primeiro lugar esses fatores.” Uma equipe de psiquiatras do Royal Free Hospital School of Medicine publicou, em 1997, um estudo que levou à conclusão de que apenas 2% das mulheres sofriam realmente de disfunções sexuais.
Independentemente de as disfunções terem origem orgânica ou psicológica, os especialistas afirmam que 95% dos casos femininos já podem ser tratados com eficácia. Entre os homens, essa taxa beira os 100%. Não há razão, portanto, para passar longe dos consultórios dos especialistas.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Utilidade Pública: Como gelar cerveja em 3 minutos


Revista Galileu

A festa começou, as pessoas não param de chegar e, naquele abre e fecha da geladeira, todas as bebidas ainda estão quentes. Você não precisa mais do que ciência e 3 minutos para resolver o problema. Anote aí!

O sal se dissolve facilmente na água e reduz seu ponto de congelamento. Pura, a água congela a cerca de 0 ºC. Já a água com sal precisa de uma temperatura menor, que pode chegar a dezenas de graus abaixo de zero. Quando o sal é colocado no gelo, parte dos cubos derretem, “roubando” calor durante a troca de estado físico e esfriando a mistura como um todo. Além disso, o sal dissolvido provoca uma reação endotérmica, ou seja, reduz mais a temperatura da mistura. O álcool tem um papel semelhante: derrete o gelo “roubando” calor e diminui ainda mais o ponto de congelamento. É usado porque quando a temperatura ficar abaixo de -9 ºC, o sal perde um pouco do efeito, mas o álcool não.

 Alerta Galileu: De olho no relógio: o alumínio é bom condutor de calor, e 3 minutos são suficientes para que as latinhas mergulhadas encontrem o equilíbrio térmico. Como a temperatura fica abaixo de zero, após alguns minutos, a bebida vai estar tão gelada que não vai dar para sentir o gosto e periga congelar.

Tanishq Abraham, o cientista de 9 anos de idade


Revista Galileu

Ele já foi palestrante da Nasa, publicou artigos científicos e participou de importantes descobertas recentes da astronomia. Em entrevista à Galileu, ele diz o que ainda pode ser quando crescer.

Tanishq Abraham tem 9 anos de idade. Ele gosta de assistir Disney Channel, Nickelodeon e Looney Tunes, mas tem uma frustração: não o deixam entrar na faculdade. “Se uma pessoa de 80 anos pode se formar, então uma criança de 8 anos também deveria ter a chance”, ele argumenta, sem um pingo de insegurança ou falsa modéstia. Acontece que, quando o assunto é capacidade intelectual, Tanishq não tem muitos motivos para ser modesto.


Aos 4 anos, ele entrou para a Mensa, sociedade internacional fundada em 1946, para reunir os cidadãos com com o mais alto QI do planeta. Os famosos gênios. Ele só não é a pessoa mais nova a ingressar na entidade, pois sua irmã, Tiara, entrou com a mesma idade. Aficionado por ciência, Tanishq tem um gosto especial por astronomia: o garoto participou da descoberta de tempestades solares e exoplanetas, já publicou diversos artigos científicos e na semana passada foi o mais novo palestrante a realizar uma apresentação em uma conferência da Nasa.


Nascido nos Estados Unidos e filho de indianos, Tanishq esbanja orgulho de suas origens: “O Bóson de Higgs tem esse nome por causa de Satyendra Bose, um cientista indiano”, ele lembra. O garoto também mostra uma aguçada e incomum preocupação com questões sociais e ambientais. Critica a cultura dos carrões norte-americanos, que “gastam muita gasolina e poluem demais” e diz que a saída para a desigualdade social é a educação. Apesar de novo, ele não tem tempo a perder. Seu objetivo é ser liberado para entrar na faculdade com 10, 11 anos no máximo (se dependesse dele, já estaria lá). Depois, quer ser um cientista famoso e presidente dos EUA. A gente não duvida.


Tanishq Abraham conversou com a Galileu e falou sobre a rotina de uma criança gênio: uma mistura de desenho animado, ciência lunar, Michael Jackson, música clássica, Youtube e programação em Python.
 


Veja como foi a entrevista:
Quando as pessoas perceberam que seu QI era mais alto que a média?
Tanishq Abraham: Minha mãe foi a primeira pessoa a notar. Quando eu tinha 4 meses ela comentou com meu pai e ele não acreditou.

Quando não está na escola, o que você gosta de fazer?
Tanishq Abraham: Eu brinco com minha irmã ou então navego na internet: gosto de ler e pesquisar sobre assuntos científicos. Também assisto TV e programo: eu entendo de Python e estou aprendendo C# e HTML. Leio livros tipo Hardy Boys (série clássica de histórias sobre irmãos adolescentes que investigam crimes) e revistas de tecnologia. Sempre que posso uso meu telescópio durante a noite.


Você gosta de música também, certo? Toca algum instrumento?
Tanishq Abraham: Sim, eu amo música. Faz três anos que eu participo do San Francisco Boys Chorus. Eu e minha irmã também começamos a aprender piano com 3 anos de idade e já participamos de vários recitais. Eu também gosto de compor, mas agora estou sem tempo, já que estou mais interessado em meus projetos de pesquisa científica.

O que você gosta de ouvir? Gosta de Justin Bieber?
Tanishq Abraham: Eu gosto de música clássica, rock, pop, hip-hop e música cristã. Eu costumo escutar músicas no Youtube, especialmente de crianças talentosas...Já vi alguns vídeos do Justin Bieber e eles eram bons. Gosto muito da música You Raise Me Up do Josh Groban, além de algumas do Michael Jackson. Também curto dançar, aprendo muito com vídeos no Youtube.

Qual o conceito científico você tem mais dificuldade em entender?
Tanishq Abraham: Com 7 anos eu fiz um curso de astronomia e meus colegas não compreendiam as ideias de Einstein e a Teoria Geral da Relatividade, mas eu achei tranquilo. Minha mãe era da minha sala, ajudei ela a entender o assunto.

Quais são suas matérias preferidas no colégio?
Tanishq Abraham: Ciência, ciência e ciência. Pode ser paleontologia, geologia, astronomia, ciência lunar, ciência terrestre, astrobiologia, microbiologia, neurociência, física, química, nutrição. Gosto de ler sobre civilizações passadas, evolução e a Bíblia. Não gosto de literatura inglesa e matemática às vezes é chata.

O que você quer ser quando crescer?
Tanishq Abraham: Desde os 5 anos eu quero ser um cientista famoso, que vai descobrir algo novo para o mundo. Depois, quero ser presidente dos EUA. O presidente Obama sempre me inspirou, também gosto do Abraham Lincoln e do George Washington. Já escrevi algumas cartas pro Obama, ainda estou esperando as respostas!

Na sua opinião, qual a melhor maneira de combater o aquecimento global?
Tanishq Abraham: Nos EUA, as pessoas usam uns carros enormes que usam muita gasolina e acabam poluindo demais. O transporte público deveria ser mais acessível também: em países da Europa e da Ásia isso já se vê. Carros híbridos e elétricos também são uma opção. Meus pais têm um desses eu acho legal.

Você se preocupa com questões sociais?
Tanishq Abraham: Sim, por isso que se eu for presidente eu poderei trazer uma mudança, especialmente no sistema educacional. As pessoas não ligam muito para a educação no meu país. Ter educação é legal. Te faz uma pessoa melhor, um mundo melhor.

Você já publicou artigos em uma revista científica. Você pode contar um pouco sobre eles?
Tanishq Abraham: Eu escrevi para a revista da Peninsula Astronomical Society, O primeiro texto foi publicado quando eu tinha 7 anos, em 2011. Desde então, três outros artigos saíram por lá. Eu tratei de vários assuntos, como as diferentes galáxias que existem, o descobrimento de uma supernova, de um exoplaneta e de uma tempestade solar. Os meus dois primeiros artigos estão no site da Nasa

Você acredita em vida extraterrestre?
Tanishq Abraham: Eu fui à uma conferência sobre o tema mês passado e pude conferir a fala de alguns dos cientistas mais pioneiros dessa área. Existe a possibilidade de achar vida microscópica, já que foi descobriram a existência de gelo em diversas luas: a nossa, a de Júpiter e a de Saturno. També podem existir extremófilos (organismo que vivem em condições ambientais extremas), assim como na Terra, que podem se desenvolver para formas mais complexas de vida.

Albert Einstein disse que a imaginação é mais importante que o conhecimento. Você concorda?
Tanishq Abraham: No meu caso, eu prefiro o conhecimento à imaginação. Mas isso não quer dizer que eu não sonhe, não imagine coisas... Normalmente, eu tenho ideias enquanto leio a aprendo sobre conceitos novos. Às vezes eu conto pros meus pais o que eu pensei, mas nem sempre eles me entendem!

A história em quadrinhos do 'rastaman'


O Globo

Todo mundo sabe que ele cantava sobre a paz e o amor, sobre como não deveríamos nos preocupar com qualquer coisa, pois tudo acabaria dando certo. Mas nem todos sabem que Bob Marley, além de cantar o reggae e fumar maconha, foi adepto da religião rástafari, era pai de 12 fillhos — dez com Rita Marley e dois adotivos — e morreu, com apenas 36 anos (!), vítima de um câncer que, depois de começar de forma sutil, quase inofensivo, como um machucado sob a unha do pé, atacou o cérebro, o pulmão e o estômago do cantor, interrompendo uma das carreiras mais promissoras da música.


Boa parte da história do ídolo jamaicano que se tornou um ícone mundial do reggae pode ser conferida, agora, na biografia em quadrinhos recém-lançada no Brasil “Bob Marley - o guerreiro rasta” (Vergara & Riba Editoras, cor, 64 pgs., R$ 34,90), dos argentinos Diego Agrimbau e Dante Ginevra. A HQ mostra desde a infância do cantor, na Vila de Nine Mile, na Jamaica, na década de 1950, quando acreditavam que ele podia ler o futuro das pessoas através da leitura das mãos, até a morte, em 1981, em um hospital de Miami.

Marley subestimou a grave doença que o mataria tão jovem, mas teve tempo de gravar grandes músicas como “Get up, stand up”, “Three little birds”, “I shot the sheriff”, “Is this love”, “Buffalo soldier” e tantas outras. E de fazer com que o reggae atingisse um público imenso, internacional, bem maior do que o de sua terra natal, a Jamaica, atingindo até a cabeça de um cara chamado Gilberto Gil, que gravou, em 1979, no disco “Realce”, a sua própria versão para um clássico de Marley, “No woman no cry”. O cantor ainda viraria tema do documentário “Marley” — ainda inédito no Brasil e cujo trailer você confere abaixo — , dirigido por Kevin Macdonald (“O último rei da Escócia”) e lançado no último Festival de Berlim.

Vocalista do Snow Patrol fará uma participação em ‘Game of Thrones’

O Globo


O vocalista do Snow Patrol fará uma participação na série "Game of Thrones", da HBO. Gary Lightbody gravou sua cena na segunda-feira e publicou no Facebook da banda uma foto em que aparece com o figurino usado.


“Fiz essa manhã a minha cena em ‘Game of Thrones’. Apareço assim. Não posso dizer muito, mas não é um papel central. Foi divertido!”, escreveu o músico e agora ator.


Considerando o nome da banda, é de se esperar que Lightbody apareça no núcleo de Jon Snow, no extremo-norte de Westeros, onde a Patrulha da Noite se prepara para enfrentar os Selvagens de além da Muralha. Mas claro que isso é só uma suposição.


A terceira temporada de “Game of thrones” estreia na HBO em abril de 2013. Baseada na obra de George R.R, Martin, a série acompanha a luta de famílias nobres pelo trono de Westeros, uma terra fictícia, mas claramente inspirada na Grã-Bretanha.


O Snow Patrol atualmente está trabalhando no seu sétimo álbum. O último trabalho da banda foi “Fallen empires”, lançado em 2011, ano em que o grupo esteve no Brasil para o Rock in Rio.

terça-feira, 24 de julho de 2012

NOTA DE REPÚDIO

A Associação das Mulheres Domésticas de Santarém (AMDS); a Comissão Pastoral da Terra (CPT); a Federação das Organizações Quilombolas de Santarém (FOQS); a Frente em Defesa da Amazônia (FDA); o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Santarém (STTR); Comissão Diocesana de Justiça e Paz - Santarém e a União dos Estudantes de Ensino Superior de Santarém (UES), organizações sociais situadas no município de Santarém/PA, vêm, repudiar os últimos acontecimentos relativos ao licenciamento da empresa multinacional Cargill Agrícola S.A, detentora de uma história de ilegalidades, fraudes e violações de direitos, além dos efeitos danosos, com a expansão do agronegócio nessa nova fronteira agrícola do oeste paraense.


A Cargill Agrícola S.A., multinacional com sede nos Estados Unidos, tem como principal área de atuação o comércio internacional de grãos e, no Brasil, é a principal exportadora de soja. Com a valorização excepcional do preço e o crescimento por demanda no mercado internacional no fim da década de 90 e durante a década seguinte, a soja tornou mais atrativa para o cultivo.


Ocorre que, por conta do esgotamento de terras nas regiões centro e sul, buscaram-se novas áreas de plantio. A Amazônia e todo seu território apareceram, assim, como fronteira agrícola a ser conquistada. Eis o script da inserção da soja e da Cargill no oeste paraense.


Com a alta do preço da soja no mercado internacional e a procura pela diminuição dos custos, a instalação da Cargill no porto da Companhia das Docas do Pará em Santarém, em 1999, caiu como uma luva aos interesses dos sojicultores. Com o porto graneleiro, haveria como escoar a produção do Mato Grosso (maior estado produtor de soja), assim como viabilizaria a expansão da fronteira agrícola do agronegócio no interior da Amazônia, uma vez que a Cargill apoia financeiramente os produtores.


Quando a população tomou conta da instalação do empreendimento (o leilão da concessão da área da CDP e os bastidores políticos sobre a sua instalação aconteceram no “escuro”) também surgiram as reações sociais, ambientais e jurídicas.


Foi-se a praia da Vera-Paz, a única praia de acesso à maioria da população, patrimônio sociocultural da cidade, agora só viva nas canções, poesias e fotos. Privatizou-se parte do rio tapajós em frente à cidade. Edificou-se o empreendimento em cima de sítios arqueológicos com registro de 12 mil anos. Os conflitos sociais, ameaças à lideranças e aos contrários a presença da soja, aumento dos bairros periféricos, envenenamento de igarapés com agrotóxicos, comunidades inteiras sumiram do mapa para dar lugar ao progresso, entre outros, foram acontecendo.


As leis também foram abandonadas em favor do progresso. A Constituição Federal foi simplesmente esquecida durante a implantação do empreendimento. O Estudo de Impacto Ambiental e o Relatório de Impacto ao Meio Ambiente (EIA/RIMA), necessário para empreendimentos dessa magnitude, não foi sequer realizado.


No entanto, o Ministério Público Federal, apoiado por nós e por outras organizações e movimentos sociais, ingressou com duas Ações Civis Públicas: a primeira, em 1999, para obstruir o procedimento licitatório, então em andamento, por não prever o EIA/RIMA às áreas arrendadas no Porto de Santarém; e a segunda, em 2000, requerendo que fosse impedida qualquer obra na área arrendada, antes de aprovado o EIA/RIMA.


Como se sabe, o mundo dos fatos não tomou conhecimento do mundo jurídico. Com uma série de recursos, liminares e mandados de segurança, a força política, jurídica e econômica do agronegócio, figurada na Cargill, tornou-se fato consumado. Com o empreendimento já construído e em pleno funcionamento, e quase 8 anos após o ingresso das ações, a Justiça resolve, finalmente, obrigar a Cargill Agrícola S.A. a realizar o EIA/RIMA. Enquanto não se cumpria as leis ambientais, o empreendimento deveria ser paralisado, o que foi derrubado por outro mandado de segurança.


Após anos de mobilizações sociais, atos, documentos e protestos contra a presença da multinacional em Santarém, enfim se garantiria, pelo menos, o respeito às leis brasileiras.


Quando finalmente os estudos ficaram prontos e puderam ser apresentados e discutidos com a sociedade em sede de audiência pública[1] todos foram surpreendidos com as denúncias e provas de fraude no EIA/RIMA feitas por técnicos desse digno órgão ministerial e outros atores participantes, consistentes ora no falseamento de dados bibliográficos, ora em sua manipulação, ora em sua omissão. Ato contínuo, o MPE/PA, ali presente por meio de sua representante, anunciou a todos que ao término do ato se dirigiria à Delegacia de Polícia Civil para providenciar a instauração de inquérito policial para apuração do fato. Assim teve início o IPL no 273/2010.000082-4, em 29/07/2010, requisitado pelo MPE/PA e MPF por meio do Ofício no 304/2010-MP/CMP.


O inquérito concluiu pela existência de autoria e materialidade dos crimes tipificados no art. 69-A, caput, da Lei no 9.605/98 e art. 299, caput, do Código Penal imputados à CPEA (empresa que elaborou o EIA/RIMA) e à Cargill.


No mesmo sentido da opinião manifestada pela Polícia Civil, também na visão das entidades subscreventes, não poderia ser outra a conclusão, diante da demonstração cabal, pelos técnicos do Ministério Público, na presença de centenas de pessoas, dos erros, omissões, contradições e, principalmente, manipulações de dados bibliográficos pela empresa Consultoria Paulista de Estudos Ambientais Ltda. (CPEA) em favor da Cargill Agrícola S/A. Enfim, não é difícil perceber que o real objetivo do estudo sempre foi o de “construir” um cenário favorável às pretensões da empresa Cargill.


No entanto, tempos depois, todos fomos surpreendidos ao saber que a denúncia havia sido proposta, porém, imputando crime culposo, a título de mera negligência, à empresa CPEA e a seu Diretor, responsáveis pela elaboração do EIA/RIMA fraudulento, sem qualquer explicação desse entendimento à coletividade vítima do crime praticado e sem qualquer indicação de crime por parte da Cargill. E mais: havia sido marcada uma audiência extraordinária para propor a suspensão condicional do processo ao réu. Um simples “acordo” para arquivar mais uma ilegalidade da empresa.


Nós propomos então ao MPE/PA, entre outras coisas, a inclusão da empresa Cargill como ré no processo-crime, a alteração da tipificação penal, ou, caso o contrário, que a suspensão do processo fosse condicionada à elaboração de outro EIA/RIMA, dessa vez com dados verdadeiros e conclusões sérias, para que fossem respeitados os direitos de informação e participação da sociedade civil no processo de licenciamento ambiental.


Tentamos por diversas vezes marcar uma reunião com os representantes do Ministério Público do Estado do Pará, para rediscutir os termos da denúncia oferecida, inclusive com o oferecimento de novas provas, mas sem sucesso. O que há de concreto e objetivo nisso tudo é uma série ofícios com pedidos de designação da aludida reunião, todos eles infrutíferos.


Nesse ponto, somos obrigados a citar a própria Lei Orgânica do Ministério Público do Estado do Pará (Lei Complementar estadual n. 057, de 06 de julho de 2006), que prevê, nos seus artigos 60, II e 154, XI, o seguinte, in verbis:


Art. 60, II. Atender a qualquer do povo, tomando as providências cabíveis;
Art. 154. São deveres do membro do Ministério Público, dentre outros previstos em lei ou em ato normativo da instituição:
XI – atender ao público na sede da respectiva Procuradoria de Justiça ou Promotoria de Justiça, no horário normal de expediente, e atender aos interessados, nos casos urgentes, a qualquer momento.


Pondere-se, afinal, que as organizações que assinam essa nota não tencionam macular a garantia institucional de independência funcional do Ministério Público do Estado do Pará no exercício das suas funções. Tampouco, objetivam duvidar da imparcialidade e competência deste ou daquele membro do Parquet, até porque neste caso já atuaram pelo menos cinco Promotores, ao sabor dos vaivens do serviço público. A sociedade civil, por seu turno, permanece nesta terra, e permanecerá.


Ao contrário do que possa alguém imaginar, as entidades signatárias veem o Ministério Público um aliado político e um defensor das causas públicas e coletivas. Todo esse esforço é animado única e exclusivamente pela vontade de respaldar o MPE/PA para que desenvolva sua função constitucional com maior coragem e galhardia, fazendo valer sua independência, fortemente ancorado na realidade fática dos conflitos socioambientais existentes em nossa região.


Além disso, lutamos por nossos direitos com insistência por termos a convicção de que seremos nós, mulheres, estudantes, agricultores familiares, quilombolas, comunidades pastorais e cidadãos comuns, os principais prejudicados pelos danos advindos de uma atuação ministerial inadequada nesse caso de extrema relevância e risco. A questão da Cargill é urgente e de interesse público dos povos da Amazônia e não somente desse órgão ministerial.


Não podemos mais esperar!
*ASSOCIAÇÃO DAS MULHERES DOMÉSTICAS DE SANTARÉM (AMDS)
*COMISSÃO PASTORAL DA TERRA
*COMISSÃO DIOCESANA DE JUSTIÇA E PAZ – SANTARÉM
*FEDERAÇÃO DAS ORGANIZAÇÕES QUILOMBOLAS DE SANRARÉM (FOQS)
*FRENTE EM DEFESA DA AMAZÔNIA (FDA)
*UNIÃO DOS ESTUDANTES DE ENSINO SUPERIOR DE SANTARÉM (UES)
*SINDICATO DOS TRABALHADORES E TRABALHADORAS RURAIS DE SANTARÉM/PA (STTR)
*TERRA DE DIREITOS

Universidades novatas serão monitoradas

Agencias de notícias

O MEC (Ministério da Educação) acaba de criar uma comissão que se encaixa à perfeição com os problemas vivenciados hoje pela Ufopa (Universidade Federal do Oeste do Pará).
A comissão tem como objetivo acompanhar as ações do MEC com vistas à consolidação do processo de expansão das universidades federais e “de tratar dos assuntos estudantis correlatos ao tema”.
Ela é composta por 6 membros: Daniel Iliescu e Yuri Pires, da UNE (União Nacional dos Estudantes); João Luiz Martins e Maria Lúcia Cavalli Nedes, da Andifes (Associação Nacional das Instituições Federais de Ensino Superior) e Adriana Rigon Weska e Antonio Simões Silva, do MEC.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Julia Duailibi, de O Estado de S. Paulo

Com mesa e secretária na pasta do Trabalho, Alexandre Pereira da Silva coordena projeto que dá benefícios à população do Estado, apesar de não estar oficialmente ligado ao posto.

Leia a reportagem completa:

Filho de Paulinho da Força opera central informal em secretaria de Alckmin

De lenda a isca de bagre, o drama do boto


Matança de espécie-símbolo da Amazônia, cuja carne é usada para atrair peixe apreciado na Colômbia, coloca golfinho em risco de extinção.

13 de maio de 2012
GIOVANA GIRARDI - O Estado de S.Paulo


Uma das espécies-símbolo da Amazônia, o boto-vermelho - ou boto-cor-de-rosa - está sendo sistematicamente morto por pescadores da região para ser transformado em isca para a pesca de um tipo de peixe muito apreciado na Colômbia. A matança vem diminuindo tanto as populações do mamífero que já coloca a espécie em risco de extinção.


Dois estudos conduzidos de modo independente em localidades diferentes na Amazônia dão uma ideia do problema e permitem fazer uma estimativa de sua abrangência. Um deles, realizado no entorno da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) de Mamirauá, a 600 km de Manaus (AM), calculou que ali ocorre uma redução de 10% ao ano no total de animais.


O outro, conduzido em comunidades de pescadores na região de Santarém (PA), previu que até 2060, se o ritmo da matança continuar, a espécie poderá estar em vias de extinção.


Os primeiros relatos científicos desse tipo de morte datam do final dos anos 1990, mas a situação se agravou nos últimos anos. O principal motivo, acreditam os pesquisadores, foi o apetite colombiano por uma espécie de bagre conhecida como mota por lá e piracatinga, por aqui.


Mais recentemente, esse peixe, por semelhança de sabor e textura, apareceu como substituto de outro - o capaz -, que habitava o Rio Madalena, mas foi consumido até seu esgotamento.


Os pesquisadores estimam que milhares de toneladas do peixe sejam pescadas por ano. Faltam, porém, estudos com o animal, seus hábitos, possíveis iscas alternativas, ou mesmo quanto ele poderia ser pescado por ano.


"Não duvidamos que ele possa entrar em colapso de tanto que é pescado", afirma a bióloga Vera Silva, do Laboratório de Mamíferos Aquáticos do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), que coordena os trabalhos em Mamirauá.


Ela, no entanto, está preocupada com o boto - espécie protegida por lei que teria de ser preservada. "Ele foi sempre muito abundante na região, porque tinha uma distribuição ampla e ninguém mexia muito com ele porque não tinha valor, não era visto como recurso direto. Só aconteciam mortes acidentais ou por conta das lendas em torno do animal (mais informações nesta página)," conta.


Urubu d'água. A situação mudou quando se percebeu que ele poderia servir como uma excelente isca para a tão desejada piracatinga. No Brasil, o peixe nunca havia despertado muita atenção justamente porque tem uma característica não muito bem-vista por ribeirinhos - ele gosta de carne morta, daí ter ganhado o apelido "urubu d'água". No princípio, carne de jacaré era usada como isca. Mas, com cheiro bem mais forte, o boto se mostrou sua iguaria favorita.


O problema é que esse mamífero aquático não se reproduz a uma taxa rápida o suficiente para atender à demanda, explica Vera. O animal demora a atingir a maturidade sexual (fêmeas a partir dos 7 anos e machos a partir dos 10), tem baixa taxa reprodutiva, a gestação dura quase um ano e a fêmea amamenta o filhote por dois anos ou mais, o que faz com o que intervalo entre filhotes seja de cerca de três anos.


"Quando a retirada é maior que a reposição e os animais mais afetados são aqueles que ainda não se reproduziram ou são fêmeas com filhote, o impacto é muito maior", diz.


Segundo levantamento publicado em 2010, compilando trabalhos de vários pesquisadores e organizações em defesa do animal (o Plano de Ação para Golfinhos de Rio da América do Sul), a matança ocorre de Manaus a Tabatinga, ao longo de toda a calha do Rio Solimões, e no entorno de Santarém.


Foi na região do oeste do Pará - onde a equipe do biólogo português Miguel Migueis, da Universidade Federal do Oeste do Pará, vem trabalhando com comunidades de pescadores em dez municípios próximos a Santarém - que foi feita a estimativa de que os botos estão em rota de extinção caso nada seja feito.


Cálculo feito em uma comunidade que tem dez matadores de boto estimou que cerca de 7,2 mil animais são mortos por ano. "Isso em só um lugar. Não sabemos em quantos ocorrem, mas já constatamos a prática em pelo menos 16 comunidades. Para toda a Bacia Amazônica deve ser uma coisa brutal", afirma.


O negócio é lucrativo. Um boto inteiro é negociado entre R$ 50 e R$ 100. Um quilo de isca costuma pegar a mesma quantidade de peixe, mas há quem consiga até 4 quilos. E, recentemente, ele já começa a ser encontrado em mercados de Manaus, com o nome de douradinha. O quilo da piracatinga fica entre R$ 0,80 e R$ 1,20 e é vendido no mercado por até R$ 14.

terça-feira, 17 de julho de 2012

Indígenas exigem que Ibama e Funai retirem licença de Belo Monte

Documento enviado a orgãos federais lista ilegalidades cometidas pelo empreededor. Xingu Vivo reafirma apoio ao movimento indígena e considera que denuncias são suficientes para comprovar inviabilidade de Belo Monte

Publicado em 09 de julho de 2012
Movimento Xingu Vivo


Após 18 dias de ocupação da ensecadeira do canteiro de obras de Pimental, iniciada dia 21 de junho em função do descumprimento das medidas de proteção e mitigação de impactos previstas no licenciamento da usina, indígenas afetados e ameaçados pela construção de Belo Monte decidiram protocolar no Ibama e na Funai um documento de denúncia das ilegalidades cometidas pela Norte Energia. Segundo advogados e juristas que acompanham o caso, estes descumprimentos devem levar a empresa à perda da licença de construção de Belo Monte.
De acordo com o documento, que analisa minuciosamente os acordos e prazos legais que deveriam ter sido cumpridos pela empresa, os problemas são, entre outros:
- a TI Trincheira-Bacajá, onde vivem os Xikrin, não está devidamente contemplada dentro do Plano Básico Ambiental – PBA indígena;
- o PBA como um todo continua sem ser completado e aprovado, e muito menos implementado;
- as obrigações previstas nas condicionantes acerca da garantia plena do acesso fluvial à cidade de Altamira por indígenas e ribeirinhos da Volta Grande do Xingu não foram cumpridas;
- apesar de compromissos assumidos pela NESA e pelo DSEI-Altamira, ainda não se viabilizou a construção de poços artesianos e obras de encanamento de água para garantir uma alternativa de acesso a água potável para o consumo humano, uma vez que os barramentos do Xingu estão deixando as águas do rio impróprias para consumo;
- antes da licença de instalação da Usina Hidrelétrica, as condicionantes da Funai previam um “programa de atendimento à saúde reformulado”, que já devia estar “operante”, e não está;
- foi assumido o compromisso em reuniões com indígenas de reforma da casa do índio, o que não ocorreu até agora;
- não foi finalizada nenhuma etapa do processo de demarcação, desintrusão e regularização fundiária de territórios indígenas.
- pelo menos duas Unidades de Conservação (UCs) de proteção integral na região deveriam ter sido criadas para o estabelecimento de um corredor ecológico ligando as Terras Indígenas Paquiçamba, Arara da Volta Grande do Xingu e Trincheira-Bacajá com as UCs existentes. Não há estudos para isso, nem previsões sobre passos concretos e um cronograma para viabilizar esse corredor de áreas protegidas.

“A permanência do atual quadro de ilegalidades é intolerável numa sociedade democrática, de respeito ao Estado de Direito. A FUNAI e o IBAMA precisam agir agora e fazer valer a legislação e as instituições democráticas que respaldam os direitos de todos os cidadãos brasileiros envolvidos neste processo, sobretudo os dos mais ameaçados e impactados pela construção da UHE Belo Monte”, conclui o documento, endereçado ainda à presidente Dilma, aos ministros José Eduardo Cardozo (Justiça), Maria do Rosário (Secretaria Nacional de Direitos Humanos), Isabella Teixeira (Meio Ambiente), Edson Lobão (Minas e Energia), além de Roberto Monteiro Gurgel Santos, Procurador Geral da República, e Luciano Coutinho, Presidente do BNDES.De acordo com a coordenadora do Movimento Xingu Vivo para Sempre, Antonia Melo, a situação de violações dos direitos indígenas é tão gritante que, perante a lei brasileira, tanto Ibama quanto Funai não teriam nenhuma justificativa para manter a autorização, marcada desde o início por centenas de irregularidades, de construção da usina.
“Somos totalmente solidários com a luta dos indígenas. Mas não são apenas eles que sofrem com esta barbaridade, é toda a população da área de influência de Belo Monte. Se o governo e seus órgãos ainda respeitam minimamente o Estado de Direito no País, a primeira medida é cancelar o licenciamento das obras. Com isso, pode-se comprovar, através de análises técnicas e jurídicas, que Belo Monte não é um projeto viável, que tem que ser descartado e que todo o dano já causado terá que ser compensado”.



Empresa “enrola” nas negociações enquanto pede ação policial para despejo de indígenas

Índios afetados por Belo Monte dizem que negociações não atenderam demandas. Empresa pediu policia em despejo, exigiu multa e punição, e, enquanto não cumpre condicionantes, alegou danos com eventuais atrasos nas obras.



Publicado em 10 de julho de 2012
Movimento Xingu Vivo


Nesta segunda, 9, a empresa Norte Energia realizou a primeira de duas reuniões agendadas para a semana com o grupo de indígenas que ocupa a ensecadeira do canteiro de obras de Pimental desde o dia 21 de junho. Os indígenas montaram um acampamento na barragem e têm impedido o trabalho dos operários no local para exigir o cumprimento de uma série de medidas de mitigação de impactos, previstas por lei, além de outras demandas de compensação pelos danos já sofridos e futuros.

De acordo com Mukuka Xikrin, uma das lideranças mais jovens do acampamento, a empresa não teria dado nenhuma resposta concreta às reivindicações nesta primeira conversa. “Não foi decidido nada, não apresentaram nada e não ficou acertado nada. Pode ser que amanhã seja diferente”, explica o xikrin, cujo grupo (as comunidades do rio Bacajá) foi o primeiro a se reunir com a Norte Energia, junto com os arara e juruna das aldeias da Volta Grande. Nesta terça, devem ser ouvidos os Xypaya, Arara, Kayapo e Curuaia das aldeias do rio Iriri, e Assurini, Arawetê e Parakanã da chamada Rota Xingu.

Outra fonte, que não quis ser identificada, afirmou que a empresa teria prometido que as obrigações pré-existentes no Plano Básico Ambiental Indígena (PBA) e nas ações emergenciais seriam eventualmente cumpridas, e que resolveriam as questões ligadas à saúde, educação e navegabilidade dos rios. As demais demandas compensatórias (carros, casas, motos, e indenizações, entre outros) teriam sido negadas. Uma resposta mais definitiva teria sido prometida para o início da semana que vem.

Enquanto negocia, consórcio solicita despejo com força policial

Apesar de ter se comprometido a negociar as reivindicações apresentadas pelos índios logo no início da ocupação, em 23 de junho o Consórcio Construtor Belo Monte (CCBM) impetrou uma ação de reintegração de posse com pedido de liminar, que solicitou à justiça que “determine a utilização de força policial, dentre ela a Policia Militar, Polícia Federal e a Força de Segurança Nacional para garantir a segurança do Autor [CCBM], de seus funcionários, sua posse e o trabalho dos oficiais de justiça que cumprirão a medida liminar a ser deferida”. Também foi pedida a imposição de uma multa diária, pagamento das custas do processo e dos honorários dos advogados, e o pagamento de prejuízos causados pela impossibilidade de acesso de funcionários e fornecedores ao canteiro de obras.

Com o indeferimento da liminar pela juíza Priscila Pinto de Azevedo no dia 25, no dia 29 o CCBM reiterou o pedido, argumentando indignação diante dos métodos reivindicatórios: “a invasão de áreas do empreendimento com lesão ao patrimônio alheio não é o meio adequado e democrático para movimentos sociais obterem suas reivindicações. Destarte, a cidadania não pode ser vista apenas na perspectiva das reivindicações indígenas (…)”.

Segundo o CCBM, o despejo dos indígenas deveria configurar tanto um castigo quanto um exemplo aos que apresentam “desvio” da conduta considerada adequada pelo consórcio. “A concessão da medida liminar [de despejo] configurara o restabelecimento da ordem social, com caráter não apenas punitivo mas, sobretudo, exemplificativo das corretas condutas que devem nortear o país (…)”, afirma o documento.

A despeito de situação de completa ilegalidade no que tange o cumprimento das condicionantes indígenas e os prazos estabelecidos por lei, e das conseqüentes violações dos direitos, das doenças decorrentes da alteração da qualidade da água e dos impactos no cotidiano das aldeias, o CCBM também buscou inverter a lógica da vitimização no processo, alegando que “a situação de calamidade no caso objurgado poderá ser criada em razão dos prejuízos advindos da paralisação do empreendimento, eis que elevadíssimos e, quiçá, imensuráveis hodiernamente, impactando não apenas no atraso do cronograma da obra, mas nos encargos consectários, podendo ocasionar demissões em massa, rescisões de contratos de subcontratadas, devolução de imóveis e equipamentos, além de desmobilização instantânea dessas questões ponderadas”.

No momento, concomitante ao alegado processo de negociações, corre no Tribunal Regional Federal, em Brasília, um pedindo revisão do indeferimento da liminar, impetrado pelo CCBM no último dia 4 de julho.