A onda de protestos que antecedeu a eleição do
deputado federal Pastor Marco Feliciano (PSC/SP) para a presidência da Comissão
de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, deveria ter sido
suficiente para que seu nome fosse imediatamente retirado do pleito.
Para o Cimi, a manutenção do nome e a eleição de
Marco Feliciano não se justificam, mas se explicam pela determinação de se
cumprir acordos pré-estabelecidos entre forças conservadoras e
fundamentalistas, de diferentes matizes, presentes e fortalecidas no Congresso
Nacional – ao contrário dos grupos que tradicionalmente buscam defesas e
garantias de direitos e afirmação na Comissão de Direitos Humanos.
A aliança umbilical entre as bancadas evangélica e
ruralista vem sendo observada há mais tempo e foi sacramentada com a eleição de
Feliciano. A presença de deputados ruralistas na primeira seção convocada para
a eleição do novo presidente da comissão, bem conhecidos dos povos indígenas e
seus aliados por ocasião da aprovação da admissibilidade da PEC 215/00, em
2012, não deixa dúvidas de que eleição de Feliciano resulta de acordo entre
estas duas bancadas.
Para o Cimi é evidente que um dos objetivos
centrais de tal acordo é o de bloquear o acesso e a acolhida dos povos
indígenas, quilombolas, dentre outros setores, e suas reivindicações na Câmara
dos Deputados, a fim de facilitar o trabalho dos ruralistas em torno de suas
prioridades para 2013, entre elas a aprovação da PEC 215/00, que transfere o
poder de decisão sobre a demarcação de terras indígenas, titulação de terras
quilombolas e criação de novas unidades de conservação ambiental do Executivo
para o Legislativo, o arquivamento do PL 3571/08, que cria o Conselho Nacional
de Política Indigenista, e a descaracterização do conceito de trabalho escravo
no Brasil.
O Cimi entende que a chegada do PSC e de Feliciano
à presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara e a eleição
do Senador Blairo Maggi (PR/MT), ruralista aliado de Dilma e muitas vezes
elogiado por Lula, para a presidência da Comissão de Meio Ambiente do Senado
não é coincidência. Para os povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos,
pescadores artesanais, camponeses, homossexuais, mulheres, negros, vítimas da
ditadura militar, trabalhadores em situação análoga à escravidão, familiares de
vítimas de grupos policiais de extermínio e defensores do meio ambiente as duas
Comissões eram importantes trincheiras institucionais na defesa de seus
direitos.
O rompimento da tradicional hegemonia das forças
progressistas nestas Comissões revela o fortalecimento de forças conservadoras,
fundamentalistas e, portanto, de direita, no tabuleiro social e político
brasileiro. As eleições de Feliciano e Maggi refletem simbolicamente no
Legislativo a aproximação entre a presidenta Dilma Rousseff e a senadora Kátia
Abreu no Executivo. Fica evidente que a ascensão destas forças de direita vem
sendo alimentada e subsidiada pelas opções político-econômicas do governo
brasileiro e dos principais partidos que lhe dão sustentação.
O Cimi manifesta preocupação com o processo de
fortalecimento das forças conservadoras e fundamentalistas no Brasil, o que
reforça a necessidade de que os setores que têm seus direitos atacados se
articulem e voltem a se manifestar publicamente em todas as esferas.
Conselho Indigenista Missionário – Cimi
Brasília, DF, 11 de março de 2013
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