Diretor
brasileiro e ator mexicano trabalharam em 'Diários de motocicleta'.
Salles concorre em Cannes com 'Na estrada', baseado no livro 'On the Road'.
Salles concorre em Cannes com 'Na estrada', baseado no livro 'On the Road'.
O diretor
brasileiro Walter Salles prepara um novo projeto com o ator mexicano Gael
García Bernal, com o qual trabalhou em "Diários de motocicleta"
(2004). Trata-se de um filme no qual já trabalham bastante tempo, de acordo com
o que disse o cineasta no Festival de Cannes, onde está para apresentar o longa
"Na estrada", baseado no clássico da literatura beat "On the
Road", de Jack Kerouac.
"Temos
um projeto em desenvolvimento há vários anos e que está quase pronto para
começar. É uma história original. Espero que em breve possamos colocá-lo em
andamento", afirmou Salles, que se declarou como um fã do ator Gael. Em
entrevista no evento francês, Salles lembrou que conheceu Bernal na filmagem de
"Diários...", um filme que definiu como decisivo em sua carreira de
diretor.
O ator mexicano Gael García Bernal e o diretor brasileiro Walter
Salles durante as filmagens do filme 'Diários de motocicleta' (2004)
"Nos
transformamos em uma família", explicou Salles. O brasileiro disse que
mantém contato com todos, especialmente com o ator mexicano que, segundo ele,
se transformou num de seus amigos mais próximos. "Eu admiro sua
inteligência e sensibilidade. É uma das pessoas mais afetuosas que
conheci", destacou.
Sobre
"Diários...", Salles disse que o filme foi apresentado a ele depois
de outros cinco ou seis diretores declinarem convites para tocar o projeto. No
entanto, destacou que da mesma forma já rejeitou algumas propostas. "Foram
feitos por outros diretores, provavelmente de uma forma muito diferente da qual
eu teria feito, e, na maioria dos casos, melhor do que eu, porque se não o fiz
é porque não me sentia a pessoa adequada."
Mas
o diretor brasileiro sentiu que podia adaptar o livro de Kerouac para o cinema.
O filme, apresentado na última quarta na competição oficial de Cannes, conta a
história de uma viagem. Salles destacou que não é por acaso que muitos de seus
filmes são sobre viagens na estrada.
"'Quando
posso, evito avião e trem, e dirijo carros ou motos", disse. O brasileiro
ressaltou que gosta de se afastar o máximo possível de seu ponto de partida,
porque, "quanto mais longe está de onde vens, melhor é para entender quem
é e quem se quer ser".
O
amor pelas estradas também vem do cinema, das grandes filmes de viagens de
Michelangelo Antonioni, Wim Wenders ou o brasileiro Cacá Diegues. De acordo com
Salles, no Brasil há uma grande tradição de filmes de viagens que permitem ver
como o país muda, entre suas regiões e com o passar do tempo. "Você vai a
algum lugar e dois anos depois tudo está diferente", disse.
É
sobre essa passagem de tempo e como afeta as pessoas, que Salles gosta de refletir
em seus filmes, um pouco no estilo documentarista, mas se baseando nas suas
próprias experiências.
"Você
pode sentar em um sofá e ver um documentário sobre a Patagônia, mas não vai
sentir a solidão absoluta de quando está ali". Em sua opinião, a única
forma de desenvolver uma consciência crítica é através da experimentação.
"Viver tua própria experiência, e não através da tela", disse.
O
diretor ainda comparou tal ideia aos acontecimentos atuais do mundo. "Na
primavera árabe, a ocupação de Nova York, os indignados na Espanha, as pessoas
estão usando instrumentos de redes sociais, mas não para ficar em casa, mas
para estar ali, fisicamente."
Uma
revolução diferente, mas ao mesmo tempo, parecida com a narrada por Kerouac em
seu livro, uma obra que Salles leu quando tinha 18 anos e que lhe impressionou.
"Por causa da liberação dos personagens, liberdade sexual, de expandir sua
consciência usando drogas, de pegar uma estrada para saber de onde vinha e
aonde vai."
Mas,
sobretudo, acrescentou, pela liberdade de escrever. "É preciso perceber
que li o livro em 1978, durante o regime militar no Brasil, quando havia
censura na imprensa, em todo tipo de arte, mas, sobretudo, censura das
mentes."
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