Por Telma Monteiro
"A reunião foi para fazer
uma lavagem cerebral nas pessoas da comunidade". Com essa frase começou minha conversa por telefone
com um integrante da comunidade Montanha e Mangabal que se localiza na beira do
rio Tapajós.
Moradores de Montanha e Mangabal, rio Tapajós
Na segunda-feira, 05/11, cerca de 20 pessoas foram
chamadas de última hora para uma reunião com um representante da empresa
Diálogo Tapajós, contratada pela Eletronorte. Gil Rodrigues conversou com a
comunidade das 18h às 20h, na Central de rádio dos garimpeiros, em Itaituba,
Pará.
Gil se apresentou como alagoano de origem e agora
morador de Itaituba. Disse que tinha sido contratado para promover o diálogo
entre a empresa e as comunidades no entorno da planejada hidrelétrica São Luiz
do Tapajós, no rio Tapajós. Tentou explicar como seria o projeto e como a
empresa "magnânima" iria tratar magnanimamente os ribeirinhos.
Apresentou mapas com a localização da hidrelétrica e aproveitou para informar
que a Vila Pimental vai desaparecer do mapa.
As pessoas presentes tiveram a grata surpresa de
saber que suas vidas vão desaparecer para sempre, submersas nas águas de um
reservatório para gerar energia elétrica que só interessa às grandes empresas.
Também foram informadas que não deveriam se preocupar, pois tudo seria pensado
para o bem delas.
Gil Rodrigues, o arauto da Eletronorte, então, deu
a informação que soou como um golpe de misericórdia. As famílias teriam três
opções: remoção, indenização ou carta de crédito. Distribuiu um panfletinho com
o seguinte texto " Se você vive ou trabalha na área onde poderá ser
construída a usina, é seu direito ser cadastrado". As pessoas
também ficaram cientes que nos dias 16 e 17 de novembro poderão exercer seu
"direito" de ser cadastradas.
Outro ponto que Gil Rodrigues comentou é que na
Vila Tapajós, uma das localidades
da comunidade Montanha e Mangabal, na beira do alto Tapajós, a água ficará com se fosse tempo de cheia
permanente. Os igarapés serão afetados, principalmente. Essa
comunidade já viveu dias difíceis nos últimos 50 anos e, depois de muita luta,
tiveram finalmente reconhecida a propriedade de suas terras, que tinham sido
griladas por uma grande empresa.
Um dos presentes argumentou que em 1979 ocorreu a
maior cheia que se tem notícia na região e uma barragem com 36 metros de altura
vai represar água suficiente para criar uma inundação que ultrapassará aquela
cheia. Gil Rodrigues disse que o lago vai chegar até outra localidade
chamada Peruano, também da comunidade Montanha e Mangabal.
Assim como nas demais tentativas de
"diálogo" em outros projetos de hidrelétricas como as do Madeira,
Belo Monte, Teles Pires, esse interlocutor das empresas ponderou que tudo vai
depender das licenças do Ibama. Que o projeto prevê que a madeira toda será
retirada e que o modelo de usinas tipo "plataforma" vai impedir os
impactos ambientais. Os pesquisadores da CNEC devem continuar o trabalho para
elaboração do EIA/RIMA.
Gil Rodrigues marcou mais três reuniões para os
dias 7/12 em Itaituba, 09/12 pela manhã na Vila Tapajós e 9/12 pela tarde na
localidade Machado, em Montanha e Mangabal. Seria bom se as pessoas, ao
lerem este relato, questionassem esse senhor sobre as falsas promessas que está
fazendo para as comunidades do Tapajós. Os telefones de Gil Rodrigues são: (93)
9145 1157 e (93) 8103 5221.
Colaboração de Tairine Rodrigues
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