09/05/2013.
Fonte da notícia: Assessoria
de Comunicação - Cimi
De
Vitória do Xingu (PA)
Com
um prazo de 24 horas dado pela desembargadora Selene de Almeida, do TRF-1,
Brasília (DF), os cerca de 180 indígenas de nove povos dos rios Teles Pires,
Tapajós e Xingu, afetados por projetos hidrelétricos, decidiram se retirar do
principal canteiro de obras da UHE Belo Monte, às margens da Transamazônica, no
Pará, no início da noite desta quinta-feira, 9.
“Como
entramos de maneira pacífica, decidimos sair de maneira pacífica. Mostramos que
não somos bandidos e respeitamos a decisão da Justiça. Esperamos que a nossa
atitude mostre que isso é estar aberto ao diálogo”, explicou Valdenir Munduruku
em entrevista coletiva aos jornalistas às portas do canteiro.
Ao
redor da liderança indígena, a mais de uma centena de indígenas, que durante
uma semana ocuparam o canteiro, num dos mais contundentes protestos contra a
usina, pediam pela consulta às comunidades afetadas pelas usinas hidrelétricas
que o governo federal pretende construir na Amazônia – parte da pauta que
motivou a ocupação. Contrariando a Convenção 169 da OIT e a Constituição
Federal, o governo Lula e Dilma passaram a executar grandes obras sem consultar
as comunidades afetadas.
“Não
estamos saindo por conta de nenhum acordo. Nós vamos sair daqui porque desde
quando chegamos o ministro não veio conversar conosco. (Ao contrário) Escreveu
muita mentira na internet sobre a gente”, afirmou Cândido Munduruku, presidente
da Associação Pusuru. Os indígenas deixaram claro que não vão abandonar a
agenda de luta contra as hidrelétricas na Amazônia e pela consulta prévia.
Valdenir
e Cândido ressaltaram que o grupo sai “revoltado com o governo federal”, que ao
invés de enviar o ministro Gilberto Carvalho para dialogar mandou a Força
Nacional e a Polícia Federal. Os indígenas foram cerceados e impedidos de fazer
contato com seus advogados, com a imprensa; agentes da Força Nacional chegaram
a impedir a entrada de comida.
No
final da noite de ontem, quarta, 8, a desembargadora Selene deferiu
pedido de reintegração de posse feito por dez advogados da Norte Energia S A.
Hoje, o Ministério Público Federal (MPF) do Pará pediu a suspensão da
reintegração. Selene manteve a reintegração, mas reconheceu o movimento como
pacífico e despachou um prazo de 24 horas para os indígenas abandonarem a
ocupação.
Militarização
e relações perigosas
Entre
80 e 100 policias da Força Nacional estiveram presentes no canteiro ocupado
pelos indígenas. No final da tarde desta quinta, a procuradora Federal Thais
Santi chegou ao canteiro e constatou que só ocorreria violência no local caso a
reintegração ocorresse.
De
acordo com relatório feito pela chefe da Polícia Federal em Altamira (PA), os
indígenas estariam ameaçando cerca de 3 mil trabalhadores, o que justificaria a
reintegração. Porém, em contradição, a imprensa noticiou atos de solidariedade
dos funcionários da usina com o movimento dos indígenas.
Em
nota, o MPF/PA mostrou preocupação com a condução da operação de reintegração
de posse, “já que a chefe da PF em Altamira, responsável pelo relatório feito à
Justiça, é casada com o advogado da Norte Energia S.A, Felipe Callegaro Pereira
Fortes, autor do pedido de reintegração de posse. No agravo feito ao TRF1, o
advogado chega a citar o relatório da PF, assinado pela sua esposa”, diz a
nota.
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