Por
Ruy Sposati
23/06/2013
Pressionado
por dois meses de enfrentamento e resistência dos indígenas Munduruku, o
governo federal suspendeu as pesquisas da região do rio Tapajós para a
construção de hidrelétricas. O anúncio foi feito durante reunião em praça
pública no final da tarde deste domingo, 23, em Jacareacanga, extremo oeste do
Pará. Os pesquisadores que estavam em área indígena deixaram a cidade.
“A
Funai e o governo federal como um todo está suspendendo qualquer pesquisa que
estiver sendo feita aqui na região de vocês”, afirmou a assessora da
presidência da Fundação Nacional do Índio Lucia Alberg, apesar do ministro
Gilberto Carvalho ter anunciado publicamente que não suspenderia nem obras, nem
estudos.
“Estamos
nos sentindo muito felizes”, aponta o chefe dos guerreiros Paygomuyatpu
Munduruku. “Ela [Funai] ainda não nos deu nenhuma prova disso, estamos
esperando uma prova, mas estamos muito satisfeitos com o que ela disse”. Em
maio e junho, os indígenas Munduruku realizaram um sem número de ações exigindo
a suspensão das obras e estudos de barragens nos rios Tapajós e Teles Pires,
onde vivem 13 mil pessoas do povo Munduruku.
Em
maio, depois de uma assembleia que reuniu mais de 200 mulheres, caciques,
lideranças e guerreiros, os Munduruku marcharam pelas ruas de Jacareacanga e
juntaram-se a outros indígenas da bacia do Tapajós e do médio Xingu. Realizaram
duas ocupações que paralisaram as obras da usina hidrelétrica Belo Monte por 17
dias, viajaram à capital federal, onde realizaram uma marcha, ocuparam a sede
da Funai e fizeram protestos no Ministério de Minas e Energia e no Palácio do
Planalto. Na última sexta-feira, um grupo de 40 guerreiros expulsou cerca de 25
pesquisadores (e deteve três deles) da empresa Concremat, prestadora de
serviços do Grupo de Estudos Tapajós, consórcio composto por Camargo Correia,
GDF Suez e Eletrobras, entre outros.
Neste
contexto, os Munduruku sofreram um processo de criminalização, difamação e
repressão por parte do governo federal. Notas públicas, declarações à imprensa
e processos judiciais acusavam os indígenas de criminosos e mentirosos,
questionando a legitimidade das lideranças Munduruku, que entraram com
interpelação criminal contra declarações do ministro Gilberto Carvalho.
Pesquisadores
“Nós liberamos os pesquisadores. A gente não quer mais vê-los aqui”, explica a liderança Maria Leusa Kabá. “Se eles voltarem, nós vamos tirar a cabeça dos pesquisadores. Nós somos guerreiros. Nossos guerreiros antigos são conhecidos por serem cortadores de cabeças. Nós não esquecemos nosso passado”, afirma Leusa.
“Nós liberamos os pesquisadores. A gente não quer mais vê-los aqui”, explica a liderança Maria Leusa Kabá. “Se eles voltarem, nós vamos tirar a cabeça dos pesquisadores. Nós somos guerreiros. Nossos guerreiros antigos são conhecidos por serem cortadores de cabeças. Nós não esquecemos nosso passado”, afirma Leusa.
“Vamos
continuar na nossa luta. A gente não quer que eles [estudos] sejam suspensos.
Nós queremos que os estudos e as obras sejam cancelados. A suspensão é uma
vitória parcial”, conclui Paygomuyatpu.
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