segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Yoani Sánchez: "Escutar o outro é básico para a democracia"

A dissidente cubana diz ter "pena" dos militantes que tentaram impedi-la de falar em sua visita ao Brasil e defende uma investigação sobre os protestos


A conversa com a blogueira cubana Yoani Sánchez, de 37 anos, começa com uma brincadeira: “Aqui posso falar tranquila, não?” Depois de cinco anos de frustrados pedidos ao governo comunista para viajar ao exterior, Yoani escolheu o Brasil para iniciar seu giro de cerca de 80 dias por mais de dez países da América Latina e Europa. Na estada de uma semana por aqui, foi hostilizada diversas vezes por manifestantes de grupos de esquerda, que tentaram impedi-la de falar ou responder as suas perguntas. A exibição de um documentário em que é o tópico central, em Feira de Santana, Bahia, e o relançamento de seu livro De Cuba, com carinho (Editora Contexto), em São Paulo, foram interrompidos por causa da balbúrdia. A ÉPOCA, Yoani cobrou uma investigação sobre esses episódios e disse suspeitar da influência direta do regime cubano na organização dos protestos. Ela falou também sobre seu futuro numa possível Cuba democrática e por que não sonha ser presidente de seu país. “Falta-me cinismo para a política.” Mas também falou de temas amenos, como seu longuíssimo cabelo, que definiu como "livre e selvagem como eu".

ÉPOCA – Que mensagem a senhora pensava em trazer ao Brasil? Conseguiu transmiti-la?
Yoani Sánchez –
 Uma mensagem de esperança. A sociedade civil em Cuba está alcançando uma maturidade que vale a pena mostrar ao mundo. É uma Cuba plural, porque às vezes os estereótipos nos fazem parecer uma ilha verde-oliva (referência à cor dos uniformes militares). Queria dizer ao Brasil: “Somos tão plurais e diversos como vocês, só precisamos de um marco legal para expressar essa pluralidade.” Acho que consegui colocar minha voz, apesar de ter sido interrompida muitas vezes.

ÉPOCA– E por que o Brasil como primeiro destino?
Yoani – 
Porque gosto de ser desafiada (risos). Durante os anos em que me foi negado sair de Cuba, vieram do Brasil as maiores manifestações de apoio, inclusive nos momentos em que já tinha perdido as esperanças. Tinha de vir ao Brasil primeiro para receber o abraço dessas pessoas.

ÉPOCA– Não é irônico o fato de que este mesmo Brasil que apoiou tanto sua vinda também a hostilizou?
Yoani –
 Nunca pensei em encontrar um país homogêneo racial, cultural ou religiosamente, muito menos ideologicamente. Não esperava um país em que todos pensassem igual.

ÉPOCA– Mas a senhora imaginava ser recebida como foi?
Yoani –
 Imaginava. Dias antes de viajar, vários blogs oficialistas de Cuba, quase sempre anônimos, já advertiam que me dariam uma resposta contundente no Brasil. Talvez para vocês seja algo pouco comum alguém ser impedido de falar num evento público, mas para mim não é. Desde pequena, testemunho manifestações de ódio em Cuba. Me dá um pouco de pena dessas pessoas (os manifestantes brasileiros). Elas têm muito poucos argumentos. Estava muito aberta ao debate, mas o que encontrei do outro lado foi o extremismo, com gritos e palavras de ordem. Foi um ódio excessivo. Muitos deles nem sequer me conheciam ou leram meus textos. Repetem clichês que não se ajustam à realidade.

ÉPOCA - E a sensação de ter sido escoltada pela Polícia Legislativa no caminho para a Câmara dos Deputados?
Yoani - 
Foi a primeira vez que passei por isso. E ocorreu com uma cidadã pequenininha, que não tem nenhuma importância, como o governo cubano diz. É paradoxal. Se não sou nada importante, por que me proteger tanto? Estamos falando de uma pessoa que nunca militou por nenhum grupo político, nunca agrediu ou matou ninguém, mas apenas põe suas ideias em um blog. É realmente sintomático, como prova da força que tem a palavra.

ÉPOCA – Alguns manifestantes eram ligados ao PT, o partido da presidente Dilma Rousseff. O governo brasileiro deveria emitir uma posição sobre esse episódio?
Yoani – 
Quero evitar me envolver em temas partidários ou sugerir aos brasileiros o que têm de fazer. Mas não há dúvida de que os fatos ocorridos deveriam ser investigados. Os militantes do PT precisam de uma explicação sobre por que alguns colegas impediram atos como a exibição de um filme ou o lançamento de um livro. Se eu militasse num partido e ocorresse algo assim, pediria explicações. Vale a pena investigar, porque não acho que as razões sejam apenas o rechaço a meus textos. Evidentemente, havia alguém atiçando os ódios. É preciso saber quem, o quê, a que distância e de onde é essa entidade que está fazendo isso.

ÉPOCA– Quem é essa entidade?
Yoani –
 Não tenho nenhuma prova. Mas tudo tem o signo muito marcante do tipo de ação que faz o governo do meu país contra os dissidentes.

ÉPOCA– Seria alguma iniciativa da embaixada de Cuba no Brasil?
Yoani – 
Como disse, não tenho provas, mas não acharia estranho. Em Feira de Santana, todos os manifestantes tinham o mesmo documento, impresso da mesma forma. É claramente um sinal de que alguém lhes entregou. E os pontos desse documento se parecem assombrosamente com aqueles com que o oficialismo me ataca.

ÉPOCA– Que pontos?
Yoani –
 Meu suposto vínculo com a CIA, que já é quase uma piada. Outro são os questionamentos sobre o sequestro que sofri em 2009 (ela afirma ter sido agredida e levada de carro por agentes do governo). É o mesmo roteiro de ataques que costumo receber em Cuba. Já estou acostumada a isso e não me traz danos emocionais, mas me incomoda não me darem o direito de me explicar. Sou uma pessoa da palavra. Essas perguntas são feitas para que eu não as responda. São para me difamar.

ÉPOCA– Um militante disse num debate na TV que não houve coerção em Feira de Santana porque não houve violência física. O que a senhora acha desse raciocínio?
Yoani –
 Em minha chegada ao Brasil, no aeroporto do Recife, uma pessoa chegou a puxar meu cabelo. Em Feira de Santana não houve violência física contra mim, graças à intervenção dos organizadores, que me cercaram e me colocaram numa sala até que os ânimos serenassem. Mas o clima ali era de linchamento. A questão não é se houve agressão ou não. Impediram uma pessoa de se expressar. Isso, sim, é coerção, algo muito autoritário. Escutar o outro é um princípio básico da democracia e da convivência pacífica. A lógica foi: “Não estou de acordo com você. Cale-se”.

ÉPOCA – Tanto ativistas da esquerda como parlamentares de partidos da oposição se aproveitaram sua figura para defender seus interesses. Isso a incomoda?
Yoani – 
Não. A vida é aproveitar-se do outro. O governo de Cuba se aproveita de mim para dizer ao mundo que há uma democracia, porque Yoani Sánchez pode escrever em seu blog. Prefiro a manipulação por dizer algo do que por não dizer nada. Se minha opinião serve a alguém, podem tomar minhas palavras sem problema. Sou open source, dou licença gratuita para todos. O que não faço é me alinhar ao pensamento de um partido. Na saída da Câmara, um jornalista me perguntou se eu sabia que alguns deputados que me receberam eram muito conservadoras em temas como o casamento gay. Fui madrinha do primeiro casal gay de Cuba, mas uma das minhas filosofias de vida é a transversalidade. Quero ter contato com todas as forças políticas. Sou uma pessoa de conciliação. Não houve mais gente do PT na Câmara porque não quiseram ir. O embaixador cubano (Carlos Zamora) também foi convidado, mas não foi.

ÉPOCA - Sua visita mudará o “silêncio cúmplice” do Brasil ante a ditadura cubana, usando um termo que a senhora escreveu em seu blog?
Yoani - 
Não quero ter a pretensão de pensar que a simples vinda de uma cidadã a um país enorme como o Brasil mudará a política externa. Mas todas as pessoas que me encontraram nas ruas por aqui me trataram com muito carinho e palavras de estímulo: “Siga”, “resista”, “leio seu blog”, “abaixo a ditadura”. Fora os extremistas que desejam sustentar um cenário utópico de Cuba, tenho a sensação de que o povo brasileiro sabe que Cuba é um Estado sem direitos para os cidadãos. Se um povo começa a mudar sua opinião sobre um assunto de fora, a política exterior terá que mudar um dia.

ÉPOCA– A senhora ficou conhecida por lutar pelo seu direito de viajar ao exterior. Isso conseguido, seu discurso será mais concentrado agora na queda do regime? Quais são seus próximos passos?
Yoani –
 Creio na evolução. Não posso ser a mesma Yoani de 2007 (ano em que lançou o blog Generación Y). Pretendo abrir um jornal em Cuba com os recursos que conseguirei levantar nas viagens por vários países. Ainda não é possível de maneira legal, mas tratarei de achar brechas para conseguir. Não abandonarei o blog, que é minha terapia particular. Mas claro que preciso mudar o discurso, não ficar somente na denúncia, mas sim propor soluções. Minha proposta principal se resume a despenalizar a dissidência. Cobrar que o governo tenha o compromisso de que nenhum cidadão será punido por expressar qualquer ideia. Conheço muitos economistas, sociólogos, gente que quer ajudar a melhorar o país, mas tem medo de passar pela mesma situação de Yoani Sánchez ou dos prisioneiros da Primavera Negra (como ficou conhecido o movimento de repressão do regime em 2003, que resultou na prisão de 75 pessoas). Se houver isso, as propostas aflorarão.

ÉPOCA– A ditadura não durará para sempre, e um dia haverá eleições livres em Cuba. A senhora pensa em se candidatar à Presidência quando isso ocorrer?
Yoani – 
Não tenho a menor vontade. Quando uma figura se destaca em Cuba, nos acostumamos a depositar nela todos os desejos de mudança, quase como uma entidade messiânica. Isso nos fez entregar nosso destino nas mãos de Fidel Castro. Não gostaria que isso se repetisse na Cuba do futuro. Prefiro que o governante do país com que sonho seja um administrador sem nenhum carisma, que não tenha a auréola do salvador da pátria. Não tenho intenção de me candidatar porque tenho uma responsabilidade maior como jornalista. Quero ser incômoda para este governo e para o próximo. Tenho tanto a fazer que não dá para embarcar em uma carreira política.

ÉPOCA – Mas seus admiradores no exterior esperam por isso...
Yoani - 
Muita gente já me abordou sobre isso, sim, mas nunca estive interessada. Não é que digo “não” agora e “sim” depois. Falta-me cinismo para a política. Eu seria um desastre. Nas primeiras duas semanas, diria tudo tão honestamente que isso me causaria todos os problemas do mundo. Que outros se ocupem da política com minúscula. Vou me preocupar com a política com maiúscula.

ÉPOCA - A senhora se incomoda de não ser muito conhecida em Cuba?
Yoani -
 Não sou a pessoa indicada para falar disso, pois pareceria um ato de imodéstia. Mas cada vez que saio às ruas do meu país, seja em Havana ou em um pequeno povoado, muita gente me reconhece. Como? Pela forma como a informação se difunde em Cuba. Há o fenômeno das antenas parabólicas ilegais, que transmitem emissoras da Flórida, do México, onde veiculam reportagens sobre mim. Mas minha intenção não é ser conhecida. Não sou política, não busco apoio popular. A fama é efeito colateral, não resultado do meu trabalho. Não sou uma pop star nem quero competir em popularidade com as novelas brasileiras, transmitidas três vezes por noite na televisão cubana. Sobre eu não ser conhecida, é preciso ir a Cuba e perguntar.

ÉPOCA - Sobre as novelas brasileiras, a senhora já escreveu que elas têm uma influência grande na população ao mostrar situações em que um personagem sai da miséria e realiza seus sonhos. As novelas daqui já fizeram mais que nosso governo para despertar a consciência do povo cubano?
Yoani - 
Acho que são melhores embaixadoras da liberdade. Mas as novelas têm um duplo papel contraditório. Se por um lado trazem informação e oxigênio para mostrar aos cubanos que há outras realidades e não somos o paraíso, por outro funciona como um sonífero. Muita gente compra caixas com novelas inteiras no mercado informal e fica o dia inteiro na frente da TV.

ÉPOCA - A senhora disse que “falta dureza” do Brasil quanto aos direitos humanos em Cuba. Essa é questão mais delicada envolvendo a relação dos dois países?
Yoani -
 O governo brasileiro encampou a luta contra o embargo americano a Cuba, mas nosso maior problema não é o conflito entre Cuba e Estados Unidos, mas o conflito Cuba e seus cidadãos. Recomendaria, muito humildemente, complementar a política externa para Cuba com a questão da ausência de liberdade de expressão, de associação. Senão, parece apenas um assunto de xadrez político. Se estão pressionando pelo fim do embargo, muito bem, mas por que não pressionar pelo fim do bloqueio que o governo impõe a nós mesmos?

ÉPOCA - Que impressão a senhora levará do Brasil?
Yoani - 
Fabuloso. Encontrei muita pluralidade. Confirmei a frase que um amigo me disse: “Os brasileiros são como os cubanos, mas livres. Todos os rostos que vi me lembram os de Cuba, e também a gestualidade. Mas, ao falar com os brasileiros, me espantei com a naturalidade com que falavam de temas políticos. No aeroporto do Recife, fiquei em um escritório à espera do carro para me levar dali porque os manifestantes poderiam bloquear minha passagem. Ali, uma controladora de voo falou de corrupção e falta de transparência no Brasil de uma forma que seria impensável em Cuba. Lá, nós murmuramos. Se vamos falar de Fidel Castro em local público, fazemos um gesto de alguém barbudo. Se o assunto é Raúl Castro, puxamos os olhos, por causa de seus traços achinesados. Ninguém fala em voz alta de política.

ÉPOCA - As pessoas no Brasil estão falando sobre seu cabelo. Li um post antigo no seu blog sobre o fato de que sua irmã ria da senhora por causa do seu “cabelo de brasileira”, pois parecia com a da cantora Maria Bethânia.
Yoani - 
Sim. Quando era menina, minha mãe dizia meio de brincadeira, meio sério. Era a época em Cuba, no início dos anos 80, que se ouvia muito a música brasileira, como Maria Bethânia, Gal Costa, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Milton Nascimento. Me parecia muito bonito os cabelos que eles tinham, um cabelo livre. Deixo crescer meu cabelo, que é bastante selvagem. Mas não há uma razão especial. Já tive todos os tipos possíveis de cabelo. Uma vez tive o cabelo raspado, durante dois anos da minha vida.

ÉPOCA - Quando?
Yoani -
 De 1992 a 1994.

ÉPOCA - Mas por quê?
Yoani -
 Bom, primeiro porque era a época de Sinéad O’Connor (cantora irlandesa que tinha o cabelo raspado) e estava na moda. Mas também naqueles anos em Cuba havia uma crise material, econômica e financeira tão forte que comprar xampu ou conseguir xampu para o cabelo era quase impossível. Sob essa condição de colapso material, surgiram por todos os lados muitas epidemias de piolho. Bom, então decidi raspar o cabelo para evitar todos esses problemas, a compra de xampu e a aplicação (de remédios) para os piolhos. Foi muito difícil, porque na rua as pessoas gritavam muitas coisas para mim.

ÉPOCA - O quê, por exemplo?
Yoani -
 Me chamavam de lésbica. Porque era uma época que em Cuba não estavam acostumados com o cabelo raspado. Me agrediam muito verbalmente. E um belo dia deixei o cabelo crescer e...

ÉPOCA - Aqui perguntam “por que ela não corta o cabelo”?
Yoani - 
Já me perguntaram se eu tinha uma promessa... Não, não é isso. Ele é livre e selvagem como eu. Não há cuidados especiais. Não me penteio muito. Não me maquio. Não tenho tempo para isso. Não pinto as unhas. Ele (o cabelo) está aí e tem seu espaço. Eu tenho o meu. Nós nos respeitamos (risos).

ÉPOCA - A senhora não é uma pessoa muito vaidosa, neste sentido?
Yoani - 
A minha vaidade se reflete em outra coisa. Mais que a vaidade física, não passo minha vida vendo as coisas que não escolhi, compreende? São coisas que não selecionei para a minha vida. Uma é o meu corpo. Veio assim.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

‘Não acho que Yoani Sánchez seja agente de nada’, diz editor


O 'Entre Aspas' apresenta um debate ferrenho sobre as posições e influências da blogueira cubana, em visita ao Brasil esta semana.

G1 / Globo News

Porque ela provoca tanta controvérsia? Desde que desembarcou no Brasil, Yoani Sánchez é alvo de constantes protestos de esquerdistas e simpatizantes do regime de Fidel Castro. A blogueira é acusada de estar a serviço dos Estados Unidos, a superpotência que há mais de meio século mantém um bloqueio econômico contra Cuba. Daí vem a agressividade das manifestações.
Mas existe um outro lado nessa história: com um blog na internet e críticas aos irmãos Castro, tornou-se um dos maiores símbolos da luta pela democracia em Cuba. Esta é a primeira vez em seis anos que Yoani consegue viajar ao exterior, graças à mudança na lei de imigração no país. Admirada pela coragem, premiada em várias partes do mundo, Yoani tornou-se um grande problema para o regime cubano.

A resposta aos protestos
Qual será o impacto dessa viagem na própria ilha? Com seu blog censurado, que influência ela tem em seu país. Será que as manifestações da esquerda brasileira vão intimidar Yoani? A primeira reação da visitante foi de ironia: “Essa é uma expressão da democracia que eu espero ver em Cuba”, disse.
“Ela não é uma dissidente no sentido tradicional. É uma pessoa comum, que mostra no seu blog as pequenas dificuldades do cotidiano cubano através do blog”, explica o jornalista Sandro Vaia.
O editor do site Opera Mundi, Breno Alman, analisa: “Em Cuba, ela é uma figura quase desconhecida. Não acho que ela seja agente de nada. É uma figura que, pelas suas críticas, foi abraçada por um conjunto de correntes críticas ao regime de Fidel fora da ilha e que buscaram nela uma voz diferente das tradicionais nas quais sempre apostaram antes”.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Conversas paralelas - Roda Vida



Por Luciano Martins Costa 

A entrevista da ex-senadora Marina Silva ao programa Roda Viva, da TV Cultura de São Paulo, transmitido na noite de segunda-feira (18/2), não ganhou repercussão na imprensa na terça-feira (19/2). Somente o Estado de S. Paulo noticiou o encontro da ex-candidata a presidente da República com seis jornalistas, realizado apenas dois dias depois de ela haver lançado publicamente a Rede Sustentabilidade, que a imprensa entende ser um novo partido político.
O programa acabou sendo um desencontro de visões de mundo: os entrevistadores demonstraram não entender a proposta, a ex-senadora não conseguiu explicar claramente seu projeto. Algumas expressões que ela usa como “ativismo autoral”, ou “depuração pelo controle ético”, ficaram flutuando no cenário da emissora, sem que os participantes fossem capazes de lhes dar um significado no contexto jornalístico.
Claramente, há um descompasso entre o pensamento de Marina Silva, que se consolida em sua proposta de ativismo político, e o que a imprensa convenciona como atividade política. Um diálogo assim improvável acaba necessariamente se transformando em conversas paralelas, e foi isso que se viu: em determinado momento, a entrevistada chegou a ser questionada se o movimento que lidera não seria apenas “um PSD que não come carne”.
O autor da pergunta – que se esforçava para fazer uma ironia – estava apenas verbalizando a incapacidade da imprensa tradicional de entender o que se encontra fora da caixinha de convenções do discurso político. Ele se referia ao fato de Marina Silva ter declarado que a Rede Sustentabilidade não estará “nem à esquerda, nem à direita, mas à frente”.
A comparação com a frase do ex-prefeito paulistano Gilberto Kassab, que ao criar o PSD afirmou que seu partido não teria uma posição ideológica definida, revela que o jornalista não entendeu a proposta do movimento.
Os entrevistadores também pareciam não compreender que a iniciativa não está necessariamente vinculada a uma candidatura presidencial em 2014. Para se constituir como partido regular, a Rede precisa coletar pelo menos 500 mil assinaturas até setembro e finalizar o processo de registro no Tribunal Superior Eleitoral até dezembro deste ano, agenda considerada difícil de ser cumprida.

Universos paralelos
Ainda que tivesse contado com os melhores profissionais de comunicação do mundo ao se preparar para a entrevista, Marina Silva não poderia ter sido mais clara: o movimento que lidera procura se sintonizar com as redes sociais digitais, ou melhor, procura ser validado nas redes sociais antes de se apresentar como uma proposta política formal.
O que ela chama de “ativismo autoral” é o comportamento típico dos protagonistas das redes, que se manifestam espontaneamente sobre os mais diversos assuntos e, eventualmente, agregam-se em campanhas públicas, como o manifesto que pede o afastamento de Renan Calheiros da presidência do Senado.
Mas, com exceção da representante da Agência Pública de jornalismo investigativo, os interlocutores pareciam falar outra linguagem. Determinados momentos da entrevista revelam claramente o descompasso entre a proposta em debate e o modo como os jornalistas presentes ao estúdio da TV Cultura compreendem o mundo.
Por exemplo, quando um dos entrevistadores viu elementos de subversão na iniciativa da senadora e seus parceiros, ao inferir que o movimento pela sustentabilidade procura se infiltrar no capitalismo para mudá-lo por dentro. A insistência em questionar como o movimento vai barrar o ingresso de políticos com “ficha suja” também mostra que os jornalistas não entenderam que a proposta é identificar lideranças entre os protagonistas das redes que se entrelaçam na sociedade, e obter dessas redes o aval a representantes já lançados na política.
O projeto liderado por Marina Silva não pode ser analisado pelos padrões tradicionais da mídia, mas os jornalistas precisam encaixá-lo no contexto que conhecem. Dessa forma, o encontro estava destinado a produzir mais perguntas que respostas: jornalistas, em geral, pensam linearmente, porque são treinados para conduzir os elementos de informação a um ponto de convergência onde a narrativa possa ser interpretada de maneira homogênea por um grande número de receptores. A proposta da Rede Sustentabilidade, ao contrário, tem seu maior valor justamente na maior diversidade de interpretações que for capaz de captar e representar.
São dois universos paralelos.

Repúdio à exploração sexual em Belo Monte



A Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos - SDDH, o Comitê Metropolitano Xingu Vivo e diversas organizações, movimentos e ativistas sociais estarão organizando uma manifestação em repúdio ao descaso dos governantes, autoridades e consórcios responsáveis pela construção da hidrelétrica de Belo Monte, cuja omissão e/ou cumplicidade, tem permitido que a região da Volta Grande do Xingu se transforme em um ambiente cruel e nocivo para as populações locais.

A recente descoberta de uma rede de tráfico humano para exploração sexual expõe um dos aspectos mais danosos dos grandes projetos que saqueiam as riquezas naturais da Amazônia: a fragilização do ser humano e sua transformação em simples mercadoria.

Mais uma vez os movimentos sociais irão às ruas denunciar o Belo Monstro. Mais uma vez exigiremos a suspensão imediata desse projeto insano e destruidor. O protesto será em frente à sede do Consórcio Construtor Belo Monte - CCBM, em Belém.

Não nos calarão!

Pare Belo Monte! 

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Por que falam tanto de Yoani?



Por uma razão: ela fala coisas que os americanos querem que sejam ditas.

Paulo Nogueira - O jornalista, baseado em Londres, é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

Yoani Sanchez, a blogueira cubana, recebe uma cobertura enorme da mídia brasileira e internacional por uma razão: ela critica Cuba.
Por isso ela será tratada como estrela pop na turnê mundial que começa agora, entre os brasileiros. (O governo cubano deu uma absurda contribuição à aura de ‘martírio’ de Yoani com sua indefensável política restritiva para viagens e para o livre debate político, mas isto é outro assunto.)
No Brasil, sabemos que escrever contra Lula encurta o caminho rumo a colunas no Globo, na Veja, no Estadão e na Folha. Ou a participações na CBN e na Globonews, e assim a vida caminha.
No mundo, escrever contra Cuba, ainda mais se você é cubano e ainda mais se você vive lá, como Yoani, é garantia de ampla cobertura da mídia americana, cuja repercussão é planetária.
Ao longo dos anos, esse tipo de conteúdo serviu aos interesses americanos de fazer propaganda contra qualquer coisa parecida com socialismo.
Ajudou também a dar argumentos, perante a opinião pública mundial, para que os Estados Unidos mantivessem um abjeto bloqueio econômico que impediu Cuba de se desenvolver desde a Revolução de Fidel.
Essa propaganda serviu também de apoio às inúmeras tentativas que os Estados Unidos fizeram de matar Fidel e de tornar Cuba outra vez um quintal americano encostado em Miami — ou um bordel, como era antes.
O que teria sido de Cuba sem a impiedosa perseguição americana?
Os Estados Unidos descobriram, nos anos 1950, a receita de golpes no exterior. Propaganda para desestabilizar regimes, e depois a presença nas sombras da CIA.
A receita funcionou na Guatemala e no Irã. Na Guatemala, o presidente progressista Jacobo Arbens foi sabotado por ter desapropriado terras (não cultivadas) de uma empresa americana que produzia bananas, a United Fruits. Arbens queria melhorar a vida de camponeses miseráveis.
Os americanos o tacharam de comunista por meio de aliados na mídia, financiaram um exército de mercenários sob o comando de um general assassino exilado em Honduras e acabaram derrubando Arbens.
Nasciam assim as Repúblicas das Bananas.
Num documentário, lembro a cena de Nixon, então vice-presidente, saudando diante das câmaras de televisão o general. “Pela primeira vez na história, um povo derruba um governo comunista”, disse Nixon.
O povo guatemalteco nada tivera a ver com o golpe. Foi mais uma das múltiplas mentiras contadas por Nixon em sua vitoriosa carreira.
Vale a pena uma pausa para ver Nixon em ação, logo no início do documentário.
A mesma receita foi aplicada no Irã do progressista Mossadegh, com os mesmos resultados. Num livro sobre o golpe no Irã do renomado jornalista investigativo americano Stephen Kinzer, ele ouviu um agente da CIA que, naqueles dias, era pago para escrever artigos anti-Mossadegh que eram imediatamente publicados na imprensa iraniana conservadora.
Dois sucessos não levam necessariamente a três.
Os americanos usaram a mesma tática para derrubar Fidel, e sofreram uma avassaladora derrota no episódio que passou para a história como a Invasão da Baía dos Porcos.
O povo cubano, mais que o próprio regime de Fidel, rechaçou os americanos. Os cubanos foram mais firmes que os guatemaltecos e os iranianos – provavelmente porque conhecessem muito bem os reais interesses dos Estados Unidos por trás do discurso de campeões do mundo livre.
Nos últimos anos, você recebe tratamento heroico dos Estados Unidos se falar mal do islamismo, ainda mais se for oriundo do universo muçulmano.
O melhor exemplo disso é a somali Ayaan Hirsi Ali, que ganha a vida nos Estados Unidos dando pancadas no Islã. Ayaan, antes de terminar nos Estados Unidos, viveu como refugiada na Holanda. Lá, convenceu um descendente de Van Gogh a fazer um filme antiislâmico e o resultado é que o pobre Van Gogh foi morto por um radical. Ficou pesado o ar para ela na Holanda e então os Estados Unidos a receberam com tratamento vip.
Yoani e Ayaan são casos parecidos, filhas da mesma lógica.
O maior mérito de ambas é falar o que os americanos querem que seja falado. São, para usar a expressão de Boff, escaravelhas internacionais.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Passagem de meteorito pela Rússia deixa pelo menos 400 feridos


Agências de Notícias


Pelo menos 400 pessoas ficaram feridas nesta sexta-feira após a passagem de um meteoro na região dos montes Urais, no centro da Rússia. O fenômeno natural causou a queda de bolas de fogo em direção à Terra, provocando tremores e a queda de bolas de fogo.
A passagem do corpo celeste provocou um rastro branco que pôde ser visto em um raio de 200 km, incluindo a cidade de Iekaterimburgo. Segundo a agência de notícias Reuters, a cidade mais afetada foi Tchielabinsk, onde moradores ouviram um barulho similar ao de uma explosão.
Após o ruído, foi vista uma luz forte e uma onda de tremor. As autoridades locais afirmam que pelo menos 400 pessoas procuraram os hospitais da cidade com ferimentos leves, em sua maioria causados por estilhaços dos vidros das janelas que quebraram após a passagem do meteorito.
Moradores da região ficaram em pânico com o som e a claridade do fenômeno natural. Além dos vidros quebrados, alarmes de carros foram disparados e o serviço de telefonia celular ficou fora do ar. O teto de folhas de zinco de uma fábrica de 6000 m_2_ caiu.
Apesar dos estragos e do susto, não há informações de feridos graves após o incidente. O presidente russo, Vladimir Putin, e o primeiro-ministro, Dmitri Medvedev, foram comunicados sobre o fato pela administração da região dos montes Urais.
A quantidade de feridos foi considerada alta para uma passagem de um meteoro. Em geral, o fenômeno provoca apenas susto nos moradores da região atingida, devido ao barulho provocado pelo rompimento da barreira do som.
Estes corpos celestes viajam a uma velocidade maior que a do som, assim como os caças militares. As autoridades locais ainda não sabem se o fenômeno foi provocado pela queda de diversos meteoritos ou de um único meteoro.
Incidentes do tipo são raros. Acredita-se que um meteorito tenha devastado uma área de mais de 2.000 quilômetros quadrados na Sibéria, também na Rússia, em 1908.
Em sua conta no microblog Twitter, a agência espacial europeia descartou até o momento qualquer relação do incidente com a passagem de um asteroide de 45 metros pela Terra nesta sexta.

Um papa sem encanto


Paulo Moreira Leite
Desde janeiro de 2013, é diretor da ISTOÉ em Brasília. Dirigiu a Época e foi redator chefe da VEJA, correspondente em Paris e em Washington. É autor do livro A mulher que era o general da casa -- Histórias da resistência civil à ditadura.







A renúncia de Bento XVI contém lições interessantes

Empossado com um programa que pretendia reconduzir a Igreja para um mundo fechado nela mesma, voltada exclusivamente para debates de natureza espiritual, longe das questões que afligem os homens e mulheres do mundo, Bento XVI deixou o trono da Igreja em ambiente de decepção e melancolia.
Um de seus admiradores afirma que, embora tenha sido um grande teólogo, Bento XVI fracassou como Papa.
Não é de surpreender. Não tenho a menor condição de debater teologia. Mas, ateu desde a infância, tenho capacidade de examinar os Papas como aquilo que são – chefes políticos da Igreja. E é nesta função que o fracasso de Bento XVI contém elementos didáticos.
Embora o conservadorismo católico tenha produzido vários representantes ao longo da História da Igreja, Bento XVI não era apenas um Papa fora do tempo – era um Papa contra seu tempo.
Num mundo onde a cultura tornou-se plural, as sociedades se mostram complexas, os cidadãos se recusam a abrir mão de sua autonomia, seus direitos e opções de vida, a proposta de Bento XVI era uma forma de clausura política e cultural.
Ele se recusava a dar respostas consistentes para a vida das pessoas do século XXI, fosse em relação a vida em família, aos direitos das mulheres, às angustias dos mais pobres.
Alguém acha viável ter audiência junto às mulheres sem falar sobre aborto?   
Ou conversar com a juventude sem falar da liberdade sexual?  
Ou procurar audiência junto às grandes populações do planeta sem responder à pobreza, à desigualdade?
Basta assistir a uma missa num bairro popular de São Paulo – recomendo a Achiropita, no Bixiga – para se entender o que estou dizendo. É fácil perceber quando os fiéis prestam atenção, quando se empolgam, quando ficam entediados. 
Este conservadorismo radical  de Bento XVI queria transformar o isolamento social da Igreja em virtude.
Antecessor de Bento XVI, João Paulo II era um Papa conservador, que deu início a uma política de combate à Teologia da Libertação e mesmo perseguição ao clero comprometido com os interesses dos mais pobres e oprimidos, como aconteceu em São Paulo, com dom Paulo Evaristo Arns – cardeal que esteve longe de liderar alguma fração esquerdista da Igreja, mas jamais abandonou valores como o respeito pelos direitos humanos e a democracia.
Mas João Paulo II nunca deixou de dar respostas – à sua maneira – às questões da vida concreta. Sua pregação tinha elementos democráticos, sua mensagem procurava responder ao sofrimento de homens e mulheres comuns – e por isso ele atraía multidões por onde passava. As viagens de Bento XVI jamais tiveram a mesma vibração nem a mesma acolhida, num sinal de que seu papado acentuou uma tendência histórica da Igreja.
No início dos anos 80, o francês Marcel Gauchet escreveu um clássico sobre as religiões, “O Desencantamento do Mundo”. Ele explica a decadência universal do catolicismo pelas mudanças na vida em sociedade.
Para Gauchet, o apogeu da religião ocorreu em épocas históricas em que as pessoas acreditavam que viviam num mundo encantado. Simplificando uma teoria muito mais complexa: homens e mulheres acreditavam viver num mundo em que a religião era uma forma de magia. Atribuíam aos céus suas alegrias e tristezas, sucessos e desgraças. Pensavam que a colheita era obra divina, tinham certeza de que havia uma vida após a morte – e atribuíam cada passo da existência à decisão de Deus. Acreditavam em milagres.
Naquele mundo de encantamento, temia-se o pecado como uma ação terrível – e a punição divina como um castigo material.
Na medida em que a sociedade de modificou, os meios de subsistência evoluíram, a educação e o conhecimento se ampliaram inclusive para as populações muito pobres,  muitas conquistas científicas se mostraram indispensáveis para o bem-estar de todos, era preciso falar a outros homens e mulheres, outras angústias e preocupações. João XXIII e, em certa medida, Paulo VI fizeram esforços neste sentido. Ao contrário do que sugeriam seus inimigos, a Teologia da Libertação e correntes semelhantes ajudaram a prolongar a audiência da Igreja. Deram-lhe uma audiência que as correntes conservadoras jamais teriam alcançado.
O projeto de Bento XVI era fazer o caminho de volta. Chegava a dizer que preferia uma Igreja menor e menos influente, mas composta por fiéis convictos e irredutíveis, do que uma comunidade ampla e pouco consistente.
Foi esta sua aposta política.
Um engano, que o crescimento das igrejas pentecostais demonstram pelo avesso: conseguem combinar a angustia material dos mais pobres com a promessa de milagres aqui e agora.
Falando a um mundo em que poucos creem, Bento XVI desencantou-se.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Novo modelo de exploração garimpeira proíbe uso de PCS e dragas no rio Tapajós

Por Nazareno Santos

Após sucessivas reuniões com debates, críticas e propostas, na noite de quinta-feira, dia 07, Itaituba criou um divisor de águas virando uma página que em sessenta anos de garimpagem ainda mantém um modelo de exploração arcaico e que agora entra em linha de vanguarda com uma visão mais ampla e de futuro.
Foi repassada par a Semma Estadual proposta de instrução normativa para a nova fase de exploração da atividade garimpeira no Tapajós. O documento foi elaborado por várias entidades de classe representativas da categoria, assim como também a Prefeitura, Câmara de vereadores, CDL, Associação Comercial e outros. O documento foi oficialmente assinado pelo Secretário de Estado de Indústria, Comércio e Mineração (Seicom), Davi Leal; por José colares, Secretário de Estado de Meio Ambiente (Semma); Jandira Rodrigues, Secretária de Meio Ambiente e produção de Itaituba; DNPM, Prefeitura e mais doze entidades de classes de Itaituba, Jacareacanga e Novo Progresso.


A proposta objetiva a normatização da atividade garimpeira no Tapajós com a meta de minimizar impactos ambientais, e ajustar a conduta para que se torne viável a obtenção ou renovação de Licença Ambiental, que no documento ficou definida nas categorias, garimpo de com a utilização de escavadeiras hidráulicas (conhecida por PC), garimpo por meio de equipamento flutuante (dragas, balsas, Chupadeiras, balsinhas). De acordo com o secretário de estado José Colares, da Semma, a medida foi resultado de um pacto com Itaituba através dos representantes da garimpagem e outros segmentos empresariais, políticos, enfatizando que o Estado honrará o acordo, mas será rigoroso também para que tudo que foi estabelecido na instrução normativa seja também respeitado pelo setor  mineral.
Em sua primeira parte a instrução normativa traz orientações gerais para todos os tipos de garimpos onde será exigida daqui pra frente saúde e segurança do trabalhador, uso obrigatório de equipamentos de proteção individual, em área de garimpeiro sequeiro deve ser obrigatoriamente construído latrina e local para absorver resíduos sólidos com aterramento do lixo co distância mínima de 40 metros após o limite legal das Áreas de Proteção Permanente (APP).
Estabelece, ainda, que seja dado tratamento adequado ao resíduo reciclável (tais como óleo, pilha e outros, assim como também água fervida e filtrada para efeito de consumo. Os garimpos que utilizam bico jato e chupadeira (par de máquinas) deverá usar bico jato a uma distância mínima respeitando a área de amortecimento da Área de Proteção Permanente (APP), correspondente a margem do rio, de acordo com o que estabelece o Código Florestal.
Fica expressamente proibido a garimpagem com par de máquina em todos os afluentes diretos e indiretos do rio Tapajós, com a extração com par de máquina obedecendo várias recomendações entre elas dimensões máximas dos barrancos 20 x 20, avanço de lavra (exploração do barraco seguinte) só será permitido com a recuperação concomitante ao barranco anterior, sendo em um dos seus treze artigos também obrigatória a recuperação do relevo com reflorestamento da área total alterada após exaustão da atividade. Além do mais deverá ser apresentado um técnico responsável com ART para extração mineral e recuperação ambiental. Em relação ao garimpo que explora ouro com equipamentos flutuantes (dragas, balsas chupadeiras, barcos, escariantes, balsinha, chupão e outros) foram estabelecidas 9 condicionantes ficando proibido a utilização dos equipamentos flutuantes em todos os afluentes direto e indiretos do rio Tapajós. Por outro lado, os equipamentos flutuantes para serem usados no rio tapajós deverão ser cadastrados com vistas ao controle e vistoriados pela Semma, e órgãos de competência devem atuar em uma distância mínima de 1000m de um equipamento flutuante para outro, ficando também mil metros distantes da margem do rio Tapajós.
Também o equipamento flutuante só poderá usar bomba de especificação de até 16 polegadas. O estudo ambiental deve descrever o número de equipamentos flutuantes a ser utilizado na PLG atendendo as distâncias estabelecidas acima no rio Tapajós, sendo que será aceita apenas a quantidade de 40 equipamentos flutuantes. Sobre o uso de mercúrio o mesmo dever ser controlado em circuito fechado ou com equipamento sem utilização de mercúrio a ser estabelecido em regulamentação específica para o mercúrio, também deve ser apresentado um técnico responsável com ART para extração mineral.
Para as PCs torna-se obrigatório o cadastramento desse tipo de máquina com apresentação de documentos comprobatórios de nota fiscal de origem da PC junto ao órgão ambiental, pois o uso de escavadeiras hidráulicas só será permitido para o desenvolvimento de lavra em tiras” Strip mine” obedecendo as dimensões máximas de 15 x 50m. Também se faz necessário separar meio metro da capa do lacral para melhor recuperação do solo, sendo que o avanço de lavra (exploração da tira seguinte) só será permitido com a recuperação concomitante da tira anterior. Também deve ser apresentado um técnico responsável com ART para extração mineral e recuperação ambiental.
A assinatura do documento aconteceu por volta das 19 horas no auditório da Prefeitura onde os secretários de Estado, prefeita Eliene Nunes, representantes de sindicatos, cooperativas e associações assinaram o documento se comprometendo em cumprir os acordos estabelecidos em propostas tiradas de várias reuniões e também fizeram discursos reiterando o compromisso feito entre o Município, Estado e União para um evento considerado por eles como “histórico”.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Lideranças indígenas ameaçadas de morte não têm proteção, assassinatos continuam impunes


A reportagem é de Ruy Sposati e publicado pelo sítio Campanha Guarani, 04-02-2013

Indígenas incluídos no Programa de Defesa de Defensores de Direitos Humanos do governo federal não recebe o monitoramento prometido pela plataforma.

As três lideranças indígenas do Mato Grosso do Sul ameaçadas de morte estão sem proteção policial. É o que relatam Eliseu Lopes, Kaiowá de Kurusu Ambá, Otoniel Ricardo, Guarani de Karapó, e Lindomar Terena, da terra indígena Terena Cachoeirinha, incluídos no Programa de Defesa de Defensores de Direitos Humanos do governo federal. Segundo os indígenas, nenhum deles recebe o monitoramento prometido pela plataforma.

Todos foram incluídos no programa por serem lideranças de suas comunidades que, no contexto da luta pela terra, sofreram ameaças de morte.

Lindomar é uma das principais referências no universo da luta dos Terena, e está diretamente envolvido no processo de retomada do território tradicional Cachoeirinha, desde em 2003.

Otoniel é membro do Conselho Continental da Nação Guarani e uma das lideranças mais conhecidas do Estado. Eliseu é membro da Articulação dos Povos Indígenas Brasileiros (APIB), professor e uma das principais lideranças da quarta tentativa de retomada de Kurusu Ambá, em 2011, quando foi ameaçado de morte.

Kurusu Ambá: Descaso e impunidade

Em Kurusu Ambá, no município de Coronel Sapucaia, a história de ameaças e assassinatos começa há seis anos atrás, durante a primeira tentativa de retomada do território tradicional.

Na madrugada do dia 10 de janeiro de 2007, cerca de 40 pessoas em 10 caminhonetes cercaram o acampamento de Kurusu Ambá, disparando tiros contra os indígenas. Na ocasião, a ñande sy – rezadora – Xurete Lopes, de 73 anos, foi assassinada a tiros. Outro Kaiowá também foi ferido com três tiros na perna.

Na segunda tentativa de retomada, em julho de 2007, Ortiz Lopes foi morto. Em 2009, na terceira reocupação, Oswaldo Lopes foi assassinado. Outros cinco indígenas da comunidade têm cicatrizes de feridas de balas pelo corpo, atingidos durante ataques de seguranças particulares contra o grupo.

Nenhum inquérito sobre estes assassinatos foi concluído. Os ataques permanecem impunes. Os assassinos nunca foram levados a julgamento.

Terena: Ameaçados na cidade e no campo


Lindomar foi incluído no Programa em 2011. “A gente continua do jeito que está [sem proteção]. O que eles [a equipe do Programa] fazem é ligar, perguntar se está tudo bem”, conta o indígena. “Disseram que iam instalar câmeras em casa, e que eu ia ser sempre acompanhado por dois ou três policiais, onde eu fosse. Mas isso só ficou no papel. O que a gente faz é informar eles em Brasília quando acontece alguma coisa urgente. Mas assim não dá para eles agirem prontamente”.

No ano passado, já sob a proteção do programa, Lindomar relata duas situações de ameaça. Uma delas ocorreu na terra indígena Kadiwéu, em Bodoquena, região do Pantanal, quando um historiador, um advogado e quatro lideranças indígenas – entre elas, Lindomar – foram perseguidos por cerca de 20 homens armados em seis caminhonetes.

Na outra, o Terena relata ter sido ameaçado por um fazendeiro em um mercado do perímetro urbano do município de Miranda. “Eu estava com um professor [Terena] fazendo compras, quando o fazendeiro e o gerente do mercado fizeram uma cena. O gerente perguntou pra o fazendeiro ‘se ele conhecia o Lindomar’; e apontou pra mim.

Nisso, o fazendeiro veio na minha direção dizendo ‘eu vou lá falar com esse vagabundo’, e me deu uma ombrada. Circulou até o final do corredor do mercado, voltou e me deu outra ombrada. Ele queria que eu entrasse na provocação dele. Aí era fácil ele arrancar uma arma e dizer que eu tinha provocado ele. Eu não reagi, mas isso me preocupou porque, pra ir pra aldeia, nós passamos na frente da fazenda dele. Nesse dia eu não voltei pra aldeia, fiquei enrolando na cidade”.

Segundo Lindomar, em ambas as situações, não havia presença policial nem da equipe do Programa. O Terena acredita que a garantia do direito da terra aos indígenas é que irá por fim às ameaças contra sua vida. “Enquanto não houver demarcação, nenhuma medida preventiva vai resolver. Elas são passageiras. O que resolve a situação das ameaças é o governo demarcar as terras”, conclui.