quinta-feira, 13 de novembro de 2008

REDE TV! E BAND FALTAM À AUDIÊNCIA SOBRE CASO ELOÁ NA CÂMARA


Carlos Soares Martin, de São Paulo





Rede TV! e a TV Bandeirantes, apesar de serem convidadas para a audiência pública que, nesta terça-feira (11/11) discutiu a cobertura da mídia no caso Eloá (uma adolescente que foi morta pelo ex-namorado Lindemberg Alves, em Santo André, São Paulo), não participaram do encontro. A Rede TV!, Record e Globo fizeram entrevistas com Lindemberg Alves e foram acusadas pela polícia de atrapalharem as negociações e influenciar no desfecho do caso. A iniciativa partiu da Comissão de Direitos do Consumidor.

Na tarde desta terça, o deputado Ivan Valente (PSOL-SP) apresentou vídeos que mostram a interferência da mídia nas negociações. “Nós chamamos as emissoras porque tiveram claramente participação no desfecho trágico do caso Eloá. Quebrou-se o código de ética e extrapolaram os limites em busca de audiência. A informação virou uma grande mercadoria que visa ao lucro”, disse Valente.

Participaram ainda da audiência mais sete parlamentares, o promotor de Justiça de Santo André Augusto Rossini, o pesquisador sênior do núcleo de mídia da Universidade de Brasília (UNB) Venício Arthur de Lima, a presidente do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda), Maria Luiza Oliveira, o representante da TV Globo Evandro Guimarães e o representante da TV Record Márcio Novaes.

O promotor de Justiça de Santo André disse, em sua exposição, que demorou duas horas para poder falar com Lindemberg porque ele estaria negociando com emissoras de TV. “Fui chamado lá por exigência do próprio Lindemberg, que queria alguém ligado à Justiça e aos direitos humanos para não sofrer retaliações, e ele só acreditou quem eu era eu quando dei uma carteirada via TV”, acrescentou.

Segundo Ivan Valente, a TV Globo admitiu que talvez tenha cometido um erro ao fazer a entrevista com Lindemberg. A TV Record disse que cometeu “excessos” mas que, em nenhum momento, fizeram um mau jornalismo. Disse ainda que os parlamentarem não poderiam cometer infrações à liberdade de imprensa, ao questionarem a qualidade da apuração da TV no caso.

UNIVERSAL E REDE RECORD PREPARAM-SE PARA SEPARAÇÃO EM 2010

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Por enquanto, os programas e cultos evangélicos da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd) estão restritos às madrugas na grade de programação da Rede Record. Mas isso já não deve mais acontecer no ano de 2010, quando a emissora pretende separar definitivamente a igreja do canal de TV.


Reportagem do Meio&Mensagem dá conta de que a estratégia partiu do presidente da ordem religiosa e principal acionista da Record, Edir Macedo. O objetivo é mostrar ao mercado e ao público que a Iurd é apenas um dos anunciantes da casa e não proprietária dela.

O vice-presidente comercial da emissora, Walter Zagari, disse que o projeto de eliminar o conteúdo evangélico ainda está na fase inicial e a direção não tomou nenhuma posição definitiva sobre o assunto.

Zagari explicou que, quando o afastamento ocorrer, o investimento da Universal na Record poderá ser aplicado para ampliar suas instalações ou até comercializar novos espaços, em outras redes. Para ele, essa separação provaria que as receitas e os negócios da emissora e da Iurd não estão atrelados.

"Considero que 99% das pessoas do mercado já entendem não existir nenhuma relação empresarial entre a igreja e a televisão. O 1% que sobra são os mais radicais, que não conseguem enxergar a realidade como ela é", disse.

O conteúdo evangélico é exibido, diariamente, na faixa entre 1h e 6h15min.
Segundo a assessoria da Record, a emissora desconhece qualquer comentário neste sentido, mas afirma que o contrato de locação da Iurd termina em 2010.

sábado, 8 de novembro de 2008

CÉSAR TRALLI NEGA TER RECEBIDO INFORMAÇÕES PRIVILEGIADAS DO CASO SATIAGRAHA


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Em entrevista ao patriciakogut.com, o jornalista César Tralli refutou as acusações de que teria tido acesso a informações privilegiadas da Polícia Federal na Operação Satiagraha.

“Estar no lugar certo na hora certa, como aconteceu nesse caso, não é fruto de um tratamento privilegiado, mas de muito trabalho, de informações, aí sim, privilegiadas. Não é só a PF que conta detalhes de investigações como essas. Mantemos contato com os advogados dos acusados, com funcionários de empresas ligadas aos investigados, temos fontes espalhadas em diversos locais relacionados à apuração do caso”, disse Tralli ao blog da colunista.

Segundo o jornalista, ele sabia da existência da investigação há um ano e, durante esse tempo, buscou informações com diversas fontes. “Procurar as informações em diversos locais foi a nossa diferença nesse caso. Eu tenho essa iniciativa, de não ficar preso a uma só fonte. Procuro buscar a história inteira, não fico dependendo de uma pessoa ou instituição. Seria muito arriscado apostar na informação de apenas um dos envolvidos, nesse caso. Minha apuração ficaria incompleta e, pior, comprometida” declarou.

Em 09/07, um dia após da Operação Satiagraha, o ministro da Justiça Tarso Genro se desculpou com as outras emissoras e pediu a abertura de inquérito administrativo na Polícia Federal para investigar suposto vazamento de informações privilegiadas para a Rede Globo. Segundo matéria publicada na Folha de S. Paulo, o repórter César Tralli seria intimado a prestar depoimento no caso.
No dia da operação da PF, o jornalista foi o único a conseguir imagens das prisões do banqueiro Daniel Dantas, do investidor Naji Nahas e do ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta.

PF QUEBRA SIGILO TELEFÔNICO DE JORNALISTAS DA TV GLOBO, DIZ FOLHA


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A Polícia Federal, segundo o jornal Folha de S.Paulo, quebrou, ilegalmente, o sigilo telefônico de aparelhos Nextel de jornalistas da Rede Globo, para investigar se a emissora foi informada anteriormente, pelo delegado responsável Protógenes Queiróz sobre a Operação Satiagraha.

Em 08/07, 17 pessoas, incluindo o ex-prefeito Celso Pitta e o banqueiro Daniel Dantas, foram presas sob a acusação de formação de quadrilha e lavagem de dinheiro, para conseguir informações privilegiadas sobre o mercado financeiro.

Segundo matéria da Folha, o delegado Amaro Vieira Ferreira, da Delegacia de Polícia Fazendária em São Paulo, indicado para investigar o possível vazamento das informações para a Globo na Corregedoria da PF, enviou um ofício à Nextel pedindo informações sobre o número de todos os celulares próximos à sede da PF em São Paulo e também a três locais próximos da operação na qual seriam presos suspeitos na operação.

Ainda de acordo com a matéria, nos quatro locais, havia jornalistas da Globo antes da chegada da PF. Um deles seria a casa do ex-prefeito Celso Pitta. A prisão dele, de pijamas, foi filmada às 6h pela emissora.

A PF teria pedido a quebra do sigilo telefônico dos jornalistas sem autorização judicial. As conversas não estão nos autos do processo, mas a Folha encontrou documento que comprovaria o pedido da polícia à Nextel.

Polícia Federal
Procurada pelo Comunique-se, a Polícia Federal negou as informações da Folha. “A repórter interpretou mal os autos”, disse a assessoria, sem dar mais detalhes.

TV Globo
A Globo limitou-se a dizer que não comenta assuntos que estão em julgamento.

Nextel
Para a Folha, a empresa disse: “A Nextel informa que, neste e em outros casos, tem seguido estritamente as determinações judiciais a ela requeridas”.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

A VITÓRIA DA CNN, POR LEILA CORDEIRO


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Leila Cordeiro (*)



Foram quase dois anos de campanha. Nesse período, as grandes redes de TV americanas aumentaram aos poucos o espaço dos candidatos até o sensacional desfecho nesta terça-feira histórica. Os telespectadores puderam nesse período acompanhar a preferência de cada uma das emissoras em relação a este ou aquele candidato.
Na reta final da disputa, a FOX não fez questão de disfarçar sua opção por McCain, através dos comentários de seus principais âncoras e analistas políticos. A ponto de repetirem os mesmos "mantras" lançados nos palanques de campanha republicanos. A ordem era falar da inexperiência de Obama e de sua ligação com terroristas, além de dizer a todo momento que ele, se eleito, implantaria o socialismo nos Estados Unidos.
A MSNBC, casamento perfeito entre a Microsoft com a poderosa NBC, embora de forma menos agressiva que a FOX assumiu a candidatura Obama, mas abriu espaço para opiniões e entrevistas com partidários de McCain. Eles podiam falar livremente, sem serem quase agredidos como acontecia na FOX, com quem defendia a candidatura democrata.
Mas o grande show, sem dúvida, ficou com a CNN. Pode até ser que seus profissionais tivessem simpatia por uma candidatura, mas o espaço dedicado à cobertura foi igual para os dois candidatos e seus estrategistas. Essa é a posição correta (e responsável) que uma emissora de TV deve tomar diante de seu enorme poder de penetração.
Entre o radicalismo da FOX e a simpatia ostensiva da MSNBC por Obama, a CNN foi a grande vitoriosa. Como fez nos debates presidenciais, montou duas mesas redondas. Uma com estrategistas politicos, devidamente creditados como republicanos e democratas, e outra com analistas da própria emissora, também assumidamente democratas e republicanos. Mais imparcial do que isso, impossível.
A naturalidade com que seus âncoras, repórteres e comentaristas se movimentavam no estúdio era impressionante. Parecia que estavam todos em casa numa grande reunião onde o assunto era política. Cada um com seu laptop, sem preocupação de fazer caras e bocas para as câmeras. Aliás, todos se comportam como se não houvesse câmeras. São focalizados de lado, de costas, de frente, como se não estivessem num estúdio de TV. Também a quantidade de câmeras e os cortes de imagens transformam a transmissão num espetáculo quase cinematográfico. Um reality show "real", com redundância mesmo.
A CNN inovou também em tecnologia. Na transmissão desta terça-feira, ela lançou uma novidade que deixou telespectadores e até os próprios profissionais de boca aberta. O jornalista Wolf Blitzer, que ancorou toda a cobertura dos estúdios em Nova Iorque, chamou uma repórter que estava em Chicago e ela apareceu na frente dele de corpo inteiro, como se estivesse ali em carne e osso. Eles tentaram explicar como funciona todo esse avanço, difícil para quem não é do ramo entender mas ficou a impressão de que as técnicas realmente futuristas chegaram a CNN, algo parecido com o que se vê em filmes de ficção como Star Wars, por exemplo, onde os personagens se comunicam através da chamada holografia.
É a tecnologia a serviço de um novo tempo, uma nova era que está começando para o país e para o mundo. A CNN e todas as emissoras de TV podem comemorar porque transmitiram um momento histórico e esperado por toda a comunidade internacional, a eleição de Barack Obama um líder nato, negro, filho de mãe solteira , um professor que virou senador e em pouco mais de dois anos presidente da maior potência do planeta... e isso é mais importante e poderoso do que qualquer tecnologia!

(*) Começou como repórter na TV Aratu, em Salvador. Trabalhou depois nas TVs Globo, Manchete e na CBS Telenotícias Brasil, como repórter e âncora. É também artista plástica e tem dois livros publicados.

MINISTRO DA EDUCAÇÃO DEFENDE “FLEXIBILIZAÇÃO” DA FORMAÇÃO EM JORNALISMO



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O ministro da Educação, Fernando Haddad, disse na quarta-feira (05/11) que a formação do jornalista precisa passar por uma “flexibilização”. Para o ministro, uma pessoa graduada em ciências sociais, por exemplo, poderia, com mais dois anos de formação, exercer a profissão de jornalista.

“A dupla graduação está se expandindo no Brasil. A tendência internacional é flexibilizar”, afirmou o ministro.
Haddad deixou claro – apesar de citar que outros países não contam com a obrigatoriedade do diploma e formam bons jornalistas – que não trabalha com a questão do diploma – atribuição do Ministério do Trabalho. Seu objetivo é definir o “perfil profissional” do jornalista. “Independentemente da obrigatoriedade, temos de ter bons cursos de jornalismo”, disse. Haddad também citou que pouco lhe é determinante a decisão do Supremo, sobre a obrigatoriedade do diploma.

“Estamos fazendo uma discussão sobre o perfil do profissional (de jornalismo) que queremos formar, inicialmente. Depois, promover a adequação dos currículos às novas diretrizes se forem decididas pelo Conselho Nacional de Educação”, disse Haddad.

Além do jornalismo, o ministro afirmou que cursos de pedagogia, medicina e direito também precisam passar por uma revisão em seus processos de graduação. “Essas áreas do conhecimento têm uma conexão direta com a questão democrática, a informação pública de qualidade (jornalismo), administração da Justiça (direito), saúde pública (medicina) e escola pública (pedagogia)”, afirmou o ministro.

Para Fenaj, curso de jornalismo deve ter quatro anos

Para o presidente da Fenaj, Sérgio Murillo, a discussão sobre a qualidade da profissão de jornalista é bem-aceita por parte da organização. “Querem começar a discutir o jornalismo, são muito bem-vindos”, disse Sérgio Murillo.

O presidente da Fenaj disse, contudo, que os cursos de jornalismo devem permanecer com quatro anos. “Do contrário, é formar um jornalista pela metade”. Murillo vislumbra a possibilidade de que se reduzam as disciplinas já cursadas por formados em outras profissões, para facilitar o reingresso à faculdade. Mas não acredita que a “dupla graduação” possa ser exercida apenas para quem quiser fazer jornalismo. “Quais serão os cursos que o jornalista poderá fazer?”, pergunta. “Se a proposta do MEC for exclusiva para jornalistas, a Fenaj fará uma oposição ferrenha”, afirmou.

Sérgio Murillo acrescenta que, além do debate sobre a dupla graduação, o Ministério da Educação quer melhorar os cursos de jornalismo. “Nós somos a favor e queremos fazer parte de uma fiscalização rigorosa dos cursos”, disse o presidente da Fenaj.

EDIÇÃO DO O GLOBO COM VITÓRIA DE OBAMA GANHA DESTAQUE MUNDIAL




Sérgio Matsuura, do Rio de Janeiro



Alguns fatos, pela importância, ganham destaque na imprensa do mundo inteiro. O resultado da última eleição americana foi um deles. Pela primeira vez um negro ocupará a Presidência dos Estados Unidos. Para os jornalistas, resta o desafio de buscar o diferencial. Na quarta-feira (05/11), O Globo conseguiu esse feito e foi o único jornal do mundo a trazer na primeira página o segundo nome do presidente eleito, Barack Hussein Obama.
O diretor de redação do veículo, Rodolfo Fernandes, explica o motivo da escolha que levou o O Globo a ser o único jornal brasileiro exposto no Newseum, em Washington, e a receber destaque no noticiário da rede CNN.

“Nós queríamos evitar os títulos mais previsíveis, tipo ‘O primeiro negro presidente’, ‘Obama eleito’. Então optamos pelo que consideramos mais simples e significativo: a história toda do Obama, tudo o que ele carrega. Todo o simbolismo da sua eleição está contido integralmente no nome dele. Não era preciso dizer mais nada. A carga histórica de tudo o que aconteceu nos EUA se resume aos três nomes, Barack Hussein Obama. Neste sentido, ressaltar o nome do meio dele era fundamental. Acabou sendo um fato único entre todos os jornais do mundo, o que também é muito difícil em eventos como este”, diz Fernandes.

Como o anúncio do resultado da eleição ocorreu por volta das 2h (horário de Brasília), apenas o terceiro clichê da edição noticiou o fato. A primeira versão, fechada às 22h30min, tinha como manchete “Voto em massa por Obama”. A segunda, fechada uma hora depois, dizia “Obama sai na frente”.

“A confirmação da vitória de Obama só saiu às 2hs, quando grande parte da nossa edição já estava fechada. Foi realmente uma grande superação de todos os envolvidos. Mas são esses momentos históricos que deixam os jornalistas mais motivados. Todos vão se lembrar muitos anos ainda que estavam trabalhando na madrugada em que o primeiro negro chegou ao poder no país mais rico do mundo, apenas 44 anos após o fim da segregação racial”, comenta Fernandes.

Nos EUA, os jornais impressos se transformaram em documentos históricos e artigos de colecionadores. A procura em bancas foi alta e, de acordo com o site Editor & Publisher, o The New York Times teve que imprimir uma carga extra de 50 mil exemplares. O The Washington Post imprimiu 30% a mais que o normal e, mesmo assim, foi forçado a lançar uma edição comemorativa com tiragem de 350 mil.
O Chicago Tribune, da terra natal de Obama, imprimiu 200 mil exemplares extras. No USA Today, o número chegou a 500 mil. Mesmo com a iniciativa dos jornais de aumentar a produção, o site de leilões online eBay tinha na noite de quarta mais de 200 ofertas de venda da edição do The New York Times. Alguns dos vendedores pediam até US$ 400 pelo produto que, em banca, custa US$ 1,50.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008


Contista e romancista, a paulista Lygia Fagundes Telles formou-se em Direito na Faculdade do Largo de São Francisco, da Universidade de São Paulo. Formou-se ainda na Escola Superior de Educação Física. Começou a escrever muito cedo, mas veio a rejeitar seus primeiros livros, “imaturos e precipitados”, diz ela. Segundo o professor Antônio Cândido, o romance Ciranda de Pedra (1954) seria o marco da maturidade intelectual da escritora. Tem merecido a melhor crítica não só no Brasil como também no exterior, aonde seus livros vêm sendo publicados com grande sucesso. Ganhadora dos mais importantes prêmios literários do país, dentre eles destacamos: Prêmio do Instituto Nacional do Livro (1958); Prêmio Guimarães Rosa (1972); Prêmio Coelho Neto da Academia Brasileira de Letras (1973); Prêmio Ficção da Associação Paulista dos Críticos de Arte (1973); Prêmio do Pen Club do Brasil (1977); Prêmio Jabuti da Câmara Brasileira do Livro (1980) e Prêmio Pedro Nava, O Melhor Livro do Ano (1989).
Lygia Fagundes Telles tem um filho, Goffredo da Silva Telles Neto, cineasta. Reside em São Paulo e é Procuradora (aposentada) de Autarquia.
A autora considera livro vivo aquele que está nas livrarias, ao alcance do leitor. Assim sendo, destaca-se da relação os seguintes títulos publicados pela Editora Nova Fronteira:

Ciranda de Pedra, romance, 1954
Verão no Aquário, romance, 1963
Antes do Baile Verde, contos, 1972
As Meninas, romance, 1973
Seminário dos Ratos, contos, 1977
A Disciplina do Amor, fragmentos, 1980
Mistérios, contos, 1981
As Horas Nuas, romance, 1989
A Estrutura da Bolha de Sabão, contos, 1991

Numa edição da Global Editora (1984) foi lançado o livro Os melhores contos de Lygia Fagundes Telles, com seleção de Eduardo Portella. Publicado pela Editora Ática (1987) saiu Venha ver o pôr-do-sol (contos).
Lygia Fagundes Telles é a contista das cores, pois em todos os seus contos as cores tem um significado, que muitas vezes dão razão ao que parece inexplicável nas histórias sempre sugestivas e com mensagens ocultas aos seus leitores ávidos.

Você leitor, já desvendeu o significado das cores para Lygia??? Não!!! E quem já notou os finais que sempre sugerem suicídio ou morte em seus contos??? Aos que não conseguem perceber recomendo que façam uma releitura das obras desta escritora ímpar.

Lygia Fagundes é umas das mais deliciosas leituras que já fiz na adolescência; e os detalhes intrísecos nas entrelinhas de suas obras alimentava debates homéricos já na Universidade. Abaixo você poderá ler um de seus contos mais intrigantes... não seja preguiçoso (a), e leia o conto até o final.


OS OBJETOS


Conto de Lygia Fagundes Telles













Finalmente posou o olhar no globo de vidro e estendeu a mão.
– Tão transparente. Parece uma bolha de sabão, mas sem aquele colorido refletindo a janela, tinha sempre uma janela nas bolhas que eu soprava. O melhor canudo era o de mamoeiro. Você também não brincava com bolhas? Hein, Lorena?
Ela esticou entre os dedos um longo fio de linha vermelha preso à agulha. Deu um nó na extremidade da linha e, com a ponta da agulha, espetou uma conta da caixinha aninhada no regaço. Enfiava um colar.
– Que foi?
Como não viesse a resposta, levantou a cabeça. Ele abria a boca, tentando cravar os dentes na bola de vidro. Mas os dentes resvalavam, produzindo o som fragmentado de pequenas castanholas.
– Cuidado, querido, você vai quebrar os dentes!
Ele rolou o globo até a face e sorriu.
– Aí eu compraria uma ponte de dentes verdes como o mar com seus peixinhos ou azuis como o céu com suas estrelas, não tinha uma história assim? Que é que era verde como o mar com seus peixinhos?
– O vestido que a princesa mandou fazer para a festa.
Lentamente ele girou o globo entre os dedos, examinando a base pintalgada de cristais vermelhos e verdes.
– Como um campo de flores. Para que serve isto, Lorena?
– É um peso de papel, amor.
– Mas se não está pesando em nenhum papel – estranhou ele, lançando um olhar à mesa. Pousou o globo e inclinou-se para a imagem de um anjo dourado, deitado de costas, os braços fortes. – E este anjinho? O que significa este anjinho?
Com a ponta da agulha ela tentava desobstruir o furo da conta de coral. Franziu as sobrancelhas.
– É um anjo, ora.
– Eu sei. Mas para que serve? – insistiu. E apressando-se antes de ser interrompido: – Veja, Lorena, aqui na mesa este anjinho vale tanto quanto este peso de papel sem papel ou aquele cinzeiro sem cinza, quer dizer, não tem sentido nenhum. Quando olhamos para as coisas, quando tocamos nelas é que começam a viver como nós, muito mais importantes que nós, porque continuam. O cinzeiro recebe a cinza e fica cinzeiro, o vidro pisa o papel e se impõe, esse colar que você está enfiando... É um colar ou um terço?
– Um colar.
– Podia ser um terço?
– Podia.
– Então é você que decide. Este anjinho não é nada, mas se toco nele vira anjo mesmo, com funções de anjo. – Segurou-o com força pelas asas. – Quais são as funções de um anjo?
Ela deixou cair na caixa à conta obstruída e escolheu outra. Experimentou o furo com a ponta da agulha.
– Sempre ouvi dizer que anjo é o mensageiro de Deus.
– Tenho então uma mensagem para Deus – disse ele e encostou os lábios na face da imagem. Soprou três vezes, cerrou os olhos e moveu os lábios murmurejantes. Tateou-lhes as feições como um cego. – Pronto, agora sim, agora é um anjo vivo.
– E o que foi que você disse a ele?
– Que você não me ama mais.
Ela ficou imóvel, olhando. Inclinou-se para a caixinha de contas.
– Adianta dizer que não é verdade?
– Não, não adianta. – Colocou o anjo na mesa. E apertou os olhos molhados de lágrimas, de costas para ela e inclinando para o abajur. – Veja, Lorena, veja... Os objetos só têm sentido quando têm sentido, fora disso... Eles precisam ser olhados, manuseados. Como nós. Se ninguém me ama, viro uma coisa ainda mais triste do que essas, porque ando, falo, indo e vindo como uma sombra, vazio, vazio. É o peso de papel sem papel, o cinzeiro sem cinza, o anjo sem anjo, fico aquela adaga ali fora do peito. Para que serve uma adaga fora do peito? – perguntou e tomou a adaga entre as mãos. Voltou-se, subitamente animado. – É árabe, hein, Lorena? Uma meia-lua de prata tão aguda... Fui eu que descobri esta adaga, Lembra? Estava na vitrina, quase escondida debaixo de uma bandeja, lembra?
Ela tomou entre os dedos o fio de coral e balançou-o num movimento de rede.
– Ah, não fale nisso! Se você soubesse o quanto eu gostei daquela bandeja, acho que nunca mais vou gostar de uma coisa assim... Se pudesse, tomava já um avião, voltava lá no antiquário do grego barbudo e saía com ela debaixo do braço. As alças eram cobrinhas se enroscando em folhas e cipós, umas cobrinhas com orelhas, fiquei apaixonada pelas cobrinhas.
– Mas por que você não comprou?
– Era caríssima, amor. Nossos dólares estavam no fim, o pouco que restou só deu para essas bugigangas.
– Fale baixo, Lorena, fale baixo! – suplicou ele num tom que a fez levantar a cabeça num sobressalto. Tranqüilizou-se quando o viu sacudindo as mãos, afetando pânico. – Chamar a adaga e o anjo de bugigangas, que é isso! O anjo vai correndo contar para Deus.
– Não é um anjo intrigante – advertiu, encarando-o. – E antes que me esqueça, você diz que se ninguém nos ama, viramos coisa fora de uso, sem nenhuma significação, certo? Pois saiba o senhor que muito mais importante do que sermos amados é amar, ouviu bem? É o que nos distingue desse peso de papel que você vai fazer o favor de deixar em cima da mesa antes que quebre, sim?
– O vidro já está ficando quente – disse e fechou o globo nas mãos. Levou-o ao ouvido, inclinou a cabeça e falou brandamente como se ouvisse e foi dizendo: – Quando eu era criança, gostava de comer pasta de dente.
– Que marca?
– Qualquer marca. Tinha uma marca com sabor de hortelã, era ardido demais e eu chorava de sofrimento e gozo. Minha irmãzinha de dois anos comia terra.
Ela riu.
– Que família!
Ele riu também, mas logo ficou sério. Sentou-se diante dela, juntou os joelhos e colocou o globo nos joelhos. Cercou-os com as mãos em concha, num gesto de proteção. Inclinou-se, bafejando sobre o globo.
– Lorena, Lorena, é uma bola mágica!
Voltada para a luz, ela enfiava uma agulha. Umedeceu a ponta da linha, ergueu a agulha na altura dos olhos estrábicos na concentração e fez a primeira tentativa. Falhou. Mordiscou de novo a linha e com um gesto incisivo foi aproximando a linha da agulha. A ponta endurecida do fio varou a agulha sem obstáculo.
– A cópula.
– Que foi? – perguntou ela, relaxando os músculos. Voltou-se satisfeita para a caixa de contas. – Que foi, amor?
Ele cobriu o globo com a mãos. Bafejou sobre elas.
– É uma bola de cristal, Lorena – murmurou com voz pesada. Suspirou gravemente. – Por enquanto só vejo assim uma fumaça, tudo tão embaçado...
– Insista, Miguel. Não está clareando?
– Mais ou menos... espera, a fumaça está sumindo, agora está tão mais clara, puxa, que nítido! O futuro, Lorena, estou vendo o futuro! Vejo você numa sala... É esta sala! Você está de vermelho, conversando com um homem.
– Que homem?
– Espera, ele ainda está um pouco longe... Agora vejo, é seu pai. Ele está aflito e você procura acalma-lo.
– Por que está aflito?
– Por que ele quer que você me interne e você está resistindo, mas tão sem convicção. Você está cansada, Lorena querida, você está quase chorando e diz que estou melhor, que estou melhor...
Ela endureceu a fisionomia. Limpou a unha com a ponta da agulha.
– E daí?
– Daí seu pai diz que não melhorei coisa nenhuma, mas que há esperança – repetiu ele, inclinando-se, as mãos nos olhos em posição de binóculo postado no globo. – Espera, está entrando alguém de modo tão esquisito... eu, sou eu! Estou entrando de cabeça para baixo, andando nas mãos, plantei uma bananeira e não consegui voltar.
Ela enrolou o fio de contas no pescoço, segurando firme a agulha para as contas não escaparem. Sorriu, alisando as contas.
– Plantar bananeira justo nessa hora, amor? Por que você não ficou comportadinho? Hum?... E o que foi que o meu pai fez?
– Baixou a cabeça para não me ver mais. Você então me olhou, Lorena. E não achou nenhuma graça em mim. Antes você achava.
Vagarosamente ela foi recolhendo o fio. Deslizou as pontas dos dedos pelas contas maiores, alinhando-as.
– Fico sempre com medo que você desabe e quebre o vaso, os copos. E, depois, cai tudo dos seus bolsos, uma desordem.
Ele recolocou o peso na mesa. Encostou a cabeça na poltrona e ficou olhando para o teto.
– Tinha um lustre na vitrina do antiquário, lembra? Um lustre divertido, cheio de pingentes de todas as cores, uns cristaizinhos balançando com o vento, blim-blim... Estava ao lado da gravura.
– Que gravura?
– Aquela já carunchada, tinha um nome pomposo, Os Funerais do Amor, em italiano fica mais bonito, mas não sei mais como é em italiano. Era um cortejo de bailarinos descalços, carregando guirlandas de flores, como se estivessem indo para a uma festa. Mas não era uma festa, estavam todos tristes, os amantes separados e chorosos atrás do amor morto, um menininho encaracolado e nu, estendido numa rede. Ou num coche?... Tinha flores espalhadas pela estrada, o cortejo ia indo por uma estrada. Um fauno menino consolava a amante tão pálida, tão dolorida...
Ela concentrou-se.
– Esse quadro estava na vitrina?
– Perto do lustre que fazia blim-blim.
– Não sei, mas assim como você descreveu, é triste demais. Juro que não gostaria de ter um quadro desses em casa.
– Mas triste ainda era o anão.
–Tinha um anão na gravura?
– Não, ele não estava na gravura, estava perto.
– Mas... Era um anão de jardim?
– Não, era um anão de verdade.
– Tinha um anão na loja?
– Tinha. Estava morto, um anão morto, de smoking, o caixão estava na vitrina. Luvas brancas e sapatinhos de fivela. Tudo nele era brilhante, novo, só as rosas estavam velhas. Não deviam ter posto rosas assim velhas.
– Eram rosas brancas? – perguntou ela, guardando o fio de contas na caixa. Baixou a tampa, com um baque metálico. – Eram rosas brancas?
– Brancas.
– As rosas brancas murcham mais depressa. E fazia calor.
Ele inclinou a cabeça para o peito e assim ficou, imóvel, os olhos cerrados, as pálpebras crispadas. O cigarro apagou-se entre seus dedos.
– Lorena...
– Hum?
– Vamos tomar um chá. Um chá com biscoitos, quero biscoitos.
Ela levantou-se. Fechou o livro que estava lendo.
– Ótimo, faço o chá. Só que o biscoito acabou, posso arrumar umas torradas, bastante manteiga, bastante sal. Hum?
– Eu vou comprar os biscoitos – disse ele, tomando-lhe a cabeça entre as mãos. – Minha linda Lorena. Biscoitos para a linda Lorena.
Ela desvencilhou-se rápida.
–Vou pôr água para ferver. Pega o dinheiro, está na minha bolsa.
– No armário?
– Não, em cima da cama, uma bolsa verde.
Ele foi ao quarto, abriu a bolsa e ficou olhando para o interior dela. Tirou o lenço manchado de ruge. Aspirou-lhe o perfume. Deixou cair o lenço na bolsa, colocou-a com cuidado no mesmo lugar e voltou para a sala. Pela porta entreaberta da cozinha pôde ouvir o jorro da torneira. Saiu pisando leve. No elevador, evitou o espelho. Ficou olhando para os botões, percorrendo com o dedo um por um até chegar ao botão preto com a letra T invisível de tão gasta. O elevador já descia e ele continuava com o dedo no botão, sem apertá-lo, mas percorrendo-o num movimento circular, acariciante. Quando ela gritou, só seus olhos se desviaram na direção da voz vindo lá de cima e tombando já meio apagado no poço.
– Miguel, onde está a adaga?! Está em ouvindo, Miguel? A adaga!
Ela abriu a porta do elevador.
– Está comigo.
O porteiro ouviu e foi-se afastando de costas. Teve um gesto de exagerada cordialidade.
– Uma bela noite! Vai passear um pouco?
Ele parou, olhou o homem. Apressou o passo na direção da rua.