segunda-feira, 30 de abril de 2007

AOS MEUS AMIGOS

"Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila.Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante. A mim não interessam os bons de espírito, nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim(...)Não quero só o ombro ou o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade..."
Oscar Wilde
A todos os meus amigos que extraem o meu melhor e o meu pior, pois somos humanos e como tal, feitos de carne e de espírito, com vícios e virtudes, com momentos de fraqueza e momentos de heroísmo ... Amigos que me dão preocupação, despertam dúvidas e me magoam ... mas, que por outro lado ... dão sentido à minha vida ... tornando-a interessante, dinâmica ... amigos que me ajudam a descobrir, a desvendar, desbravar novos mundos ... sem esquecer a simplicidade do meu ser e da minha existência.

sábado, 28 de abril de 2007

A LENDA DO MUIRAQUITÃ

Uma das muitas versões da Lenda

A lenda afirma que o muiraquitã era oferecido como presente pelas guerreiras icamiabas aos homens que visitavam anualmente a sua taba, na região do rio Nhamundá. Uma vez por ano, durante a festa dedicada à lua, as icamiabas recebiam os guerreiros guacaris, com os quais se acasalavam como se fossem seus maridos. À meia-noite, elas mergulhavam nos rios e traziam às mãos um barro verde, ao qual davam formas variadas: de sapo, tartaruga e outros animais, e presenteavam seus amados. Algumas versões falam que o ritual se dá em um lago encantado chamado jaci uaruá ("espelho da lua"; do tupi antigo îasy arugûá). Retirado ainda mole do fundo do rio e moldado pelas mulheres, o barro endurecia ao contato com o ambiente. Os objetos eram, então, enfiados em tranças de cabelos das noivas, e usados como amuleto pelos guerreiros. Até hoje, o muiraquitã é considerado objeto sagrado, e acredita-se que traz felicidade, sorte e também cura a quase todas as doenças a quem o possui. É encontrada no obra Macunaíma, de Mário de Andrade.

quarta-feira, 25 de abril de 2007

COISA DE MULHER

Que mulher nunca teve
Um sutiã meio furado,
Um primo meio tarado,
Ou um amigo meio viado?
Que mulher nunca tomou
Um fora de querer sumir,
Um porre de cair
Ou um lexotan para dormir?
Que mulher nunca sonhou
Com a sogra morta, estendida,
Em ser muito feliz na vida
Ou com uma lipo na barriga?
Que mulher nunca pensou
Em dar fim numa panela,
Jogar os filhos pela janela
Ou que a culpa era toda dela?
Que mulher nunca penou
Para ter a perna depilada,
Para aturar uma empregada
Ou para trabalhar menstruada?
Que mulher nunca acordou
Com um desconhecido ao lado,
Com o cabelo desgrenhado
Ou com o travesseiro babado?
Que mulher nunca comeu
Uma caixa de Bis, por ansiedade,
Uma alface, no al moço, por vaidade,
Ou um canalha por saudade?
Que mulher nunca apertou
O pé no sapato para caber,
A barriga para emagrecer
Ou um ursinho para não enlouquecer?
Que mulher nunca jurou
Que não estava ao telefone,
Que não pensa em silicone
Ou que "dele" não lembra nem o nome?

O BEM E O MAL ALEGORIZADOS NA IDADE MÉDIA

Um dos capítulos do meu TCC
Por Carla Ninos

A Idade Média foi uma época de paixões violentas. O sentimento religioso, levado ao auge, deságua muitas vezes no misticismo, na superstição, no fetichismo, na magia, na bruxaria. Falta ao homem medieval o sentido do equilíbrio, da medida, do comedimento. Não existe meio-termo: o homem ou é um anjo ou é um demônio. Não é sem motivo que o Maniqueísmo, doutrina do filósofo persa Mani ou Manes do século III d.C., embora condenado pela Igreja, teve tanto sucesso nessa época. Os dois princípios primordiais do Universo, Deus, personificação do Bem absoluto, e o Diabo, personificação do Mal absoluto, antagônicos e irredutíveis, tornam-se os arquétipos do comportamento humano. Como os mitos gregos de Apolo e de Dionísio ou os personagens bíblicos de Abel e Caim, o bem e o mal são abstrações dos dois elementos estruturais da personalidade humana que Freud descreveu como o super-ego (formado pela consciência moral, que é o conjunto de injunções éticas e religiosas que a sociedade aos poucos vai introjetando na nossa psique) e o id (as forças instintivas do inconsciente, onde se encontram localizados nossos desejos inconfessáveis). Na época medieval, esses dois elementos, identificados no corpo (princípio do mal) e na alma (princípio do bem), não encontram nenhum ponto de equilíbrio, permanecendo em luta constante.
Para exemplificar, talvez o texto que melhor expresse a ideologia medieval seja o episódio da “Tentação de Galaaz” da novela de cavalaria “A Demanda do Santo Graal”. O herói, durante uma de suas andanças, chega a um castelo onde recebe hospedagem. A filha do dono do castelo, uma formosa donzela de 15 anos, apaixona-se perdidamente pelo cavaleiro e à primeira vista, sem que Galaaz sequer suspeite de ser o objeto do desejo da mocinha. De noite, de camisola, ela penetra no quarto do jovem e se deita na cama junto dele. Mas Galaaz, que tinha feito voto de castidade, não cede ao apelo erótico da moça e esta, sentindo-se rejeitada, se suicida transpassando seu corpo com a espada de Galaaz.
Do ponto de vista ideológico a narrativa apresenta o choque entre os dois códigos fundamentais do ser humano: natureza versus cultura. Galaaz é a alegorização do código cultural da Idade Média: a consagração de sua alma e de seu corpo a Deus; a preferência da castidade à satisfação amorosa; a observância da norma da distinção entre as classes sociais que não permite a união de uma jovem nobre e rica com um cavaleiro andante sem família e sem bens econômicos; a proibição do relacionamento sexual fora do casamento; o respeito à vontade do pai da moça, o todo-poderoso e autoritário dono do castelo; a gratidão pela hospedagem recebida; enfim, a honra, a honestidade, a virgindade, o martírio do corpo, que são os principais valores do homem medieval, em vista de atingir o fim essencial da salvação da alma.
A personagem da donzela, pelo contrário, representa o código oposto: a força do instinto da natureza, que se revolta contra todos os valores ideológicos, em nome da satisfação de seus desejos carnais. O impulso erótico dessa moça de apenas quinze anos e educada no ambiente fechado do castelo é tão violento que a leva a quebrar todas as barreiras sociais, morais e religiosas. E, quando percebe que seus esforços para obrigar Galaaz a fazer dela uma mulher sexualmente satisfeita são inúteis, ela encontra na morte violenta a solução de sua angústia social e um castigo por ter se entregado aos instintos do corpo.
O que impressiona na vida medieval é a irredutibilidade desses dois princípios, que leva a prática da doutrina maniqueísta do dualismo cósmico. A personagem de ficção (que geralmente é um ser homólogo do ser real) da Idade Média ou é um ser angélico ou é um ser diabólico e, portanto, raras vezes se apresenta como um ser humano, no sentido mais profundo do termo. Porque ser humano é sentir-se feito de carne e de espírito, ter vícios e virtudes, acusar momentos de fraqueza e momentos de heroísmo, enfim, nunca ser totalmente anjo ou totalmente demônio, visto que na psicologia humana o id e o superego sofrem vitórias e derrotas alternadas devido ao dinamismo psíquico, pois ambos impulsionam o ego (“eu”, é o nível consciente, resultante da força disciplinadora e educadora do super-ego sobre o id) a estar continuamente em luta, pressionado pelas forças opostas do instinto e das convenções sociais.
Dentro da filosofia clássica, Sócrates e, principalmente, Platão, desenvolveram a teoria sobre a existência de um mundo ideal, onde residiriam as essências do Divino, do Verdadeiro, do Belo, do Bem, separadas das aparências do mundo sensível, em que as sensações humanas como os instintos sexuais e os medos que interferem nas escolhas cotidianas, são vistos como Diabólico, Falso, Feio, Mal. Esse dualismo foi plasticamente alegorizado pelos gregos através dos mitos de Apolo e Dionísio, em que o primeiro é o deus da luz, da ordem, do social; o segundo é o deus das trevas, da embriaguez, do instinto individual. O princípio apolíneo e o princípio dionisíaco se alternariam, portanto, ao longo da cultura ocidental, cada época marcando o triunfo de um princípio sobre o outro.
Mas, afinal, o que seria esta teoria sobre o mundo perfeito das idéias? Bem, primeiramente, o dicionário define idéia como sendo a representação mental de coisa concreta ou abstrata; imaginação; opinião, conceito; mente, pensamento; lembrança. A formulação da noção de idéia, como essência existente em si, independente das coisas e do intelecto humano, representa a adoção, por Platão, de um método de pesquisa de índole matemática. O pensamento de Platão irá se construindo como um jogo de hipóteses interligadas.
Com Platão as idéias são como causas intemporais para os objetos sensíveis. O que é bom, mais ou menos bom, é bom porque existe um bom pleno, o Bom que, intemporalmente, explica todos os casos e graus particulares de bondade, como a condição sustenta a inteligibilidade do condicionado.
Perfeitas e imutáveis, as idéias constituiriam os modelos ou paradigmas dos quais as coisas materiais seriam apenas cópias imperfeitas e transitórias. Seriam, pois, tipos ideais a transcender o plano mutável dos objetos físicos.
Na sua obra intitulada Mênon, Platão expõe a doutrina de que o intelecto pode apropriar-se das idéias porque também ele é como as idéias, incorpóreo/imaterial. A alma humana, antes do nascimento, teria contemplado as idéias enquanto seguia o cortejo dos deuses. Encarnada, perde a possibilidade de contato direto com os arquétipos incorpóreos, mas diante de seus objetos sensíveis pode ir gradativamente recuperando o conhecimento das idéias; conhecer seria então lembrar, reconhecer; o que sustenta a hipótese do mundo das formas – imortal. Essa imortalidade converte-se na construção do platonismo, numa condição para a ciência, para a explicação inteligível do mundo físico. Como exemplo dessa imortalidade da idéia há Grandes homens como o pintor Leonardo da Vinci (um arquétipo do Bom da nossa história) ou o ditador Adolf Rittler (um arquétipo do Mau) cujos corpos, a carne, o material do mundo físico, morreram, acabou; mas a idéia de homens que foram é imortal.
Os exemplos de idéias apresentadas em outra obra de Platão intitulada Fédon são extraídos ou da esfera dos valores estéticos e morais (o Belo, o Bem), ou das relações matemáticas (o Grande). De fato, é desses dois pontos que o platonismo vai colher, preferencialmente, os pontos de apoio para propor um mundo de modelos transcendentes. O que é compreensível, uma vez que a variação de mais ou menos (mais belo, menos belo; maior, menor) parece sugerir a referência a um padrão absoluto, a uma “justa medida” (o Belo, o Grande).
Já a doutrina platônica da imitação (mímesis) difere da que os pitagóricos propunham desde o século VI a.C. A mímesis, no pitagorismo, apresentava um caráter de imanência, uma vez que o modelo e a cópia estão contidos ambos no campo concreto e inseparável dele; são as duas faces – interna (apreendida racionalmente) e externa (apreendida pelos sentidos) – da mesma realidade. Com Platão a noção de imitação adquire acepção metafísica e transcendente, como lógica decorrência do “distanciamento” entre o plano sensível e o inteligível. O objetos físicos aparecem como cópias imperfeitas dos arquétipos ideais, incorpóreos e perenes (que não acaba, eterno, contínuo). O mundo sensível seria uma imitação do mundo inteligível, pois todo universo seria resultante da ação do divino artesão que teria dado forma, pelo menos até certo ponto, a uma matéria-prima, tomando por modelo as idéias eternas.
Na alegoria da caverna Platão dramatiza a ascese/plenitude do conhecimento ao descrever um prisioneiro que contempla, no fundo de uma caverna, os reflexos de simulacros que – sem que ele possa ver – são transportados à frente de um fogo artificial. Como sempre viu essas projeções de artefatos, toma-os por realidade e permanece iludido. A situação desmonta-se e inverte-se desde que o prisioneiro se liberta: reconhece o engano em que permanecera, descobre a encenação que até então o enganara e, depois de galgar a rampa que conduz à saída da caverna, pode lá fora contemplar a verdadeira realidade. Aos poucos, ele, que fora habituado à sombra, vai podendo olhar o mundo real: primeiro através de reflexos – como o do céu estrelado refletindo na superfície das águas tranqüilas –, até finalmente ter condições de olhar diretamente o Sol (alegoria do Bem, representa o Claro, o Limpo, o Dia, o que é Saudável, etc.), fonte de toda luz e de toda realidade.
A construção do conhecimento constitui, assim, no platonismo, uma conjugação de intelecto e emoção, de razão e vontade; a epísteme (teoria do conhecimento e metodologia) é fruto de inteligência e de amor.
Com o advento do Cristianismo, a doutrina cristã resgata o idealismo platônico na medida em que considera o mundo terreno como provisório e aparente, como mera passagem durante a qual o homem tem que adquirir méritos para ascender ao céu, o mundo supra-sensível dos valores eternos; quer dizer, criou a dicotomia céu/inferno, sendo que a vida terrena serviria apenas para que o homem, condicionado por infinitos códigos morais, passasse por provações segundo a vontade de Deus para que assim conquistasse o perdão pelos pecados do corpo (princípio do Mal) e um lugar para a sua alma (princípio do Bem) no paraíso. A sublimação do sofrimento leva a uma inversão dos valores éticos reais: os fracos são considerados fortes; os humildes, gloriosos; os pobres, espiritualmente ricos; os derrotados, vitoriosos.
Esse dualismo cósmico cristão e a filosofia de Platão são fortemente criticados por Friedrich Nietzsche em Para Além do Bem e do Mal, ao afirmar que “o cristianismo é um platonismo para o povo” e que a dominação cristã é mais do que cristã, é platônica, pois Platão criou o outro mundo, o das idéias, contra este mundo e o cristianismo elaborou o “Reino dos Céus” como o outro mundo.
Nietzsche afasta toda idéia de transcendência e de ‘outro mundo’, pois acredita que não há vida eterna no além, porque o que importa é a vida como impulso, com todas as agruras e maravilhas, porque viver é enfrentar e superar as dificuldades, agir de acordo com os códigos morais da sociedade em consonância com as forças instintivas do seu inconsciente, e não se subjugar a regras de conduta que ferem o homem na sua essência, que o obriga a reprimir os instintos naturais e primitivos, que julga e condena em nome de uma imortalidade abençoada. Viver é querer ir sempre além, num vir a ser eterno, portanto sem pensar em preservar-se; é superar-se constantemente. Assim, Mau seria tudo o que é fraco e não consegue ser um afirmador da vida e o Bom é o nobre (generoso, de “ação nobre”) que ama a vida sem nada temer; e essa independência é para poucos – é prerrogativa dos fortes.

Quase Sem Querer

Renato Russo

Tenho andado distraído,Impaciente e indeciso, E ainda estou confuso. Só que agora é diferente: Estou tão tranqüilo E tão contente. Quantas chances desperdicei. Quando o que eu mais queria. Era provar pra todo o mundo. Que eu não precisava. Provar nada pra ninguém. Me fiz em mil pedaços Pra você juntar E queria sempre achar Explicação pro que eu sentia.Como um anjo caído Fiz questão de esquecer Que mentir pra si mesmo É sempre a pior mentira. Mas não sou mais Tão criança a ponto de saber // Tudo. Já não me preocupo Se eu não sei porquê Às vezes o que eu vejo Quase ninguem vê E eu sei que você sabe. Quase sem querer Que eu vejo o mesmo que você. Tão correto e tão bonito: O infinito é realmente Um dos deuses mais lindos. Sei que às vezes uso Palavras repetidas Mas quais são as palavras Que nunca são ditas? Me disseram que você estava chorando E foi então que percebi Como lhe quero tanto. Já não me preocupo Se eu não sei porquê Às vezes o que eu vejo Quase ninguém vê E eu sei que você sabe Quase sem querer Que eu quero o mesmo que você

PESQUISA MOSTRA QUE O RISO É PEÇA-CHAVE PARA A VIDA EM SOCIEDADE

Matéria Publicada na Revista Galileu

Neurocientistas da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, descobriram que a risada tem pouco a ver com senso de humor e é, na verdade, uma ferramenta de instinto de sobrevivência para animais que convivem em sociedade. Há séculos, teóricos como Platão. Aristóteles, Kant e Freud tentaram explicar o riso baseados na premissa errada de que eles estariam explicando também o que seria o humor.
Para chegar à origem do riso, os cientistas escanearam cérebros de macacos e ratos. E verificaram que a risada humana evoluiu do som rítmico feito por primatas, como os chimpanzés, quando eles fazem cócegas uns nos outros enquanto brincam.
Assim, a pesquisa indicou que o cérebro possui antigas conexões para produzir o riso e jovens mamíferos aprenderem a brincar uns com os outros. A risada estimula circuitos cerebrais de euforia e também reassegura para o outro animal que eles estão brincando, e não brigando.
Quando os pesquisadores iniciaram os estudos sobre o tema, há 20 anos, era comum a opção de levar pessoas para o laboratório para assistirem episódios de famosas séries cômicas de TV, como "Saturday Night Live". Mas elas não riam muito por causa do ambiente.
Em habitats naturais – calçadas, shoppings – foram observados milhares de episódios de riso. E eles checaram que de 80 a 90 por cento dessas risadas eram resultado de frases simples como "eu sei" ou "vejo vocês depois", empregadas em contextos engraçados. Ou seja, não eram necessárias piadas ou frases de efeito para gerar risos.
O estudo também mostrou que a maioria das pessoas (principalmente as mulheres) riem mais enquanto conversam do que os outros que lhe ouvem, usando as risadas como um tipo de pontuação para suas sentenças. É um processo em grande parte involuntário. As pessoas podem conter o riso, mas poucos conseguem forçar o riso de forma convincente.
Portanto, os pesquisadores concluiram que o ato de rir é um dos sinais sociais mais honestos porque é difícil de ser fingido. Ele é uma espécie de fóssil do comportamento, que evidencia as raizes que todos os seres humanos, e talvez todos os mamíferos, têm em comum. A risada primitiva, então, evoluiu como um dispositivo sinalizador com a função de destacar a compreensão de interação amigável entre duas pessoas.
Os humanos começam a rir aos quatro meses e depois progridem das cócegas para mecanismos mais sofisticados, como piadas. O riso pode ser usado para reforçar os laços de solidariedade e identidade de um grupo, ao satirizarem e isultarem pessoas de fora da unidade, mas é sobretudo um "lubrificante" social. É uma maneira de fazer amigos e também de deixar claro quem pertence a quais posições na hierarquia do status social.

CENTROS DE PODER OU MAGIA

Linhas Ley

Sempre que um local tenha tido orações e desejos concentrados direcionados a ele, forma-se um vértice elétrico que atrai para si uma força e que se torna por um tempo um corpo coerente que pode ser sentido e utilizado pelo homem. É ao redor desses corpos de força que templos, locais de culto e, posteriormente, igrejas são erigidos; são Cálices que recebem um derramamento Cósmico focalizado em cada local específico.

GOVERNO FEDERAL PRETENDE LANÇAR MÃO DO C.U. EM 2006

Matéria publicada no Jornal Olho de Boto - edição do ESEL, em 2006

Por ESEL - Encontro Semanal dos Estudantes de Letras

O governo Lula pretende, nas próximas semanas, anunciar a adoção de um cadastro único (C.U.) para todos os cidadãos brasileiros. Será uma novidade muito bem vinda para a maioria da população que não agüenta mais ter que decorar números como CPF, RG, Título de eleitor, cartão de crédito, senha, etc., e todas essas mazelas numéricas instituídas pelos nossos governos ao longo da história.
Certamente a população ficará feliz com a implantação do Cadastro Único (ou, para os íntimos C.U.). Nosso tão estimado presidente Lula irá definitivamente enfiar o povo no C.U. com vistas a exterminar a infame burocracia de uma vez por todas. Tal objetivo será alcançado com a concessão de um C.U. a cada brasileiro.
Veja agora uma pequena demonstração de como o seu C.U. será importante em sua vida. Inicialmente, você usará o seu C.U. apenas para as necessidades básicas, porém com o tempo, não há dúvidas, que você poderá usufruir as facilidades que o C.U. têm a lhe oferecer. Por exemplo, ao requerer um empréstimo bastará conceder o seu C.U. ao gerente do banco, que em poucos minutos, através de uma simples consulta à Central Nacional do C.U., a quantia compatível em seu C.U. será disponibilizada. Quando realizar uma compra bastará se dirigir ao atendente e dizer: “Ô, põe no meu C.U., por favor!”. E suas compras estarão pagas. E para os inadimplentes uma novidade, ao dar o calote você já não terá o nome sujo na praça, mas sim o C.U. sujo na praça. Imaginemos a bela cena: a gerente lhe explicando: ”O senhor me desculpe, mas não poderemos aprovar o seu crédito, pois o seu C.U. está sujo na praça!”.
E não é só isso. O seu C.U. servirá também como identificador. Em uma blitz policial, por exemplo, ao invés de procurar uma dezena de documentos bastará mostrar o C.U. O projeto Cadastro Único favorecerá também a causa da segurança em nosso país. Isso porque o meliante saberá que será facilmente reconhecido pelo seu C.U. e que será inutilizado por um período previsto em Lei. Certamente, isto intimidará o larápio, pois quem têm C.U. tem medo de perdê-lo.
A expectativa em torno do anúncio do projeto tem sido crescente. Entre as críticas que os criadores do Cadastro Único enfrentam a mais divulgada é referente a sigla do projeto. A oposição afirma que a nomenclatura causará embaraço a maioria da população, não permitindo assim que os benefícios do C.U. sejam gozados em sua plenitude. Até o momento não há acordo entre a oposição e o governo. Ao que tudo indica o governo irá insistir em dar seu C.U. para cada brasileiro.

GUERRA ENTRE SANTARÉM E MONTE ALEGRE

Matéria publicada no jornal Olho de Boto da UFPA em 2005
Por Carla Ninos
No período de 1823-1824, um movimento, iniciado em Cametá, gerou conflito e mortes na região do Baixo-Amazonas.
Queixas e ressentimentos dos nativos contra o elemento português sempre foram constantes em nossa região. Os ânimos por esta Amazônia sempre andaram muito acirrados. Tanto que Elivaldo Macedo cita, em seu livro sobre o município de Santarém, os acontecimentos ocorridos no período de 1823 – 1824 que acabaram gerando o conflito armado entre Santarém e Monte Alegre.
Segundo Elivaldo, em fins de 1823 o povo de Cametá, descontente com os rumos que tomavam os acontecimentos na capital, provocou um pronunciamento armado, logo apoiado por várias vilas e localidades vizinhas.
Os rebeldes organizaram grupos de atacantes, que se alastraram pelo interior, aliciando partidários e invadindo e saqueando cidades. Santarém, ao tomar conhecimento desta “revolta”, tratou de organizar a defesa da região, visto que nossa cidade funcionava, naquela época, como uma espécie de capital do Baixo-Amazonas. Assim, Santarém entrou em comunicação com várias vilas do Tapajós e Amazonas, mobilizou um regimento e preparou-se para qualquer surpresa.
Foi comissionado no comando das tropas santarenas o tenente-coronel Antônio Luiz Coelho. Também foi constituída, mediante votação popular, uma “Junta Defensiva Provisória”, destinada a combater a insurreição.
Enquanto isso, os rebeldes, subindo o Amazonas, ocuparam Gurupá e, prosseguindo, tomaram Porto-de-Mós e marcharam contra Monte Alegre. Atacaram a Vila à meia-noite de 12 para 13 de março de 1824, encontrando-a sem muita defesa organizada, entraram e saquearam a Vila. Os saldos da investida foram terríveis. Os moradores Nicolau de Campelo, Antônio Lourenço de Carvalho e Manoel Joaquim foram assassinados, seus corpos foram retalhados e as partes amarradas em cavalos sendo arrastados pelas ruas. Além disso, muitos outros moradores foram presos e a vila despovoou-se.
Após a fácil vitória, antes de passarem para o Tapajós, os rebeldes se dispuseram a atacar Alenquer, e, ao meio-dia do 28 de março, a pequena Alenquer foi invadida e ocupada sem reação.
No dia seguinte, a notícia chegou a Santarém, que, imediatamente, enviou um destacamento de 80 praças dos batalhões que foram criados para defender a região. O destacamento foi enviado para Alenquer sob o nome de “Pacificador do Amazonas”, o comandante da tropa foi o Tenente Francisco Caetano da Silva.
Ao chegar em Alenquer, no dia 31, o comandante do destacamento bradou aos rebeldes que largassem as armas e se unissem aos irmãos. Como resposta, recebeu alguns tiros, dando origem ao conflito. O combate durou por uma hora, com vitória da tropa santarena, havendo 30 rebeldes mortos e 40 prisioneiros. Do lado santareno houve apenas uma baixa, visto que o poder de fogo dos rebeldes era muito pequeno.
Após reconduzir Alenquer ao governo local, a Junta de Santarém organizou nova expedição militar, desta vez contra os ocupantes de Monte Alegre, sob o comando do Ajudante de Milícias, Manoel José dos Santos Falcão. O destacamento chegou à Vila de Monte Alegre no dia 20 de abril de 1824 e foram surpreendidos por uma forte resistência armada. As tropas santarenas chegaram a ganhar a planície da Vila, porém, antes de amanhecer, os rebeldes irromperam sobre os soldados santarenos que, cercados, foram obrigados a empreender fuga, largando pelo caminho a maior parte das armas.
A derrota das tropas gerou em Santarém uma intranqüilidade muito grande. Tanto que a Junta Defensiva, recebendo reforços de Óbidos, decidiu dar um golpe de morte aos rebeldes, organizando nova expedição.
De início, mandou estacionar em frente a Monte Alegre, para dar princípio a um bloqueio da Vila, uma escuna (antigo navio à vela) armada com uma peça de rodízio, calibre 6 (grosso calibre para a época), lançando uma proclamação aos rebeldes incitando-os a depor as armas.
A 27 de abril, a escuna atingiu Monte Alegre, sendo recebida a tiros. No dia seguinte, os rebeldes tentaram entender-se pacificamente com o comandante do navio. As negociações continuaram sem que se chegasse a um acordo imediato. Enquanto isso, uma outra barca chegou do Rio Negro para ajudar no bloqueio. Por fim, ainda sem acordo firmado, nova barca estacionou à frente de Monte Alegre, todas as barcas estavam sob o comando do capitão de primeira linha, Bibiano Luiz do Carmo.
Os rebeldes, por sua vez, ampliavam suas tropas, espalhando destacamentos por vários pontos estratégicos da Vila, tentando mostrar que o bloqueio não lhes causava medo.
Em maio, o Comandante Bibiano foi substituído pelo Tenente-Comandante, Miranda de Leão, velho militar, que trazia experiências da Europa. Ao assumir o comando das tropas, Miranda de Leão, intimou os rebeldes a deporem as armas, comunicando-lhes que a Junta de Belém havia concedido anistia a todos que participaram da revolta de pós Independência na Amazônia.
Diante desta notícia, as negociações foram retomadas e no dia 09 de junho de 1824 foi assinado o Termo de Paz entre Santarém e Monte Alegre, pondo um fim à “guerra”. Após o acordo, os navios e tropas deixaram a Vila e a Junta Defensiva Provisória encerrou suas funções e foi dissolvida.

GALERIA DOS PRIMEIROS - SANTARÉM

Galeria publicada no Jornal Olho de Boto da UFPA em 2005

Por Carla Ninos

PRIMEIROS HABITANTES DE SANTARÉM
Segundo Elivaldo Macedo, em seu livro: “O Município de Santarém, Sua história seus encantos”, os conhecidos Tupaius não foram os primeiros habitantes de Santarém.
Através de estudos e descobertas arqueológicas sabe-se, hoje, que a foz do Rio Tapajós foi habitada por um povo de origem desconhecida, antes dos índios Tupaius se firmarem por aqui. Este povo desconhecido foi, provavelmente, dominado pelos Tupaius, que eram conhecidos como bravos guerreiros e hábeis atiradores de flechas envenenadas.
Devido à semelhança da cerâmica desse povo com a cerâmica dos Incas e dos Maias, alguns historiadores afirmam que “os desconhecidos” têm parentesco com estes conhecidos povos. Os Tupaius, por sua vez, absorveram os costumes desse povo e aprenderam a arte da cerâmica, chegando também a produzir belas peças de artesanato.

PRIMEIRO PREFEITO DE SANTARÉM
Ao contrário do que defende Paulo Rodrigues dos Santos, em seu livro “Tupaiulândia”, o primeiro prefeito de Santarém, sob este título, foi o Cel. Antônio Pinto Brandão.
A partir da implantação do regime republicano no país, a administração municipal e a chefia de polícia nos municípios eram denominadas, respectivamente, Intendência Municipal e Prefeitura de Polícia. Após a Revolução de 1930, a Intendência Municipal passou a chamar-se Prefeitura e a repartição policial Delegacia de Polícia.
O Último Intendente de Santarém foi o Cel. Joaquim de Vasconcelos Braga, que exerceu a função no período de 1924 a 1930, ano de sua renúncia. Para substituí-lo, foi nomeado o Bacharel Osvaldo Cacheté Barreto de Andrade, que não chegou a assumir a Intendência.
No dia 11 de novembro de 1930, o Capitão Joaquim Magalhães Cardoso Barata, assumiu, em Belém, a função de Interventor Federal e nomeou, de imediato, os primeiros “prefeitos” dos municípios paraenses. Para Santarém, o escolhido foi o Coronel da Polícia Militar Antônio Pinto Brandão, que exerceu o cargo 24 de janeiro de 1931, pois havia sido transferido a 30 de dezembro de1930 para o município de Faro. Foi nomeado para substituí-lo o Sr. Ildefonso de Almeida, que é, erroneamente, apontado no livro tupaiulândia como sendo o primeiro prefeito de Santarém sob este título.

O PRIMEIRO JORNAL DE SANTARÉM
O primeiro jornal feito em Santarém, para Santarém, foi o AMAZONIENSE, cujo primeiro número circulou em outubro de1853, cinco anos após Santarém passar a ser cidade. O jornal saía uma vez por semana, o exemplar avulso custava duzentos réis (dois tostões) e a assinatura era por série de 12 números e custava dois mil réis. A Câmara pagava a publicação de seus editais a um vintém por linha. O AMAZONIENSE deixou de existir em meados de 1855.

PRIMEIRO CINEMA DE SANTARÉM
O primeiro cinema de Santarém foi o Cinema Ideal, construído na Praça Monsenhor José Gregório (conhecida como Praça da Matriz), em 1924, por José Franklin de Albuquerque, avô de Raul Franklin Loureiro, que em 1978 construiu e inaugurou, na Avenida Rui Barbosa, o Cinerama, sendo, atualmente, o único em Santarém funcionando com regularidade.
Entretanto, desde de 1912, já eram exibidos no Teatro Vitória, por Samuel Remillard, produções cinematográficas do Gran-Poly-Cinema. E também, muitas outras empresas, que passavam por Santarém, rumo à Manaus, exibiam seus filmes no Teatro Vitória, dentre os quais destacam-se: Rosa do Adro, A Dama de Cinzento, Credo (ou a Tragédia de Lourdes), As Loucas de Paris, e Vida, Paixão e Morte do Senhor Jesus Cristo.

O PRIMEIRO FILME PRODUZIDO EM SANATRÉM
Em 14 de fevereiro de 1933, foi firmado um contrato, entre o norte-americano Jess Lawrence e o prefeito Ildefonso Almeida, para a produção de um filme regional apresentando os melhoramentos introduzidos, nesta cidade, com o advento da revolução de outubro de 1930. O valor do contrato do filme foi de RS 1000$000 (um conto de réis) e o filme foi do gênero jornal em curta metragem e sincronizado com acordes de piano, pois era silencioso.

AS PRIMEIRAS PEÇAS DO TEATRO VITÓRIA
Durante a inauguração do Teatro Vitória, em 28 de junho de 1896, foram encenados dois espetáculos. UMA CHAVENA DE CHÁ, de José Carlos dos Santos, interpretado pelos atores amadores do Clube Dramático; e ENTREI PARA O CLUBE JACOME, do comediógrafo brasileiro França Júnior, interpretado pelos atores amadores Valentin Paz, Manoel Guimarães, Joaquim Braga, Pedro Nogueira e Sebastião Sarmento.

A PRIMEIRA RÁDIO DE SANTARÉM
Inaugurada em outubro de 1948, por Jônatas de Almeida e Silva, a ZYR-9, Rádio Clube de Santarém, com estúdio e transmissores instalados em um prédio na Travessa dos Mártires, foi a primeira rádio de Santarém. Neste mesmo mês, comemorava-se o centenário da elevação de Santarém à categoria de cidade. Dentre as comemorações, a rádio clube destacou-se transmitindo a partida comemorativa entre o Payssandu, de Belém, e o selecionado de Santarém, realizada no Estádio Municipal. O locutor da partida foi o jovem Elias Ribeiro Pinto, Secretário Municipal, o selecionado de Santarém venceu a partida pelo placar de 2 x 1.

PRIMEIRA UNIVERSIDADE DE SANTARÉM
Em setembro de 1983, durante a gestão do Reitor Seixas Lourenço, a Universidade Federal do Pará pôs em prática o Projeto de Interiorização implantando o 1° Campus Avançado da Universidade em Santarém, tendo como coordenadora do Campus Rosilda Von. O primeiro curso ofertado, foi o curso de Pedagogia, com uma turma de 50 (cinqüenta) alunos, dentre eles Anselmo Colares (Jornalista e Professor), Mario Adonis (Professor da Universidade colegiado de Pedagogia) e Gilmar Pereira (Professor), alguns dos formandos de 1987.

PRIMEIRA IGREJA DE SANTARÉM
Em 1661 o Padre João Felipe Bettendorf, contando com a ajuda dos índios Tapajós e de seu auxiliar João Corrêa, que era um excelente carpinteiro, construiu uma igreja de taipa, a primeira igreja da Missão dos Tapajós. No altar central, o Padre Bettendorf pintou a imagem de Nossa Senhora da Conceição, ladeada por Santo Inácio de Loiola, à direita, e São Francisco Xavier, à esquerda. A capela de Nossa Senhora da Conceição ficava no largo do Pelourinho, que era o centro da Vila, onde hoje é a praça Rodrigues dos Santos.

DIZ O MESTRE:

Paulo Coelho

Não tenha medo de ser chamado de louco - faça hoje alguma coisa que não combina com a lógica que você aprendeu. Contrarie um pouco o comportamento sério que lhe ensinaram a ter. Esta pequena coisa, por menor que seja, pode abrir as portas para uma grande aventura - humana e espiritual.

A LIBERDADE DA ALMA

Paulo Coelho

Quero deixar minha alma livre, para que ela possa desfrutar de todos os dons que os espíritos possuem. Quando isto for possível, não tentarei conhecer as crateras da lua, nem seguir os raios de sol até sua fonte. Não procurarei entender a beleza da estrela, ou a desolação artificial do ser humano. Quando souber como libertar minha alma, seguirei a aurora, e buscarei voltar com ela através do tempo. Quando souber libertar minha alma, mergulharei nas correntes que deságuam num oceano onde todas as águas se cruzam e formam a Alma do Mundo.

terça-feira, 24 de abril de 2007

COMPANHEIRAS

Eneida de Moraes

Durante o inverno a sala era tão úmida, que engelava mãos e obrigava os pés um constante sapateado; no verão a sala era quente, tão quente que parecia querer matar-nos sufocados a qualquer momento.
O dias - no inverno como no verão - se arrastavam pesados, longos, sem monotonia, pois nossa constante preocupação era inventar formas para que eles não fossem parecidos. Enchíamos com coragem todas as horas: ginástica, estudos, conversas, cânticos, passeios. Tão pequeno o espaço que possuíamos para caminhar, e o ruído dos tamancos cortava-o, ferindo o lajedo; a saudade impressa nos olhos; as constantes evocações. Quando se falava em quitutes variados, quando alguém dizia como se preparava esse ou aquele prato, podia-se olhar os olhos: estavam todos famintos. Quando se contava passeios e se falava de mar, praia, montanhas ou planícies, podia-se ver nos olhos famintos uma ância de voltar à vida da cidade, da terra, do mundo.
Éramos vinte e cinco mulheres presas políticas numa sala da Casa de Detenção, Pavilhão dos Primários, 1935, 1936, 1937, 1938. Quem já esqueceu o sombrio fascínio do Estado Novo com seus crimes, perseguições, assassinatos, desaparecimentos, torturas?
De um lado e de outro da sala, enfileiradas, agarradas umas as outras, vinte e cinco camas. Quase presas ao teto alto, quatro janelas fechadas por umas tristes e negras grades. Encostadas à parede, uma grande mesa com dois bancos. Ao fundo da sala, os aparelhos sanitários. Por maior que fosse a nossa luta para mantê-los limpos e desinfetados, nunca conseguíamos fugir do cheiro forte que exalavam.
Vinte e cinco mulheres, vinte e cinco camas, vinte e cinco milhões de problemas. Havia louras, negras, mulatas, de cabelos escuros e claros; de roupas caras e trajes modestos. Datilógrafas, médicas, domésticas, advogadas, mulheres intelectuais e operárias. Algumas ficavam sempre, outras passavam dias ou meses, partiam, algumas vezes voltavam, outras nunca mais vinham.
Havia as tristes, silenciosas, metidas dentro de próprias; as vibráteis, sempre prontas ao riso, aproveitando todos os momentos para não se deixarem abater. Os filhos de Rosa eram nosso filhos. Sabiamos as graças e as manhas com que embalavam aquela mulher forte, arrogante, atrevida sempre mas tão doce, tão enlevada pelos "meninos". Quando Rosa falava nos "meninos" ficávamos todas em silêncio. Onde andariam eles? A polícia arrancara-os daquela mãe, negava-se a informar onde se encontravam, não admitia que Rosa soubesse notícias da família: o marido foragido, a irmã distante. E os "meninos"? No silêncio das noites, Rosa fazia com que assistíssemos aos nascimentos, aos primeiros passos, à primeira gracinha, ao primeiro sorriso, e depois o crescer rápido, a escola, os livros, idade avançada. Onde estariam eles?
Problemas de uma, problemas de todas. O noivo de Beatriz era o nosso noivo. Queríamos saber suas notícias, coisas que nem a própria noiva conhecia. Problemas comuns, destinos comuns. Os filhos de Antônia estavam em Natal, mas onde andaria o marido de Nininha, preso do Rio Grande do Norte?
- Aquele eu conheço muito. É um cabra da peste. Ninguém dobra ele, não.
Nininha Lourada, de voz cantante, opunha às cenas de doçura suas palavras de energia. Contava a vida do marido como a de um herói.
Pobres mulheres jogadas numa prisão infecta, sem o menor conforto. Maria pensava no seu chuveiro elétrico, Valentina ensinava literatura inglesa (como estudava e lia Valentina) e queríamos a viva força que Nise desse lições de Psicologia.
Um dia - jamais esquecerei esse dia - fazia muito calor e havia sol. Pareciam maiores as paredes da sala onde escrevêramos desabafos. A vida lá fora devia estar bela; era verão e com certeza ruas e avenidas ensolaradas viam passar mulheres de vestidos claros e leves. Na sala, aquela tarde, havia tanto calor que descansávamos nas camas, abanando-nos com pedaços de papel. Como não tínhamos espaço para andar todas ao mesmo tempo, quando umas o faziam, outras eram obrigadas a ficar sentadas ou deitadas nas camas. Jogávamos paciência, algumas, e o calor era tanto que nem tentávamos falar. Qualquer gesto, qualquer palavra ou movimento iria aumentar o suor que escorria de nossos corpos cansados. Não podíamos perder a menor de nossas energias: deveríamos sobreviver.
E foi nessa tarde que tenho gravada na memória que ela entrou na Sala das Mulheres. Nunca esquecerei seu ar de espanto nem aqueles sapatos que haviam sido brancos. Estavam manchados de terra ou de sangue? Nunca esquecerei o vestido sujo, as mãos trêmulas, os cabelos brancos revoltos.
Ouvimos os passos do guarda subindo a escada; as chaves na porta das grades; depois ela entrou. Estatura mediana, vestido estampado, olhos curiosos. Entrou em silêncio. Em silêncio o guarda a deixou ali.
Olhou em torno. Procurou examinar uma a uma as mulheres, envolvendo-as todas num olhar imenso. Sentou-se na ponta de cama próxima, curvou-se, meteu os dedos por entre os cabelos.
- Quem será?
- Que mulheres serão estas? - estaria se perguntando.
Aproximamo-nos. Tínhamos sempre o cuidado de fazer o reconhecimento e o nosso próprio interrogatório: de onde vem, que fez, por que foi presa, seu ome, etc. Muitos etc.
Perguntamos quem era ela. Nenhuma respostas. Ninguém a conhecia; não nos conhecia. Insistimos. Levantou os olhos, encarou-nos de frente, parecia um animal pronto a se defender. Nossas perguntas foram feitas em várias línguas. E ela continuava firme, sem a menor perturbação fisionômica.
- Não sabemos quem é você. Mas nós somos antifacistas, nós somos presas políticas. Cada uma de nós tem sua estória; esta veio presa do Norte, aquela está aqui como refém porque o marido sumiu. Somos todas brasileiras.
Uma de nós adiantou-se e lhe disse:
- Eu sou comunista.
Foi a esse grito que aquela mulher despertou. Agarrou-se à companheira, beijou-lhe o rosto e pôs-se a exclamar com grandes lágrimas descendo pelo rosto alquebrado:
- Camarada, minha camarada!
O olhar com que agora envolvia as vinte e cinco mulheres era diferente; queria entender as palavras na paredes; perguntava, sorria, abraçava todas, chorava e ria. E contou. Contou com voz firme o quanto sofrera. A Polícia Especial a maltratara mostruosamente. Mostrou-nos os seios onde trazia impressas marcas de dedo. Colocavam-na no alto da escada, amarrada e nua para forçá-la a declarar ou delatar, enquanto dois homens enormes lhe puxavam os seios.
Falou-nos do sofrimento, da fome e da sede que lhe haviam imposto. Falou-nos de seu companheiro e das barbaridades que ambas padeceram. Falou sempre com voz clara, precisa, serena, em tudo que passara nas rpisões desta cidade. Seu corpo guardava ainda as vergastadas de chicote policial. Jogavam-na de prisão em prisão. Ora era metida em celas de prostitutas, ora no meio das ladras ou ébrias. Durante mais de dois meses sofreu humilhações físicas e morais.
- Muito ruins, muito ruins, comentava.
Uma de nós falou:
- Ela precisa comer, tomar banho, mudar o vestido.
Houve um corre-corre geral. Todas queriam dar-lhe roupas, todas queriam dar-lhe um pedaço de pão, de doce, uma fruta. Comia sorrindo. Sua fome tinha dois meses, seu sofrimento mais algum tempo.
Minutos depois voltou o guarda. Explicou que fora engano. A prisão para ela seria outra. E sorrindo:
- Muito pior.
Quando partiu deixava vinte e cinco amigas. Não lhe dissemos adeus, não tivemos um monmento de fraqueza. Mas quando as grades se fecharam atrás dela, cinqüenta olhos choraram.
A tarde tão quente de verão foi mais longa e dolorosa naquele dia. Ninguém falava. Voltamos ao jogo de paciência, ao silêncio, à angústia de saber que a vida lá fora devia andar linda.
Três meses depois ela voltou. Veio viver conosco. Todas as noites, à meia-noite, levantava-se e andava, andava de um lado para o outro, sem uma palavra.
- De meia-noite às duas da manhã ela devia apanhar, ficou-lhe uma psicose.
Essa mulher se chamava Elisa Soborovsk, a Sabo Berger, mulher de Henry Berger. O governo Getúlio Vargas entregou-a mais tarde à Gestapo. Hitler matou-a.
Sabo, para mim, foi uma revelação; jamais conheci mulher tão culta, tão humana, tão valente. Uma mulher tão bela. Nunca a esquecerei.
Na noite em que ela partiu com Olga Benário para o navio que as levaria a Hitler, era inverno e tiritávamos de frio. sofríamos ainda mais, porque tínhamos aprendido a amá-la.
Recordando-a agora, cumpro um dever. Jamais esquecerei também as vinte e cinco mulheres da sala ora fria, ora quente, do Pavilhão dos Primários.
Grandes mulheres; boas companheiras.

A COMUNICAÇÃO MUDA

14 de fevereiro de 1970

O que nos salva da solidão é a solidão de cada um dos outros. Às vezes, quando duas pessoas estão juntas, apesar de falarem, o que elas comunicam silenciosamente uma à outra é o sentimento de solidão.
Clarice Lispector

SAUDADE

27 de maio de 1968

Saudade é um pouco como a fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida.
Clarice Lispector

ESTAMOS EM GREVE! GRAÇAS A DEUS!!!

Matéria publicada no Jornal Olho de Boto em 2006 (Em protesto à maior greve histórica da UFPA, até agora!)
Por ESEL, Encontro Semanal dos Estudantes de Letras.

Membros do ESEL deflagram greve por melhores condições trabalho. Trabalho?
A greve dos professores da Universidade Federal do Pará foi encerrada no dia 15 de dezembro de 2005. Esta foi uma das maiores greves e que acabou gerando grandes prejuízos para os estudantes, sobretudo os estudantes sérios e interessados.
Entretanto, durante a greve, o ESEL não interrompeu suas atividades. Mantendo encontros contínuos em suas já conhecidos sedes: Bar do Divino, Taco de Ouro, Bar do maranhão, Bonitinha de Rosto, MPBar, entre outros. Além de sempre dar uma passadinha pela Universidade, na esperança de encontrar algum fantasma ou outros seres sobrenaturais, os únicos que teimavam em ocupar o local durante a greve, já que funcionários dificilmente encontravam-se por lá.
Alguns alunos relatam alguns acontecimentos estranhos que teriam acontecido, na Universidade, durante a greve. “Teve uma vez que eu vi um professor na Universidade durante a Greve. Foi horrível, porque sempre me disseram que essas coisas não existem. Já pensou? Professor na Universidade em tempo de greve? Isso só pode ser coisa do outro mundo. Foi assustador!”, declarou Ilmo Jr, acadêmico que decidiu mudar de cidade depois do ocorrido, bastante assustado, e ainda tremendo, ao relatar o ocorrido.
Com o fim da Greve e o excelente reajuste no salário dos professores, além da significativa melhora na estrutura física do Campus e o considerável aumento no acervo da biblioteca, tudo caminhava para um final pacífico e feliz. Mas, quando menos esperava, o governo foi atingido por mais uma greve, dessa vez o setor descontente é o importantíssimo e inimitável ESEL (Encontro Semanal dos Estudantes de Letras).
Segundo o Departamento Jurídico do ESEL, a greve da categoria foi deflagrada por causa da atual política econômica do governo, que mantém os juros altos, sob a desculpa de conter o aumento da inflação, o que acaba comprometendo departamentos estratégicos do ESEL, como o CAV (Centro de Abastecimento Vinícula).
Segundo o diretor do CAV, Denn Costa, “O CAV está sendo bastante prejudicado pelo aumento abusivo no preço do vinho.Nosso departamento está trabalhando no vermelho, pois os juros autos comprometem as compras à prazo”.
Em virtude disso, o ESEL, em Assembléia Geral Extraordinária, decidiu, por unanimidade, paralisar suas atividades em protesto pela atual política. A exemplo do que aconteceu com a paralisação dos professores da UFPA, o ESEL decidiu fazer uma greve de ocupação. “decidimos ocupar todas as mesas de Bilhar e praias da cidade, para chamar a atenção para o movimento”, declarou Jailson do Amaral, coordenador interino do JOSE (Junta Organizadora de Serviços do ESEL), que assumiu o Comando de Greve e está conduzindo as negociações.
Enquanto não se chega a um acordo definitivo, o ESEL continua irredutível e aproveita o momento para discutir os rumos de sua nova política. È muito provável que, após a greve, o ESEL continue ocupando as praias da cidade. Já existem boatos de que uma nova secretaria seria criada a SOPA (Secretaria de Ocupação de Praias Abandonadas). Segundo Jailson do Amaral, a greve já serviu para descobrir uma coisa muito importante. “Descobrimos porque os professores fazem tanta greve. O grande atrativo está no termo ocupação. Esta história de ocupação é um bom pretexto para sair de férias, conhecer praias e se divertir à vontade. O ESEL que o diga!”. Mais uma grande descoberta do ESEL.

MEMBROS DO ESEL DESAPARECEM MISTERIOSAMENTE

Matéria publicada no jornal do ESEL - Encontro Semanal dos Estudantes de Letras em 2005
Por ESEL

Serviço de Inteligência do ESEL (SIE) inicia investigações para descobrir o paradeiro de alguns membros

Durante a elaboração deste jornal, a diretoria de imprensa do ESEL divulgou a notícia que está deixando a cidade em pânico. Segundo a nota enviada à imprensa, está confirmada a hipótese de que o ESEL está sendo vítima de uma grande conspiração que visa esvaziar os bares da cidade.
Ruyglecius, agente da SIE, foi designado para investigar o desaparecimento dos membros do ESEL, que sumiram do convívio eselístico. Ao que tudo indica, terroristas podem estar envolvidos neste caso. A própria UCT (Unidade de Combate ao Terrorismo), não descarta essa hipótese. A SCE (Sede Campestre do ESEL), já foi totalmente evacuada para averiguação. Outro agente do SIE, Jailson Tavares, também foi mandado para investigar o caso. “As pistas não são muitas, sabe-se apenas que dois deles foram seqüestrados e levados para uma cidade sem lei (Novo Progresso – cidade que serviu de modelo para os autores da novela Bang Bang) e que o outro teria sido levado para uma terra longínqua, conhecida apenas por Macapá”, afirmou o agente Tavares, que está bastante preocupado com a situação. Os Eselistas estão com medo de que a qualquer momento mais um membro possa desaparecer.
“Existe, ainda, outra possibilidade. A de que os membros do ESEL tenham sido abduzidos por seres alienígenas de outro planeta, em discos voadores”, declarou a Diretora de operações Ultra-Secretas do SIE, Carla Jean Gray (de visual novo – agora loira e com dois neurônios), levantando a possibilidade de contactar os agentes do MIB – Homens de Preto, para ajudar nas investigações.
Diante da crise que se instalou, várias instituições se prontificaram a colaborar. Diversos bares de Santarém estão patrocinando as investigações, enviando dezenas de caixas de vinho e milhares de fichas de bilhar, afinal de contas, os membros do ESEL foram seus melhores clientes nos últimos anos.
A UCT Também está ajudando através de Jack Bauer, agente capaz de enfrentar sozinho, em 24 horas, centenas de terroristas sem levar nenhum tiro de raspão. Ele disse que fará de tudo para pegar os terroristas e que espera contar com a ajuda do agente Tavares nas investigações. A situação está tão crítica que foi preciso acionar a FAROFA (Forças Armadas de Regimento Operacional dos Franco-Atiradores). Os agentes Oséias (mais conhecido com agente Zangado) e o agente Edinildo (mais conhecido como agente Espaguinole), foram destacados para o trabalho. Tanto o agente Zangado como o agente Espaguinole, já trabalharam em três grandes missões, aparentemente impossíveis, a Operação Caça ao Papai Noel; Operação Pente Fino em Cabelo Crespo e por último, a Operação Enterro de Anão. “A primeira estratégia será descobrir quem levou os cabelos do agente Zangado. Acreditamos que os dois crimes estão relacionados”, afirma o agente Espaguinole (que trocou de cérebro com a agente Carla Jean Gray, em experiência realizada pelo Dr. Albieri, de O Clone).

VOCÊ SABIA?

Publicado no Jornal Olho de Boto da UFPA

Por Carla Ninos


Ø O cantor Vando compôs o seu grande sucesso “MOÇA” em homenagem a Sabagama, uma prostituta por quem se apaixonou, que trabalhava no antigo Bar Tapajós, na praça da Matriz em Santarém. (Declarou o cantor em entrevista a um programa de televisão)


Ø A cantora Cássia Eller, na sua adolescência, morou em Santarém e estudou no Colégio Dom Amando. Cássia veio parar na nossa cidade devido ao fato de seu pai ser um Militar e ser, constantemente, transferido de cidade em cidade. (Declarou a cantora em entrevista a um programa de televisão)


Ø A orla que vai da Praia Maria José até a foz do Furo Maicá, abrangendo todos os cais, docas, pontes, píeres de atracação e de acostagem, armazéns, edificações em geral, vias internas de circulação rodoviárias e ferroviárias e, ainda, os terrenos ao longo dessas áreas e em suas adjacências, foram declarados, pelo Presidente Lula, de acordo com o Decreto Lei n° 5.229 de 05 de outubro de 2004, Área Portuária pertencente à União.


Ø As faixas nas cores amarelo e azul, na Bandeira Municipal, representam o encontro das águas do Rio Amazonas (amarelo) e do Rio Tapajós (azul).


Ø Em 1995, Laurimar Leal, maior expressão no campo da pintura e da escultura santarena, esteve na França em visita de intercâmbio cultural. Durante a viagem, Laurimar teve a oportunidade de visitar, dentre outros, o famoso museu do Louvre, depositário da mais célebre tela de Leonardo Da Vinci, a Mona Lisa Del Giocondo, além de outras obras de valor inestimável.


Ø A origem do nome de Santarém surgiu de uma antiga lenda lusitana inspirada por um amor impossível. Em uma cidade chamada Nabância nasceu uma formosa menina chamada Irene, que desde cedo se dedicou a uma vida religiosa. Um certo dia, um fidalgo de nome Teobaldo se apaixonou perdidamente por ela, pedindo-a em casamento não sendo, porém, correspondido. Inconformado Teobaldo decidiu raptá-la, e, como Irene continuava a renegá-lo, degolou-a e jogou seu corpo ao rio Nabão. A correnteza levou o corpo ao rio Tejo, indo parar na praia em frente á cidade de Escalabis. Ali, anjos recolheram o corpo de Irene e lhe construíram um magnífico túmulo de mámore. A notícia se espalhou por toda a Lusitânia e de toda parte acorria gente para venerar o túmulo da virgem mártir. Mais tarde, a cidade de Escalabis teve seu nome mudado para Santa Irene, que os portugueses pronunciavam Sant’Irene, daí evoluindo para Santarém.


Ø Em 1994, Santarém quase foi palco do maior acidente aéreo do mundo. Dois aviões de grande porte entraram na mesma rota, por falha do operador na torre de comando, e quase se chocaram, em cima da cidade. Para se ter noção de o quão próximos os aviões estiveram, os passageiros das duas aeronaves informaram que podiam enxergar nitidamente, pela janela do avião, os passageiros que estavam no outro avião.


Ø Segundo artigo publicado, na Revista Science, pelas arqueólogas Anna Roosevelt, do Museu de História Natural de Chicago, e Silvia Maranca, da Universidade de São Paulo (USP), foram descobertos na fazenda Taperinha, próximo à cidade de Santarém, fragmentos de cerâmica com idade entre 7.000 e 8.000 anos. Estes fragmentos de argila são, no mínimo, 3.000 anos mais antigos do que quaisquer peças produzidas pelos Incas, Maias e Astecas, três grandes civilizações existentes na América Pré-Colombiana.


Ø Santarém, das margens do rio Tejo, em Portugal, e Santarém, das margens do rio Tapajós, no Brasil, são, oficialmente, consideradas cidades irmãs. No mês de outubro de 1994, uma comissão da cidade de Santarém de Portugal, chefiada por José Miguel Correia Noras, Presidente da Câmara Municipal de Santarém-Portugal, desembarcou em nosso município para conhecer, estreitar os laços de amizade e assinar protocolos, declarando as duas cidades irmãs.


Ø O símbolo POPULAR de Santarém é a figura do muiraquitã, que é muito encontrado nos monumentos de nossas praças. Os muiraquitãs são as famosas pedras verdes, moldadas (ou entalhadas?) a que a crendice popular atribui propriedades miraculosas. Os portugueses e espanhóis, dos tempos passados, atribuíam ao muiraquitã poderes na cura da epilepsia, cólicas e doenças do fígado.

SANTARÉM: ÁREA DE SEGURANÇA NACIONAL

Matéria publicada no Jornal Olho de Boto da UFPA na edição de Curiosidades em 2005.

Respaldados pelo AI-5, Militares incluíram Santarém na Área de segurança nacional, interferindo no processo democrático do município

Por Carla Ninos

Pouca gente sabe, mas, Santarém já foi área de segurança nacional. Há mais de 26 anos o regime militar instalado em 1964 incluiu Santarém na Área de Segurança Nacional, respaldado pelo Ato Institucional nº 5. Em conseqüência disto, os prefeitos passaram a ser nomeados pelo Presidente da República.
Tudo começou quando, em 15 de novembro de 1966, Elias Ribeiro Pinto (pai do Sociólogo e Jornalista Lúcio Flávio Pinto) e Joaquim de Oliveira Martins, dois políticos populares que faziam oposição ao governo militar, foram eleitos, pelo voto direto pelo MDB – Movimento Democrático Brasileiro (atual PMDB). A Câmara Municipal de Santarém, em reunião extraordinária no dia 28 de novembro de 1967, suspendeu-os de suas funções, pelo prazo de 30 dias, para apresentarem defesa aos crimes de responsabilidades administrativas pelos quais foram denunciados quatro dias antes. Mas os crimes atribuídos aos dois teriam sido forjados pelo Tribunal de Contas dos Municípios. O fato é que o Governador Alacid Nunes, opositor de Elias Pinto, não admitia sua vitória.
No mesmo período, chegou a Santarém o Deputado Federal Haroldo Veloso, que era Brigadeiro, e tentou reintegrar Elias Ribeiro na prefeitura à força, aproveitando a revolta da população diante do golpe. Assim, em 20 de setembro de 1968, Veloso, em companhia de Elias Pinto, organizou uma passeata que foi reprimida pelo aparato policial montado à frente da Prefeitura Municipal (onde hoje funciona o Centro Cultural João Fona), o que causou uma confusão geral, resultando nas mortes de Cujubinha e Banana, que eram pessoas simples do povo, e vários feridos, entre eles, Haroldo Veloso.
O vereador Manoel Jerônimo Gomes Diniz assumiu interinamente a prefeitura, sendo substituído pelo Vereador Elinaldo Barbosa Santos em 3 de setembro de 1968, que foi assassinado, em seu próprio gabinete.
Apesar de o assassinato de Elinaldo não apresentar conotações políticas, sua morte foi usada como pretexto para a assinatura do Decreto Lei nº 866 em 21 de setembro de 1969, incluindo Santarém na Área de Segurança Nacional. Esta situação durou até 1985, quando foi revogado o Decreto lei, e os santarenos puderam escolher o seu Prefeito democraticamente, depois de 19 anos. A eleição para Prefeito de Santarém foi realizada em 15 de novembro daquele ano, em que se saiu vencedor José Ronaldo Campos de Souza (PMDB), que tomou posse do cargo a 1º de janeiro de 1986.
* Outros Prefeitos nomeados pelo Presidente da República
Militar Capitão Elmano de Moura Melo;
Everaldo de Sousa Martins;
Osvaldo Aliverti;
Paulo Imbiriba Lisboa;
Antônio Guerreiro Guimarães;
Ronan Manoel Liberal Lira;
Adelerme Maués Cavalcante