quarta-feira, 25 de abril de 2007

GUERRA ENTRE SANTARÉM E MONTE ALEGRE

Matéria publicada no jornal Olho de Boto da UFPA em 2005
Por Carla Ninos
No período de 1823-1824, um movimento, iniciado em Cametá, gerou conflito e mortes na região do Baixo-Amazonas.
Queixas e ressentimentos dos nativos contra o elemento português sempre foram constantes em nossa região. Os ânimos por esta Amazônia sempre andaram muito acirrados. Tanto que Elivaldo Macedo cita, em seu livro sobre o município de Santarém, os acontecimentos ocorridos no período de 1823 – 1824 que acabaram gerando o conflito armado entre Santarém e Monte Alegre.
Segundo Elivaldo, em fins de 1823 o povo de Cametá, descontente com os rumos que tomavam os acontecimentos na capital, provocou um pronunciamento armado, logo apoiado por várias vilas e localidades vizinhas.
Os rebeldes organizaram grupos de atacantes, que se alastraram pelo interior, aliciando partidários e invadindo e saqueando cidades. Santarém, ao tomar conhecimento desta “revolta”, tratou de organizar a defesa da região, visto que nossa cidade funcionava, naquela época, como uma espécie de capital do Baixo-Amazonas. Assim, Santarém entrou em comunicação com várias vilas do Tapajós e Amazonas, mobilizou um regimento e preparou-se para qualquer surpresa.
Foi comissionado no comando das tropas santarenas o tenente-coronel Antônio Luiz Coelho. Também foi constituída, mediante votação popular, uma “Junta Defensiva Provisória”, destinada a combater a insurreição.
Enquanto isso, os rebeldes, subindo o Amazonas, ocuparam Gurupá e, prosseguindo, tomaram Porto-de-Mós e marcharam contra Monte Alegre. Atacaram a Vila à meia-noite de 12 para 13 de março de 1824, encontrando-a sem muita defesa organizada, entraram e saquearam a Vila. Os saldos da investida foram terríveis. Os moradores Nicolau de Campelo, Antônio Lourenço de Carvalho e Manoel Joaquim foram assassinados, seus corpos foram retalhados e as partes amarradas em cavalos sendo arrastados pelas ruas. Além disso, muitos outros moradores foram presos e a vila despovoou-se.
Após a fácil vitória, antes de passarem para o Tapajós, os rebeldes se dispuseram a atacar Alenquer, e, ao meio-dia do 28 de março, a pequena Alenquer foi invadida e ocupada sem reação.
No dia seguinte, a notícia chegou a Santarém, que, imediatamente, enviou um destacamento de 80 praças dos batalhões que foram criados para defender a região. O destacamento foi enviado para Alenquer sob o nome de “Pacificador do Amazonas”, o comandante da tropa foi o Tenente Francisco Caetano da Silva.
Ao chegar em Alenquer, no dia 31, o comandante do destacamento bradou aos rebeldes que largassem as armas e se unissem aos irmãos. Como resposta, recebeu alguns tiros, dando origem ao conflito. O combate durou por uma hora, com vitória da tropa santarena, havendo 30 rebeldes mortos e 40 prisioneiros. Do lado santareno houve apenas uma baixa, visto que o poder de fogo dos rebeldes era muito pequeno.
Após reconduzir Alenquer ao governo local, a Junta de Santarém organizou nova expedição militar, desta vez contra os ocupantes de Monte Alegre, sob o comando do Ajudante de Milícias, Manoel José dos Santos Falcão. O destacamento chegou à Vila de Monte Alegre no dia 20 de abril de 1824 e foram surpreendidos por uma forte resistência armada. As tropas santarenas chegaram a ganhar a planície da Vila, porém, antes de amanhecer, os rebeldes irromperam sobre os soldados santarenos que, cercados, foram obrigados a empreender fuga, largando pelo caminho a maior parte das armas.
A derrota das tropas gerou em Santarém uma intranqüilidade muito grande. Tanto que a Junta Defensiva, recebendo reforços de Óbidos, decidiu dar um golpe de morte aos rebeldes, organizando nova expedição.
De início, mandou estacionar em frente a Monte Alegre, para dar princípio a um bloqueio da Vila, uma escuna (antigo navio à vela) armada com uma peça de rodízio, calibre 6 (grosso calibre para a época), lançando uma proclamação aos rebeldes incitando-os a depor as armas.
A 27 de abril, a escuna atingiu Monte Alegre, sendo recebida a tiros. No dia seguinte, os rebeldes tentaram entender-se pacificamente com o comandante do navio. As negociações continuaram sem que se chegasse a um acordo imediato. Enquanto isso, uma outra barca chegou do Rio Negro para ajudar no bloqueio. Por fim, ainda sem acordo firmado, nova barca estacionou à frente de Monte Alegre, todas as barcas estavam sob o comando do capitão de primeira linha, Bibiano Luiz do Carmo.
Os rebeldes, por sua vez, ampliavam suas tropas, espalhando destacamentos por vários pontos estratégicos da Vila, tentando mostrar que o bloqueio não lhes causava medo.
Em maio, o Comandante Bibiano foi substituído pelo Tenente-Comandante, Miranda de Leão, velho militar, que trazia experiências da Europa. Ao assumir o comando das tropas, Miranda de Leão, intimou os rebeldes a deporem as armas, comunicando-lhes que a Junta de Belém havia concedido anistia a todos que participaram da revolta de pós Independência na Amazônia.
Diante desta notícia, as negociações foram retomadas e no dia 09 de junho de 1824 foi assinado o Termo de Paz entre Santarém e Monte Alegre, pondo um fim à “guerra”. Após o acordo, os navios e tropas deixaram a Vila e a Junta Defensiva Provisória encerrou suas funções e foi dissolvida.

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