quinta-feira, 25 de junho de 2009

GLOBO: o que vem por aí!!!


Como atrair público e ganhar dinheiro com arte sem fazer demasiadas concessões? Este é o dilema central de "Som e fúria", minissérie de 12 capítulos com direção geral de Fernando Meirelles ("Cidade de Deus", "Ensaio sobre a cegueira") que estréia na noite de 7 de julho na Globo.

O conflito está presente dentro e fora da trama, baseada na série canadense "Slings and arrows". O enredo apresenta as agruras dos integrantes de uma companhia de teatro especializada em montar peças de William Shakespeare. Enquanto as peças do dramaturgo inglês são ensaiadas e encenadas, o diretor financeiro da companhia planeja transformá-la em um negócio lucrativo, deixando de lado os clássicos e apostando em musicais. Fora da telinha, Fernando Meirelles acredita que Shakespeare pode voltar a ser pop como era na época em que vivia.

O grande conflito da série é o de equilibrar integridade artística e bilheteria. Esse é meu conflito do dia a dia e de todos os artistas. Até onde vai a integridade artística e quando você tem que contemporizar para conseguir trazer público - confessou Meirelles.

- A graça do texto da série é que ele pega o assunto de cada peça de Shakespeare e passa para os bastidores. Há sempre um paralelo entre as peças e os bastidores. A tragédia, o drama acontece no palco e nos bastidores a coisa é replicada como comédia. É uma mistura muito bem armada. Se o público não comprar o personagem de Shakespeare, ele conhece a história do ator que está interpretando, então ele entra pelo outro lado.

"O grande conflito da série é o de equilibrar integridade artística e bilheteria. Esse é meu conflito do dia a dia".

Para aproximar o público do texto de Shakespeare, Fernando Meirelles leu todas as traduções disponíveis em português da obra do dramaturgo e escolheu, para os trechos citados na série, as de linguagem mais simples e coloquial.

- A idéia era ser acessível. Shakespeare era popular em seu tempo e ficou elitizado porque a linguagem mudou. Ele escrevia do jeito que era coloquial na época, mas a linguagem mudou e ninguém ousa mexer nos textos. Há uma vantagem em fazer Shakespeare em português e não em inglês, pois como temos que traduzir, na tradução dá para roubar no jogo - explica o diretor.

O vilão de "Som e fúria" é Ricardo da Silva, diretor financeiro do grupo de teatro, interpretado por Dan Stulbach. Como uma espécie de Macbeth, Ricardo é manipulado pela amante, uma funcionária da secretaria de cultura, Graça, personagem de Regina Casé, para transformar a companhia dirigida por Dante (Felipe Camargo) em uma máquina de ganhar dinheiro. Como artista, Dan, que é dono de um teatro em São Paulo, pensa diferente de seu personagem.

- Existe o confronto das suas idéias e ideais com o que o público e o mercado querem. Nem sempre eles casam.
Totalmente a favor de "mistura", Regina Casé diz não ter nenhum receio de ver Shakespeare na TV.

- Meirelles entendeu que a TV não pode ficar em outro patamar, como se fosse inferior a outras artes. Se queremos realmente atingir todo o povo brasileiro é preciso fazer TV. Você pode ter tudo o que teria em uma peça, em um livro, no cinema na TV, até porque o nível da TV no Brasil é altíssimo e o público também tem um nível de educação e exigência audiovisual elevado. Fazer TV é isso. É acreditar que o público pode ser legal, exigente - defende Regina.

"Meirelles entendeu que a TV não pode ficar em outro patamar, como se fosse inferior a outras artes".

De volta a TV após uma ausência de dois anos, Felipe Camargo celebra o retorno.

- Foi o presente da minha vida. Até hoje o Dante é o melhor personagem que já fiz - revela o ator.

Andrea Beltrão, que interpreta Elen, primeira atriz da companhia e mulher de Dante, conta que leu a obra inteira de Shakespeare. Ao mesmo tempo em que a atriz dá vida à Elen, ela interpreta personagens clássicas como Ofélia, Gertrudes, Lady Machbeth.

- Foi como fazer várias peças ao mesmo tempo. É um dos meus maiores momentos de plenitude no trabalho aliado ao desejo de estudar.

No horário das 23h30, Meirelles acredita que uma média de audiência entre 20 e 21 pontos é considerada um sucesso e pode garantir à série uma segunda temporada. Há planos também de lançar um compacto de 1h20 dos seis primeiros episódios nos cinemas.

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