sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Cineastas criticam escolha de "Lula, o Filho do Brasil" para concorrer a vaga no Oscar

Lúcia Valentim Rodrigues
DE SÃO PAULO

A escolha do filme "Lula, o Filho do Brasil", de Fábio Barreto, como representante do Brasil para concorrer a uma vaga no Oscar, foi criticada por outros cineastas.

Fernando Meirelles ("Cidade de Deus", "O Jardineiro Fiel"), que também participa da campanha de Marina Silva à Presidência pelo Partido Verde, avaliou que "o personagem retratado pode ter pesado na decisão, principalmente para os votantes americanos que não estão acompanhando este patético final de carreira do presidente".

"Ver seu incrível início de trajetória tem interesse, sem dúvida. Não sei se foi um pensamento que passou pela cabeça dos jurados que escolheram o filme, mas me parece fazer sentido para um grupo que buscava um filme que pudesse ter um apelo a mais."

Sandra Werneck, que inscreveu seu "Sonhos Roubados" com outros 22 candidatos à vaga, diz que a conotação política esteve colocada desde o lançamento do filme. "Lula é bem visto fora do Brasil como um líder, é um presidente bem aceito internacionalmente."

Ela acha que Lula é uma das coisas do Brasil que os norte-americanos conhecem. Mas critica a escolha baseada em vencedores anteriores da disputa. "Apesar de ser um filme de narrativa clássica, foi preparado para ser um filme-evento. No histórico do Oscar, são os filmes autorais quem mais ganham. A gente nunca consegue chegar lá."
Nesse sentido, Leon Cakoff, que integrou a comissão e dirige a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, tem uma opinião parecida. "Certamente, 'Lula' não é o melhor filme do ano. O critério é chegar mais perto de uma boa repercussão. Mas a premiação tem um retrospecto de filmes densos. Não acho que esse seja o caso. É uma falha da produção brasileira que temos de sanar."

Sérgio Bianchi e seu "Os Inquilinos" também foram preteridos na eleição. Mas ele minimiza a importância do prêmio: "Não estava pensando em ser selecionado. Acho um delírio muito estranho. É a maior prova do nosso complexo de escravo". Ele afirma que acha que o critério para escolher "Lula" não foi político. "Acho que é a tentativa de indicar o mais normativo para ser aceito. É o projeto da indústria brasileira: fazer um bom filme B americano."

Arnaldo Jabor, que abriu ontem (23/9) o Festival do Rio com "A Suprema Felicidade", não quis criticar o júri por não estar lá. "Coloquei meu filme na lista como todo mundo que já finalizou. Mas não faço muita questão, fiz este filme para o Brasil ver."

Roberto Farias, presidente da Academia Brasileira de Cinema, defendeu a escolha, unânime, do conselho. "Um corpo de jurados tão diverso chegou à mesma conclusão por unanimidade. Isso mostra que a comissão buscou o interesse do cinema brasileiro, independente de críticas políticas ou cinematográficas. A comissão é muito mais especializada para indicar um filme do que o povo em geral, que se deixa levar pelo filme que acabou de ver, por gostos específicos, pela repercussão na mídia. Lula é uma figura internacional. Talvez seja o nosso maior astro. Não tem nenhum ator tão conhecido quanto ele."

Para a produtora Paula Barreto, que cuida das estreias estrangeiras do filme enquanto seu irmão Fábio segue em coma após um acidente de carro em dezembro do ano passado, "rotularam o filme de político, mas ele não é". "É um filme sobre a família Silva. Não é candidato a ser eleito para nada."

"Por isso ficamos felizes quando o Ministério da Cultura anunciou que a comissão de escolha ia ser formada por representantes do setor audiovisual ficou mais real. Percebemos que o filme ia ser encarado apenas como um filme."

Ela diz acreditar que os norte-americanos vão se identificar com uma narrativa sobre um "self-made man", um homem que supera adversidades. "É um filme épico, grandioso, feito aos moldes de Hollywood."

No dia 25 de janeiro, saem os indicados ao Oscar 2011. Nessa data, serão revelados os cinco finalistas na categoria de filme estrangeiro. Já no dia 27 de fevereiro será a entrega do prêmio, em Los Angeles.

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