sexta-feira, 24 de outubro de 2008





"Aqueça seu coração", velho slogan das campanhas do agasalho Brasil afora, acaba de ganhar uma insuspeita base científica. Uma dupla de pesquisadores americanos demonstrou, com a ajuda de voluntários, muito café e palmilhas terapêuticas, que a sensação de calor nas mãos pode tornar as pessoas mais amigáveis e generosas. A explicação mais provável do fenômeno é que as áreas do cérebro que usamos para captar a quentura física também avaliam o "calor" metafórico envolvido nos sentimentos humanos.

A pesquisa de Lawrence Williams, da Universidade do Colorado em Boulder, e John Bargh, da Universidade Yale, segue algumas pistas da psicologia experimental, que apontam à percepção de quão "calorosa" é uma pessoa como uma das principais avaliações que os seres humanos fazem em contextos sociais - tão importante que as pessoas tendem a fazer essa avaliação sobre gente que acabaram de conhecer, e o fazem com alto grau de exatidão praticamente à primeira vista.

É o tipo da coisa que nos ajuda a estimar instintivamente se alguém tem boas chances de ser amigo ou inimigo, ou até um parceiro sexual/afetivo em potencial. Uma das hipóteses mais populares é que a sensação de calor afetivo está ligada, em mamíferos, ao "quentinho" gostoso que os filhotes recebem da mãe quando estão sendo amamentados por ela. De quebra, análises do funcionamento cerebral já indicavam a sobreposição entre calor físico e psicológico na mesma região do cérebro, o córtex insular.


Vai um cafezinho aí?


Até aí, tudo bem - em termos teóricos. Williams e Bargh desenvolveram dois protocolos experimentais (que mais parecem pegadinhas de TV) para avaliar o impacto de todas essas associações no comportamento das pessoas.



No primeiro, os voluntários eram recebidos por uma pessoa na frente do local dos experimentos, a qual carregava um copo de café quente ou gelado. Casualmente, a pessoa pedia que os voluntários segurassem o copo enquanto ela anotava alguns dados. Depois, cada voluntário tinha de preencher um formulário em que precisava dar "notas" à pessoa que acabaram de conhecer em dez traços de personalidade, metade dos quais tinham diretamente a ver com o conceito de "calor" interpessoal - coisas como "generoso", "alegre" e "sociável". O resultado? Quem segurou o café quente tinha mais probabilidade de dar notas altas nesses quesitos do que os que seguraram o café frio.

No segundo experimento, os cientistas trocaram o café por uma palmilha terapêutica que podia estar quente ou fria e tinha de ser segurada pelos participantes a pretexto de testar sua eficácia. A pegadinha agora era a seguinte: depois de terminado o experimento, os voluntários podiam escolher entre uma bebida ou vale-sorvete para si próprios ou para um amigo como recompensa. Bingo: quem segurava a palmilha quente tendia mais a presentear um amigo do que os que ficavam com a palmilha fria. Além de sugerir uma excelente estratégia para um primeiro encontro, convide o pretendente para beber algo quentinho, a pesquisa indica que emoções mais "abstratas" podem ter origem em sensações concretas e físicas. De fato, trabalhos anteriores haviam demonstrado que pensar em coisas imorais faz as pessoas se sentir sujas, e se sentir sozinho leva os seres humanos a também sentir frio.

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