quinta-feira, 26 de julho de 2012

Como melhorar sua vida com o sexo

Todos nós estamos sujeitos a enfrentar problemas sexuais. A boa notícia é que a maioria dos casos já pode ser tratada com eficácia.

Adaptação Maurício Oliveira
Superinteressante

Quem sente dores no estômago costuma correr para o médico, mas quem enfrenta dificuldades sexuais raramente age com a mesma urgência em busca de ajuda. Ao fazer a visita periódica ao ginecologista, boa parte das mulheres esquece de comentar que a vagina não está se lubrificando adequadamente na fase de excitação e que os orgasmos estão cada vez mais raros. Da mesma forma, homens com dificuldade de ereção ou com ejaculação precoce demoram muito para enfrentar o problema. “Grande parte deles espera entre três e cinco anos para consultar um urologista, tempo mais que suficiente para que um relacionamento acabe”, diz o terapeuta sexual Celso Marzano, de São Paulo.
Ainda que o conhecimento geral sobre sexo tenha aumentado nas últimas décadas – especialmente entre os jovens, que passaram a ter acesso a um grande volume de informações na escola, pela TV ou via internet –, o tema continua sendo tabu para muita gente, uma herança de décadas de repressão e preconceito. A dimensão real do erotismo humano foi tão menosprezada ao longo da história que o sexo passou a ser tratado como algo doentio, quando é exatamente o oposto: é uma fonte de prazer e de saúde. Estudos científicos já identificaram vários benefícios para quem pratica o sexo regularmente:


Melhora da atividade cardíaca
Acredita-se que os hormônios liberados durante o ato sexual, como a testosterona, ajudem a proteger o coração.


Aumento da resistência à dor
Durante o clímax feminino são ativados os centros analgésicos do cérebro médio, que ordenam a liberação corporal de endorfinas e corticóides, capazes de atenuar dores de cabeça e na coluna ou as provocadas por artrite.


Fortalecimento do sistema imunológico
A atividade sexual regular contribui para a produção de certos anticorpos e imunoglobinas que ajudam a combater as infecções.


Efeito antidepressivo
Pessoas satisfeitas com a vida sexual são menos vulneráveis a sofrer depressão, tanto por razões psicológicas quanto químicas.


Perda de peso
O ato sexual é um exercício anaeróbio que consome 200 calorias, a mesma quantidade que se queima em meia hora de academia.
Por mais que o sexo contribua para aumentar a expectativa de vida, a maior parte das pessoas nunca associou sua prática à manutenção da saúde, como se faz em relação aos exercícios em academia ou aos cuidados com a alimentação e o sono. Hoje já é consenso, no entanto, que sexo e qualidade de vida andam juntos, tanto que a divisão de saúde mental da Organização Mundial de Saúde (OMS) passou a considerar o exercício da sexualidade como um parâmetro para medir a qualidade de vida.
Apesar de todas as possíveis causas psicológicas para os problemas sexuais – que incluem depressão, estresse, experiências anteriores frustrantes e excesso de pressão no trabalho –, os especialistas estão cada vez mais atentos ao fato de que razões físicas também são freqüentemente responsáveis pela queda de desempenho entre as quatro paredes. As alterações percebidas podem ser indícios de problemas de saúde, como complicações cardiovasculares e disfunções no sistema nervoso, endócrino ou circulatório, além de infecções genitais, intervenções cirúrgicas e defeitos congênitos do aparelho reprodutor. Há, por exemplo, a relação comprovada entre disfunção erétil e algumas doenças: 46% dos diabéticos e 33% dos hipertensos têm dificuldade para manter a ereção.
Entre os motivos que fazem com que os males do amor não cheguem aos consultórios dos especialistas com a freqüência necessária se incluem medo, pudor, vergonha e desinformação. Uma pesquisa do Projeto Sexualidade, da Universidade de São Paulo (USP), revelou que apenas 5% das mulheres e 7% dos homens com dificuldades sexuais fazem tratamento. Ela mostrou também que o maior receio dos brasileiros em relação a sexo é não satisfazer o parceiro – alternativa apontada por 56% dos homens e 45% das mulheres, um índice superior ao medo de adquirir doenças sexualmente transmissíveis. “As pessoas ficam tão preocupadas em ter um bom desempenho sexual que acabam deixando o próprio prazer de lado”, diz a coordenadora da pesquisa, a psiquiatra Carmita Abdo.
Os homens parecem ser mais suscetíveis a essa preocupação: 37% deles têm medo da ejaculação precoce, mas só 19% das mulheres citaram o temor de que isso ocorra durante a relação; e 31% dos homens assinalaram a perda de ereção, um item apontado por apenas 4% das mulheres (leia mais na pág. 64). Nos consultórios, muitos homens dizem se sentir pressionados pela postura cada vez mais crítica das mulheres quando o assunto é sexo. “A superficialidade das relações é um fator que tem atrapalhado a performance sexual”, diz Marzano. “Está faltando o jogo da sedução que prepara para o ato sexual. É preciso sentir o desejo fluir pelo corpo, obter uma excitação que não fique restrita à área genital.”


Os mecanismos do desejo
Tanto no homem quanto na mulher, o desejo é instigado por estímulos no cérebro que podem ser acionados por diferentes gatilhos, desde os mais sutis, como pensamentos e carícias, até os mais explícitos, como um vídeo pornô. Esses estímulos agem em uma região do cérebro chamada diencéfalo, que, ao mesmo tempo em que inicia o processo de interesse e excitação por intermédio do hipotálamo, convoca o sistema límbico para inibir os impulsos sexuais quando não forem convenientes.
Esses mecanismos são, no entanto, apenas a parcela animal e instintiva da sexualidade humana. Quando os estímulos gerados no circuito neurológico arcaico passam ao córtex cerebral, são influenciados por emoções, fantasias, desejos, ritos, medos, censuras, tabus, costumes e condutas aprendidas e impostas ao longo da vida. Os sinais voluptuosos gerados no cérebro viajam então pela medula espinhal para orquestrar uma verdadeira sinfonia erótica. Os hormônios sexuais e um conjunto de neurotransmissores libidinosos acompanham os estímulos elétricos que estão na origem da atração erótica.
Não há dúvida de que o sexo muitas vezes é bloqueado diretamente na fonte – ou seja, no cérebro. Determinadas situações relacionadas a experiências do passado podem se integrar à personalidade do indivíduo e influenciar, a médio e longo prazo, a deterioração de sua vida amorosa. Muitos dos problemas do gênero decorrem da falta de educação sexual, tanto dentro de casa como nas escolas, uma situação que contribuiu e ainda contribui para a difusão de mitos perniciosos, como o de que a masturbação é prejudicial (provoca espinhas, emagrece ou até enlouquece), que o tamanho do pênis é decisivo para o grau de prazer na relação, que a mulher nunca deve tomar a iniciativa na paquera e que os homens são infiéis por natureza.


E o viagra feminino?
Durante a excitação sexual, a força com que o sangue entra nos “corpos cavernosos” do clitóris e do pênis é regulada por uma seqüência química da qual participam duas enzimas: a óxido nítrico síntase, que produz o neurotransmissor óxido nítrico, e a adenilato ciclase, que faz o mesmo com a guanosina monofostato cíclica, ou GMPc. No homem, cabe ao neurotransmissor óxido nítrico, ajudado pelo GMPc, incitar e manter o mecanismo vascular responsável pela rigidez do pênis. Essa molécula é degradada por uma enzima chamada fosfodiesterase do tipo V (conhecida pela sigla PDE 5), responsável pela perda da ereção. O conhecimento desse processo permitiu o desenvolvimento da última geração de medicamentos contra a disfunção erétil masculina, como o sildenafil (Viagra), o tadalafil (Cialis) e o vardenafil (Levitra). Todos inibem a ação da PDE5. Os experimentos, contudo, têm demonstrado que esses medicamentos não funcionam nas mulheres. Há quem já tenha lançado a suspeita de que atacar primeiramente o problema masculino foi uma decisão premeditada da indústria farmacêutica, à qual não interessaria resolver o problema dos dois gêneros ao mesmo tempo. Dessa forma teria a oportunidade de repetir, com as mulheres, os resultados obtidos com a comercialização dos medicamentos contra a impotência masculina.
Ao mesmo tempo que se fala de um cenário em que metade das mulheres enfrentaria disfunções sexuais, uma linha de pesquisadores afirma que os altos e baixos do apetite sexual feminino são normais. “A inibição do desejo sexual em muitas situações é uma resposta funcional de mulheres que sofrem de estresse ou de cansaço”, diz John Bancroff, diretor do Instituto Kinsey, da Universidade de Indiana, EUA. “Seria preciso combater em primeiro lugar esses fatores.” Uma equipe de psiquiatras do Royal Free Hospital School of Medicine publicou, em 1997, um estudo que levou à conclusão de que apenas 2% das mulheres sofriam realmente de disfunções sexuais.
Independentemente de as disfunções terem origem orgânica ou psicológica, os especialistas afirmam que 95% dos casos femininos já podem ser tratados com eficácia. Entre os homens, essa taxa beira os 100%. Não há razão, portanto, para passar longe dos consultórios dos especialistas.

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