sexta-feira, 6 de março de 2009

'Quem quer ser um milionário?' mostra por que a Índia está na moda


Entre outros muitos prêmios, longa-metragem levou oito Oscars.

Ronaldo Pelli Do G1, no Rio

Não é necessário fazer muito esforço para perceber que a Índia está na moda. Para nós brasileiros, o principal responsável é a novela “Caminhos das Índias”, claro. Porém, no mundo inteiro, as pessoas começam a entender que a Índia tem sáris coloridos e uma tradição milenar, mas vai além disso. O último Booker Prize, principal prêmio literário em língua inglesa, por exemplo, saiu para “O tigre branco”, do indiano Aravind Adiga. Mas o ápice dessa onda é, até agora, “Quem quer ser um milionário?”. Um filme que se passa inteiramente em território indiano e arrematou, entre outras muitas premiações, oito Oscars, inclusive o de melhor diretor e filme.

E não é difícil entender por que a Índia está em voga com “Slumdog Millionaire” (no original em inglês). O filme, que estréia nesta sexta-feira (6) nos cinemas aqui do Brasil, assim como o país, encanta porque pode ser interpretado de diversas maneiras. Dirigido por Danny Boyle (de “Trainspotting”, entre outros), “Quem quer ser um milionário?” narra a saga de Jamal, um garoto pobre de uma das maiores favelas da Ásia, que trabalha servindo chá em uma companhia de telemarketing e tenta reencontrar sua amada Latika (interpretada pela bela Freida Pinto).

Ao longo da história, ele e o seu irmão, Salim, presenciam um ataque de extremistas religiosos, passam por um abrigo em que crianças são forçadas a mendigar, e pelo Taj Mahal, onde aprendem o que é a típica malandragem indiana. Já crescidos, os dois voltam para Mumbai por causa de Latika e se desentendem. Como última alternativa para encontrá-la, Jamal (interpretado na fase adulta por Dev Patel, com a cara de inocente que o personagem exige) se inscreve em um programa de TV de perguntas e respostas coordenado por um apresentador sem escrúpulos (o ótimo Anil Kapoor). Se chegar ao fim do show, ele leva para casa um prêmio de 20 milhões de rúpias (algo próximo a R$ 1 milhão).

Mas as interpretações – e as semelhanças com o Brasil – não acabam aí. “Slumdog...” fala sobre sorte, destino, amor, conflitos familiares, tudo num ritmo que lembra uma outra história envolvendo um rapaz pobre que luta para sobreviver em uma favela de um grande país. Alguém falou “Cidade de Deus”? Pois o próprio diretor Danny Boyle já admitiu ser um grande admirador do filme do diretor Fernando Meirelles. A produção, inspirada no livro “Sua resposta vale um bilhão”, de Vikas Swarup, mostra ainda a Índia sem os estereótipos místicos nem as disputas de castas que estamos acostumados a associar ao país. Mas investe em outros, como a pobreza e o romantismo ingênuo. Boyle também presta homenagem à Bollywood, a indústria do cinema de Mumbai, com direito a dança e música, “Jai ho”, algo como “que haja a vitória”, responsável por outro dos Oscars do filme.

Essa mistura de baixo orçamento entre Bollywood e Hollywood feita por um diretor inglês com influências de um filme brasileiro retratando o mais tradicional dos temas, o amor, tem feito sucesso no mundo inteiro. Talvez seja essa a explicação para a recepção de “Quem quer ser um milionário?”. Mostrar que a Índia é um país único, singular, mas que aceita qualquer interpretação. Ou como explicou Glória Perez, autora da novela das 20h, que disse ter recebido um conselho para escrever sua novela: “tudo o que você fizer saiba que na Índia tem”.

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